A Não Editora segue surpreendendo. Tem nove livros, li dois e ambos são bons. O professor de botânica é um divertido e maldoso mergulho no ambiente acadêmico. Dividido em departamentos que mais parecem pequenos cestos de ofídios onde cada um de seus membros espreitam a mínima desatenção do outro, armando parcerias e inimizades aqui e ali, planejando viagens (muitas) e sacanagens, tais cestinhos cheios de emoções são bons locais para o exercício da ficção.
No quesito saco cheio, o professor de Samir está próximo do velho catedrático Nicolai Stiepánovich de Tal, da novela Uma história enfadonha, de Tchekhov, mas sua fama e modus operandi é muito diversa. Perto de uma vulgar aposentadoria, ainda luta por seus bolsistas e enfrenta seus inimigos, no caso Rogério Mourão, que o ameaça com a perda de seu bolsista, um jovem na verdade indiferente à biologia e que tem o discutível mérito de suportar o mau humor do chefe. Durante uma visita a uma reserva ecológica, Samir nos prega um elegante susto ao fazer de conta que a trama se tornará um whodunit, mas a ameaça não se cumpre. Ainda bem.
O livro gruda. Tanto que foi lido na tarde de 23 de dezembro apenas com três interrupções para que este leitor bebesse a água necessária à sobrevivência na insuportável canícula porto-alegrense.