A Cavalgada do Mar é um evento no qual 3 mil cavalos são levados a um passeio de 240 Km pelo litoral plano, igual e sem graça do Rio Grande do Sul. Na falta dos interessantes acidentes geográficos que fazem a alegria de veranistas normais, as praias gaúchas oferecem seu vento e, durante esta época, um bando malcheiroso de cavalgaduras. O veterinário Leandro Basile diz que um equino adulto produz, por dia, em média, 16 Kg de excrementos sólidos. Multiplicados por 3 mil cavalos, chegamos a 48 mil quilos. Multiplicados pelos nove dias da Cavalgada do Mar, serão 432 mil quilos de esterco espalhados pelas areias das praias gaúchas. Pena que tal quantidade de esterco não configure um acidente geográfico, apenas ecológico. Aliás, acidentes são a última novidade das cavalgadas: têm ocorrido mortes de cavalos, às quais farei referências adiante.
Só os dados fecais já seriam suficientes para extinguir definitivamente a estupidez da cavalgada, mas o que são 432 toneladas de cocô bem ao lado do mar quando comparadas com a necessidade de aparecer da, por exemplo, secretária de “cultura” Mônica Leal?
Por favor, cliquem aqui a fim de saber as exatas dimensões da boçalidade. São nove dias de cavalgadas por nossas belas praias. Porém, este ano, já houve duas mortes de cavalgaduras, infelizmente das que ficam embaixo. Por quê? Ora, porque estes são tradicionalistas conceituais, de fim-de-semana e nunca trataram com um animal desses. Então, ignoram o fato de um cavalo precisar de 80 litros de água não salgada por dia. Mais: não sabem que cavalos descansam soltos e, ah, que precisam de preparo físico. Do alto de sua autoridade e capacidade expressiva, presidente da Fundação Cultural Cavalgada do Mar, Vilmar Romera, dá-nos uma tranquila noção do problema:
– Que culpa eu tenho se tu matas o teu cavalo? Morreram dois, o que é natural. Se morrerem 15 cavalos, não tenho nada com isso. Quem sou eu para dizer que alguém não pode participar? O animal tem de ser preparado. Esse é um problema do dono do cavalo. É como mulher. Se tu não tratares bem, vais levar guampa.
Hã?
Interessante a comparação entre cavalos e mulheres. Bem feminista. não? Ah, querem saber quais são as atividades às quais que se entregam as cavalgaduras — as que andam sobre os animais durante a cavalgada, ops…, me enrolei. Em resumo, sabem o que fazem os animais de cima? Vejamos a declaração de um deles:
— É um passeio. A gente come, bebe e dá risada.
Sem dúvida, é tudo muito cultural. É como ir ao shopping assistir uma comédia. Uma vez, minha filha, que conhece cavalos como poucos, quis participar de uma dessas coisas. Seu professor de hipismo veio falar comigo:
— Não deixa, Milton. São um enorme bando de bagaceiros. Rola de tudo.
OK, é uma atividade cultural honesta… Demonstra a falta de substância do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Hoje haverá um protesto contra a cavalgada em frente ao Palácio Piratini. Espero que Yeda relinche e corcoveie para os participantes. Afinal, um assunto de tamanha importância… Mas, sabem, eu gostei do estilo do Sr. Vilmar Romera. Então finalizemos este texto que fala do cerne da alma gaúcha com mais uma declaração objetiva e lúcida de Vilmar:
— Cavalo só morre por falta de cuidado. Tem cara que traz para a cavalgada animal que ficou três meses comendo dentro de cocheira. Tem gente aqui que nunca viu cavalo. Que só sabe diferenciar o cavalo de uma vaca por causa da guampa – afirma.
Interessante.