Bloomsday

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Agora, na volta da UTI (ver post abaixo) lembrei que hoje é o Bloomsday.

Desesperado para unir-me à comemoração, faço meio que uma transcrição — com muitíssimas alterações — do texto da Wikipedia.

O Bloomsday é um feriado comemorado em 16 de junho na Irlanda em homenagem ao livro Ulisses, de James Joyce. É o único feriado em todo o mundo que um país dedica a um livro de ficção, excetuando-se a Bíblia.

O Bloomsday é festejado pelos amantes da literatura em qualquer lugar ou língua. Trata-se de uma iniciativa dos leitores de Ulisses e admiradores da literatura de Joyce. Anualmente, eles relembram os acontecimentos vividos pelos personagens de Ulisses por dezenove ruas da cidade de Dublin.

James Joyce

Ulisses relata a “odisséia” do personagem Leopold Bloom durante 16 horas do dia 16 de junho de 1904. Há controvérsias sobre quando o Bloomsday começou a ser comemorado. Alguns especialistas indicam 1925, três anos após o lançamento do livro, a década de 1940, depois da morte de James Joyce, enquanto a hipótese mais aceita indica é que foi em 1954, na data do quinquagésimo aniversário do dia retratado em Ulisses.

Joyce escolheu o dia 16 de junho para ser imortalizado em sua obra porque foi nesse dia que manteve relações sexuais com sua futura companheira Nora Barnacle, à época uma jovem virgem de vinte anos, apesar de a imprensa irlandesa publicar que nesse dia eles apenas “caminharam juntos” pela primeira vez. Na verdade, Nora teve medo de completar o coito e o masturbou “com os olhos de uma santa”, como Joyce relatou em uma carta em que relembrou o acontecido.

James Joyce Piano

É sempre bom lembrar aos tementes a Joyce que Ulisses não é apenas aquele livro de erudição quase inalcançável que afasta algumas pessoas, o romance também é divertidíssimo e perfeitamente compreensível. As minúcias e a complexa teia de referências são importantes, mas podem permanecer semi-entendidas sem esfacelamento de sua essência. Prova de que o mais puro ludus nem sempre está associado à compreensão cabal.

Hoje é o dia de comemorar o duro, engraçado, divertido, pornográfico, sexual e erudito livro de Joyce. Lembremos de Leopold Bloom, de sua mulher Molly, de Stephen Dedalus e de Buck Mulligan. (Lembro agora do final absolutamente arrepiante de Ulisses.) Era isso.

P.S.- O Odisséia Literária, de Leandro Oliveira, faz, como sempre, a comemoração mais completa e adequada.

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8 comments / Add your comment below

  1. Milton, já tentei a leitura de Ulisses várias vezes, mas confesso que existem trechos para mim incompreensíveis. Talvez porque não possuo o inglês à altura que a obra exige. A minha sorte e salvação é que tenho Guimarães:

    “Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
    E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
    Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
    vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
    um crocodilo porque amo os grandes rios,
    pois são profundos como a alma de um homem.
    Na superfície são muito vivazes e claros,
    mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
    como o sofrimento dos homens.”

  2. Comemorei aos pedaços o Bloomday também. Estava em NYC quando era Bloomday e quis ir ver ao vivo a leitrua de Ulysses. Não sei quem er aque euqueria tanto ver mas meuiccerone me desencorajou. Soube que houve divisão do pessoal do rádio e da B’way pela primeira vez. O rádi oficoou com medo de falar os palavrões e o tearo nem me lembro mais. Agora, os irlandeses deram uma banana par ao tratado em Portugal. Coincidência? Não sei.

    Boa noite pra você.

  3. Talvez, por humildade, não fui claro. Mas o quis dizer mais ou menos foi o seguinte:

    CATASSOL
    by Ramiro Conceição

    O poeta fora prometido ao Deus da Vida;
    porém, sem saber, engravidou de poesias
    por ação do espírito humano.
    E o Deus da Vida, seu marido prometido,
    que era justo, não o denunciou
    porque sabia que o artista trazia frutos
    ao seu passado-presente-futuro.

    O poeta concebeu em sua língua
    para ensinar — em muitas línguas —
    sua linguagem estética, política
    e ética.
    E a lira não se quebrou.
    E um catassol cantou:

    “Sou um ruminante cérebro mutante,
    um ser que considera o ser maior que o ter,
    um lento catassol — sobre a leitura —
    que sabe que ler é conceber com ternura.

    Sou uma repetição, uma aliteração,
    Uma especiaria para condimentar iguarias,
    uma hortaliça que plantei em nossa horta.
    Sou homenagem póstuma a estrelas mortas!

    Perdi a hora de tudo.
    Meu relógio marcou todos os fusos.
    Sou a maçaroca no fuso do mundo.

    Cada vez mais, torna-se claro que sou feito
    de outra história.
    Não desta, mentirosa e sem memória.

    Cada vez mais, tenho a certeza
    de que pertenço ao mar bravio
    porque sou um peixe que não pertence a este aquário
    vil.”

  4. O interessante é que Joyce sabia quais as conseqüências de Ulisses para a crítica – muito mais do que para os leitores.
    Ocupa-os até hoje.
    E Finnegan’s Wake é para provocar cefaléias nos tetranetos dessa gente.

    Milton, seu comentário sobre o filme do Shiamalam (em meu blog) escafedeu-se. Ao importar os outros – do meu blog original -, seu comentário desapareceu.
    É só um toque, uma satisfação a ser dada.
    Abraço.

  5. Estava há pouco estudando Romance de 30 e lendo as sinopses dos livros. Quando cheguei no Dyonélio Machado, fiquei fascinada pelo livro Os Ratos. Descobri então que esse tem grande semalhança com o Ulisses, pelo fato de se passar em vinte quatro horas e ser também uma “odisséia” (da banalidade).

    Chegando aqui, me deparei com esse texto. Acho que assim que passar o vestibular enfrentarei meu medo do Joyce e lerei o terrível e assustador Ulisses.

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