Se, como escreveu Michel Laub, Austerlitz é o grande lançamento de 2008, W. G. Sebald já havia comparecido no Brasil com outro extraordinário livro: Os Emigrantes. Trata-se do relato de quatro expatriados numa obra que mistura gêneros habilmente. Cheios de fotografias de família, seus capítulos podem começar como um romance de ficção, tornar-se ensaio para depois virar relato de viagem e ainda autobiografia, tudo no tom de uma conversa outonal ao pé do ouvido. Este híbrido é absolutamente envolvente.
Vou falar sobre um episódio suscitado por Os Emigrantes. Estava lendo o livro na cama enquanto a Claudia via TV sem som a meu lado, certamente pensando em outra coisa, como sempre faz. Então, resolvi ler em voz alta um trecho para ela e, quando dei por mim, estava lendo há duas horas. A Claudia tinha passado a costurar e não queria que eu parasse. Minhas qualidades de locutor são apenas aceitáveis, minha voz não é nada boa, portanto acredito que esta cena ao estilo do século XIX foi gerada principalmente pelo crescente interesse dos dois nesse cara que morreu, jovem e estupidamente, num acidente de carro em dezembro de 2001. Sebald sofreu um enfarto enquanto dirigia. Não sei de detalhes, mas dizem que morreu do acidente, não do enfarto… OK.
As pessoas quase não lêem mais livros uns para os outros, este ato de amor e consideração ficou extraviado em alguma esquina do século XX, fora de nossas salas e quartos atuais; porém alguns textos nos permitem recuperar esta delicadeza. Qualquer hora destas vou pegar de novo um bom livro, com uma boa “conversa narrativa”, e entregarei a minha amiga todas as meias furadas, calças de bolsos rotos e camisas com botões caídos que tiver…
Bom, afastei-me do Sebald, mas acho que ficou claro: é um baita livro.
Milton,
um aviso.
Aterrissou em Porto Alegre um grupo da SWAT, outro da Elite da Tropa, aquele mercenário americano do Iraque (reportagem da Veja), o exército colombiano, um esquadrão da FARC, o MOSSAD.
Sabemos onde teus filhos estudam e tua esposa trabalha. Estudamos e conhecemos todos os hábitos dos teus familiares e, pior, teus maiores medos.
Não falte um segundo sábado……
Il capo
Não, já está até pronto o post. Só espero que o blog permaneça no ar…
Calma, padrinho.
Milton,
Os Emigrantes é um grande livro mesmo. Você descreveu bem o tom: conversa outonal ao pé do ouvido. Ler um para o outro é algo que deveria mesmo ser retomado. Tive uma experiência muito interessante uma vez com Estação no inferno, do Rimbaud. Experimente, porque a sua mulher vai gostar
Um abraço,
Marcos
Li o Rimbaud e conocrdo com o Matamoros
Branco
Eu adoro ler em voz alta para os outros. Acho que são as reverberações dessa atriz interrompida 😉
Aqui na Lagoa nós temos a Barca dos Livros, um projeto da Sociedade dos amantes da leitura. Eles mantém essa prática… mas eu acho esquisito! … E NUNCA leio, nem uma poesiazinha sequer – MORRO de vergonha!
Beijo, Flávia
Bom, poesia eu não leio, só prosa.
Querido Milton, ontem eu estava lembrando próprio desta nossa noite e em quanto temos que repeti-la. Até comprei algo que amas para nos lembrar disso. Infelizmente não tinha a dica sobre Rimbaud ou o teria acrescentado ao que encontrei, pode ser que o faça e já chegue em Porto Alegre hoje com nosso programa pronto.
P.S.1: Eu havia jurado que nunca mais comentaria os posts do Milton enquanto ele estivesse neste “navio”.
P.S.2:Isto só vai como post scriptum porque não é o mais importante – e nem deve sê-lo – mas sem isto não posso enviar o comentário.
Romântica e rara, ler “para o Outro” é, como vc disse, ato de amor. Creio que a necessidade de fazer uma leitura em voz alta (não muito, fica grosseiro) deve transformar o leitor, pouco a pouco, em um intérprete que incorpora o narrador, até mesmo os personagens (quando há diálogos). Quem escuta, igualmente, se deixará penetrar pela atmosfera do tema e passará a fazer parte da história. Bonito isso, Milton.