Afirmações radicais e caso notável

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1. Elisabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy são o maior casal da literatura e os diálogos de Jane Austen são tão perfeitos e significativos quanto os de Tchékhov.

2. Carro Clonado. Resolvo dar uma olhada em nossas multas de trânsito e descubro que estou limpo, limpo até demais. O site do DETRAN do Rio Grande do Sul diz que meu carro está em um depósito da cidade de Esteio (RS), vítima de um acidente. Olho pela janela e vejo o carro inteirinho ali embaixo, quieto, passivo, aguardando minhas ordens. Ligo para a cidade de Esteio e relato-lhes o fato. A resposta do atendente é simples: seu carro foi clonado, isto é, roubaram um carro com as mesmas características do seu e colocaram uma placa igual à sua nele. Para completar, o ladrão envolveu-se em um acidente. Pergunto-lhe sobre o que devo fazer e ele me diz que é para eu registrar uma ocorrência. Enquanto isto, fico andando por aí com um carro que está teoricamente detido em poder de perigosos meliantes. Eu, no caso. Interessante. Se eu for preso, mostrem este blog para os carcereiros, tá?

3. Sou um chocólatra incondicional. Como um lobo em relação a suas vítimas, posso sentir o cheiro de chocolate há quilômetros de distância. Tal percepção só aumenta quando sei que estou um pouco acima do peso ideal. E a Bárbara fica passando na minha frente com… Peraí, vou chamá-la.

4. Gozado, vi num sebo um livro do grandíssimo escritor alemão Heinrich Böll, O Anjo Silencioso. Não conhecia este. Casa Sem Dono e Opiniões de um Palhaço, ambos lidos em edições espanholas, funcionam como grandes clássicos dentro de minha tantas vezes equivocada cabeça. Nem é Páscoa e vejo Böll ser acometido de ressurreição. Folheio uns livros de Graham Greene: um enorme narrador e cronista do século passado. Houve tempo em que havia católicos relevantes. E Greene era popular. O preconceito de alguns gosta de colocar quaisquer escritores muito lidos como menores. Greene não cabe neste modelo. Dia virá em que todos elogiarão as maravilhosas novelas “sem-Maigret” de Georges Simenon, outro escritor excessivamente lido… O gato, Sangue na neve, O homem que via o trem passar… O Charlles Campos — comentarista habitual deste blog — citou-os como obras-primas. É uma afirmação radical e totalmente verdadeira.

5. Não, hoje eu não estou moderado. Cadê o chocolate que tava aqui, caralho?

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16 comments / Add your comment below

  1. Descobri recentemente que não sou chocólatra. Pelo menos, não tanto quanto eu pensava. Passei 10 dias no meio de pouca comida e muito chocolate. Todos á minha volta se empanturravam e eu sonhava com um feijãozinho…

  2. Milton, Sangue na neve é maravilhoso, talvez o melhor livro do Simenon. Segundo Paulo Hecker Filho, melhor que Brighton Rock, do Greene, que encara o mesmo tema, menina inocente apaixonada por um meliante, porque Simenon nunca se deixa levar pela retórica, por mostrar menos sua dor, é mais íntegro como narrador. Outro sensacional dele é Os fantasmas do chapeleiro. As andanças finais do assassino pela madruga sempre me levam à mesma pergunta: como Simonon conseguiu escrever isso? É assombroso.

  3. Isso é provocação! Tu citastes (ôpa! vou controlar a segunda do singular neste comentário) dois autores que eu adoro, além do Simenon. Eu acho o Greene o romancista perfeito. É de dar inveja que exista um escritor como ele. Seus romances são verdadeiramente vibrantes, inteligentes, e com o alto nível de conflito filosófico que os tornam grandiosos. E vendeu como poucos. Vai ser lembrado e lido quando muitos ganhadores do nobel estiverem esquecidos. Os Farsantes, Nosso Homem em Havana, Fim de Caso, Monsenhor Quixote (esse,especialmente, eu levo no coração, e recomendo ao enólogo do Nunes a sua leitura, se já não o tiver lido_ o prefeito de uma cidadezinha do interior da Espanha e o monsenhor do título tomam vinhos a todo momento, mais que os personagens do Fonseca), Viagens com Minha Tia, O Condenado… todos maravilhosos e instigantes. A editora Globo vem tratando Greene à altura, lançando sua bibliografia completa, até livros que eu não conhecia, como um de memórias sobre o general Torrijos. Mas há outros escritores católicos muito bons Milton, o François Mauriac, o Chesterton e o Giovanni Papini, mas isso é quase outro assunto.

    Cara, o Böll, injustamente em processo de esquecimento, é ótimo. Lembro ter lido um conto dele em uma biblioteca de Minas, que talvez seja um dos melhores a retratar o drama da Alemanha no pós-segunda guerra. Casa sem Dono, e Bilhar à Onze e Meia, dois putas romances.

    Tem muita coisa boa do Maigret! Pura diversão!

    Atendendo ao chamado de “sobre qualquer coisa” do blog, um chocolate que eu gostava muito era o Milka, desaparecido por completo daqui. E a gente fica sem saber a razão, será que não houve uma história interessante sobre tramóias empresariais ou quebra de caixa dois a algum político beneficiado? Mas pelo visto foi só a insuficiência de açúcar para o paladar nacional que deportou a fábrica.

    Também passei por uma situação de clonagem de um carro que eu tive aqui. Mas, depois de falar de chocolate, e nessa sexta-feira radiante que se avoluma, não vou quebrar a adequação de um aforismo do Nietzsche:” da felicidade, só a conhecem as bolhas de sabão e as borboletas”.( Porém, um conselho: cuidado com os oficiais da lei e o lado real em que estão neste assunto)

    Abraço.

    (Eu tentei, mas não vou conseguir. De tudo de espantoso em seu post ontem, nada mais chocante do que o Nunes ter ELOGIADO um comentário. Os bravos também choram)

    1. Caro Charlles,

      Meu elogio foi torto, não percebestes?

      Mauriac é aquele dum Thèrese Duscaralhoux? Creio que sim. Gostei desse livro: é bem um Balzac expurgado do aspecto caudaloso, a tratar das mazelas do imaginário franc~es pequeno-aburguesado, tomado pelo culto à propriedade e lucro.

      Eu acho que os patos conhecem a felicidade. Por isso andam a dançar. Mas não sou veterinário.

      Tem um recadinho pra ti na resposta ao Milton. E lá vou eu trabalhar.

      1. É. Ontem estava com pouco tempo e não havia lido o restante do seu comentário.

        A felicidade dos patos deve ser de outra origem, pois enquanto balançam o traseiro saem dizendo “qué, qué, qué”. Daí a expressão “pagar o pato”(hahaha, entendeu, entendeu?)

      1. Para o Milton: os contos do Padre Brown são cheios de imaginação e humor. Um dos escritores preferidos do Borges.

        Para o Nunes: e eu que achava que era o ornitorrinco.

  4. Diabos, quem são Elisabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy?

    Essas lamúrias que envolvem automóveis não me atingem; não sei dirigir, não possuo automóvel (não, uma não é consequência lógica do outro, pois conheço gente que não sabe dirigir e tem automóvel), e acho graça dos problemas mecãnicos, pneumáticos e securitários, bem como de todos os outros relacionados aos veículos. Saber dirigir equivale a colocar mais uma carga pesada nas costas, com todas as responsabilidades decorrentes; de necessidade para a responsabilidade civil, e dessa à familiaridade que produz distorções divertidas, do tipo “esse cara cuida melhor do carro do que da própria mulher”; isso muitas vezes é fato fatíssimo.

    Gosto de chocolates, mas sem obsessões. Uma que tens eu já perdi: estar acima do peso ideal. Antes, ficava feliz quando estava nele. Agora, sinto-me mais feliz depois que ultrapassei-o em muito. Com isso, não me preocupo mais com a forma física; os outros que desviem, medrosamente, de mim.

    Estou me devendo a leitura de Heinrich Böll, cujo Opiniões de um Palhaço está à venda em algum lugar do Rio de Janeiro, numa edição recente.

    Avise ao Charlles que viver no Brasil e ver a tal “realidade” mudar ao sabor das conveniências políticas e midiáticas é algo como estar em eXistenZ, o filme/jogo de David Cronenberg. Se ele não viu, procure em DVD e veja. Goiás e cercanias passarão a fazer todo sentido, isto é, nenhum.

    Hoje é sexta; como sempre, estou puto da vida, que é meu jeito de ser moderado. Às cinco da tarde me transformarei, principalmente se um anjo feminino de feições orientais passar diante dos meus olhos, me enchendo de esperança e fé no meu destino de brasileiro. Saravá, pai meu, com sotaque agudo, chiadinho e sexy de doer os ovos.

    1. Não vivo sem carro, mas o utilizo moderadamente. Me irrita dirigir muito na cidade. Gosto de estradas, já fui de Porto Alegre à Búzios em 2 dias, dirigindo sozinho.

  5. Desculpe a sinceridade mas devo dizer que te achava muito pedante, engraçado ás vezes… mas pedante, como diria Miss Austen… e por falar nela, só de você conhecer os personagens do seu principal livro (Orgulho e Preconceito), não vejo mais a leitura do seu blog como inútil, embora não admita deves gostar dos diálogos de Elisabeth Bennett e Mr Darcy… afinal ela não seria uma das principais autoras inglesas, sendo constantemente objeto de estudo acadêmico, á toa.

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