Outra pergunta: vocês sabem quando a gente está acordando e volta a dormir? Pois bem, ontem, nesta circunstância, eu sonhei que uma mulher veio me dizer que eu era o pai de sua filha. Segundo ela — uma completa desconhecida, bem feínha — a criança tinha sido filha de um Carnaval (eu nunca pulei Carnaval, para mim ele é apenas um feriado dos bons) e da sarjeta, pois tínhamos transado num beco de Salvador. Cada vez eu achava a história mais engraçada e então fui conhecer minha nova filha. Tinha uns três anos, era loira, de olhos azuis e conseguia ser mais feia do que a mãe. Eu fui maldoso e disse que meus outros filhos, os verdadeiros, eram lindos. Ela desconheceu minha declaração, mas… A menina estava brincando com a Boneca Assadinha!
Então, eu tive que me envolver. Como ia ficar quieto se a guria embebia água quente num paninho e fazia a boneca chorar desesperadamente enquanto passava a coisa em seu púbis ultrarealista e depois a fazia rir quando passava um pano com água gelada? Começou a me dar um desespero e eu, com aquela facilidade dos sonhos, disse à mãe:
— Tudo bem, é minha filha se tu sumires. Vou dar uma educação a ela.
Aí, novamente com a facilidade dos sonhos, peguei a menina, levei para a casa e vi que ela estava toda machucada. Nada de ordem sexual, mas estava toda roxa, tinha tomado porrada mesmo. Fiquei com tanta raiva que fui ao Conselho Tutelar logo após o banho. Mostrei a menina aos conselheiros que foram buscar a mãe de camburão. Acharam-na logo, claro, era um sonho. Só que a mulher veio como louca. Parecia tomada pelo demônio, era uma Linda Blair loira: começou a bater nos conselheiros e já estava me enfiando uma faca no peito. Acordei.
Pesquisa: a Boneca Assadinha custava R$ 50,00 e era fabricada pela Cotiplás, de Laranjal Paulista (SP). Com assaduras pelo corpo, ela chorava quando recebia água quente sobre as mesmas e ria quando recebia água fria.
Até aí tudo bem. O problema é que os sensores que faziam a boneca reagir estavam localizados na região genital. A promotora da Infância e da Juventude de Panambi (RS), Caroline Mottecy de Oliveira, conseguiu proibir a venda da Assadinha em sua cidade e levou sua decisão ao resto do país.
Atraídas pelas reações da boneca, as crianças concentrariam seus atos de estímulo naquela região. Isto atrapalharia o desenvolvimento psicossexual dos pequenos. Nunca vi a boneca. na época, a psicóloga Roberta Haushahn declarou:
— A criança pode pensar que, se para uma boneca é interessante tocar na região genital, para ela ou o coleguinha também pode ser.
Mas que frases disse a psicóloga, hein? Nem vou analisar. Já a mãe de uma menina de 10 anos, achava que quanto mais as crianças conhecessem seu próprio corpo, melhor. A Cotiplás iria recorrer da decisão, mas talvez um advogado esperto tenha dito aconselhado melhor a empresa.
A mim, o nome Assadinha apenas remete a antigas e gostosas práticas comunistas. Ah, as vitelas… Afinal, sempre fui um comunista autêntico, swiftiano.
Tentei com sinceridade puxar pela memória, mas eu não lembro dessa boneca. De que ano é?
Milton, veja só que paralelismo você foi encontrar no seu sonho:
– Sabia que Panambi não tem carnaval? Imagino que seja a única cidade do Brasil que não tem baile nem festa na rua e onde a terça-feira gorda não é feriado.
É mesmo? Pô, deviam ao menos fazer um festival de blues!!!
Acho que não aconteceria… Um casal de amigos meus morou lá por alguns anos. Meu amigo, engenheiro, fez entrevista de emprego em uma indústria que tem clientes no país inteiro. O gerente de pessoal era pastor. Perguntou sobre família, bons costumes e religiosidade ao meu amigo. Sobre engenharia e conduta profissional, quase nada.
Aconteceu que fui visitá-lo. Eu sou a favor do rigor contra infratores de trânsito, mas o que vi foi meio assustador. Sabe aquela placa que toda cidade do interior tem “Bem vindo à São Lourenço da Aurora”. Pois, no lugar dessa, a placa dizia: “Panambi é cidade ordeira: TEM RADAR!”.
Para não dizer que só falei mal. Houve uma enchente que atingiu a casa do meu amigo e a solidariedade do povo foi comovente.
Minha sobrinha (hoje casada, com uns 25 anos) costuma se bolinar quando tinha 6 meses de idade; isso durou até aos 3 anos de idade. Não percebo nela sequelas de suas diversões infantis… o ludismo erótico é traumático?
Pois é. Eu já li e ouvi de psicólogos que é perfeitamente normal. O anormal é quem inventou a boneca.
Contigo foi sonho, comigo foi piada… Quando eu era garoto, uma vez ligaram lá em casa e disseram pra minha mãe algo do tipo “seu filho fez um bebê ninim”. Nunca imaginei que minha mãe teria tanta presença de espírito (nunca teve…), mas ela respondeu, rindo: “ele não faria bebê em alguém que diz ‘nimim'”. Depois passou a semana inteira tirando sarro da minha cara.
Mas que confiança que ela tem no filho… A minha… Sei não…
Ah se eu fosse psicanalista… deitaria e rolaria com a “assanhadinha”, digo, com a assadinha, quer dizer, com o sonho sonhado por você. Daria para fazer várias interpenetrações, ops!, interpretações, fundamentadas na mais pura sacanagem, perdão, lacanagem, outro perdão, lacanês…
Não me lembro dessa boneca.