Montevidéu e Buenos Aires

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Muitos gaúchos conhecem ambas. Para nós é simples ir a Montevidéu: há passagens de avião por R$ 200,00 para Montevidéu ou podemos ir de carro ou ônibus. A estrada é reta, um convite ao sono, mas vale a pena. Ir a Buenos Aires é pouca coisa mais complicado. O avião é mais caro, o ônibus é inviável — faz o contorno por Uruguaiana em vez de descer direto — e é uma maravilha ir de carro visitando ambas as cidades, apesar da travessia entre os portos ser bastante cara se você não puder deixar seu amado veículo numa garagem de Colonia (há muitas, são seguras). Não sei quanto custa o Buquebus hoje, mas lembro ter consultado e ter desistido do carro. Bem, chega de bancar o guia turístico!

Buenos Aires é orgulhosa e, gostemos ou não, tem razões para sê-lo. Afinal, a cidade é muito bonita e tem o perfume do tango em cada esquina. O tango não é o folclore cultivado dentro de uma cidade cheia de roqueiros e rappers, o tango é vive, desenvolve-se e é ouvido em todos os cantos, turísticos ou não. É aquilo que Piazzolla queria chamar de “Musica Popular Contemporánea de la ciudad de Buenos Aires” na época em que lutava contra os tangueiros tradicionais. Adoro caminhar tanto no centro como nos bairros de Buenos Aires, não obstante o fato de a cidade não ser exatamente segura. Já fiz caminhadas inacreditáveis pela cidade, uma das últimas de uns 10 Km, com a Claudia, entre as 2 e 4 da manhã. O que fazer se as grandes cidades são lindas vazias, à noite, úmidas de madrugada? A Claudia concorda, mesmo que no final estivéssemos caminhando dormindo, em silêncio, rindo muito de vez em quando, sem motivo. Realmente, não existe companheira de viagem como minha mulher. Topa e se interessa por tudo. O único problema é que não empresto.

Porém, prefiro Montevidéu. É mais próxima de Porto Alegre em tamanho e em espírito, é mais próxima do que seria Porto Alegre se os gaúchos fossem cultos e interessantes, e é mais próxima fisicamente. Pois Montevidéu tem livrarias aos montes na avenida principal. E teatros. E possui um centro ativo, que não vende só baratilhos. É uma cidade que saudavelmente reage contra a padronização dos shoppings. Há “Dias do Centro” nos quais as lojas dão descontos e a gente vai ficando por ali, esquecido da vida sem charme dos shoppings. É tranquila e, OK, menos arrebatadora do que sua vizinha, só que os uruguaios são mais gentis, merecedores de boa pontuação num campeonato de slow life. Come-se barato e maravilhosamente em Montevidéu, principalmente fora do roteiro turístico e ela só perde para Buenos Aires nos táxis, lá incompreensivelmente acessíveis. Outra coisa legal em Montevidéu são os preços dos antiquários. Imagine que dá para comprar um rádio Spica em perfeito estado por menos de R$ 50,00!!!

Vou ouvir o jogo nele, pois hoje estas duas cidades — rivais desde que o samba é samba — se enfrentarão. Nem imagino como ficará a praça que circunda o Estádio Centenário. Haverá um Uruguai x Argentina que poderá ser fatal para um dos dois se o Chile não fizer sua parte. Na melhor das hipóteses, o resultado fará com que um dos países jogue uma humilhante repescagem para poder ir à Copa do Mundo de 2010. Claro, sou uruguaio desde o berço. Mas não gostaria de ver Argentina fora de uma Copa do Mundo. Há sempre algo de escandaloso e dramático nos portenhos… Eles não podem ficar fora da Copa. Ainda mais com aquele técnico de opereta. Eles que joguem a repescagem!

O comentário de Luís Augusto Farinatti sobre Montevidéu merece vir aqui para o post:

Fui só uma vez a cada cidade. E não me perdoo por não ter ido mais. Pretendo corrigir isso em um futuro próximo.

Milton, Montevidéu é, mesmo, a própria slow life. Terei lido em algum lugar que Hemingway dissera que a Espanha era o último lugar civilizado do mundo? Pois agora é Montevidéu.

Fomos até lá de carro, em dezembro de 2007. Passamos por léguas e léguas de campo vazias, e pela estupidez dos mares de eucalipto e pinus da Botnia.

Comemos um filé com chimichurri inacreditável no trevo de Tacuarembó, a cidade das lambretas.

Depois de 2 horas sem cruzar com um único carro, chegamos a um posto de pedágio. A funcionária parou de ler e nos atendeu. Provavelmente foi ilusão de ótica, mas ela parece ter se surpreendido.

Emprego perfeito para uma escritora, comentei com minha mulher.

Fiquei encantado passando ao largo de Durasno. Olhei para as ruas com árvores altas, casas antiquíssimas dando direto na rua e as pessoas colocando cadeiras para sentar na calçada ao entardecer. Parecia minha pequena cidade de infância. É por isso que o Uruguai não vai para a frente. Ele é feito para a memória.

Em Montevidéu, todos andam com garrafas térmicas e as pequenas cuias de mate debaixo do braço. Eu disse TODOS: os velhos, os homens de terno e gravata, as colegiais adolescentes.

Saí do prédio da Universidade, onde estava em um congresso. Entrei na primeira livraria que vi aberta. Encontrei um livro clássico de um grande historiador uruguaio dos anos 80. O rapaz da livraria aproximou-se e me disse: “Gosta do Livro? Quer conhecer o autor?”. E me levou até um canto iluminado, onde um velhinho estava sentado, lendo.

Apontou para o velho: este é o grande historiador. Foi corrigido imediatamente: “já fui… agora apenas assombro livrarias”. Conversamos por mais de uma hora.

Fui ao museu do Torres Garcia e não comprei uma gravura. Sou uma besta. É fato.

Fiquei olhano o Rio da Prata, com minha mulher, que também não negocio. Por horas.

De Buenos Aires não vou falar hoje. Gosto demais da cidade e, inclusive, dos habitantes. Mas hoje se trata de futebol. Aí não tem jeito…

Ah…

E o bisavô da minha mulher era uruguaio. Migrou para o interior de uma cidade da Campanha Gaúcha.

Lá era tido por louco, pois tinha modos estranhíssimos: lia e escovava os dentes. Todos os dias.

Quando começou a dizer que os americanos e russos estavam construindo aeronaves para ir à lua, o povo deu o caso por perdido. Era só esperar o velho arrancar as roupas e começar a jogar pedras nas pessoas.

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47 comments / Add your comment below

  1. Expectativa

    Gastón é uruguaio de Rivera e Montero é argentino de Santa Fé, mas ambos estão há anos no Brasil, como sócios de uma pousada em Bombinhas e de um restaurante em Porto Belo, em Santa Catarina.

    Nenhum deles é aficionado por futebol. Hoje, porém, é diferente, é outra coisa. Gastón e Montero assistirão à peleja entre Uruguai e Argentina pela televisão, depois que Montero se negou a acompanhar Gastón ao Centenário, em Montevidéu, alegando a necessidade da presença de ao menos um patrão por ali, cuidado dos negócios. Mentira, contando ambos com os cuidados contábeis de uma gerente bem remunerada, talvez por isso honestíssima, morena, balzaquiana e sem qualquer atrativo sexual para ambos, por avessos ao sexo oposto e a comemorar cinco anos de relação estável, embora nem tanto fiel. Mas Montero obstinou-se em ficar na pousada vazia, planejando compras para o restaurante que, no final das contas, só abriria no sábado.

    Sandálias de dedo, camisetas e bermudas surradas, ambos passavam por um período de refluxo, como a maré, ou a temporada em baixa. Para piorar, essa partida. Os ânimos nacionalistas, brasa dormida, acesos como os rostos corados dos estrangeiros ainda pouco habituados ao sol.

    Gastón não achou no comércio local uma única camisa da seleção uruguaia; Montero tem a camisa e bandeira argentinas, pretendendo hastear a última num mastro improvisado em frente à praia.

    Nós, que trabalhamos para eles, tememos a dissolução da sociedade, da relação, de tudo. Não entendemos o que está havendo, mas Lourdes, a morena, nos indica que tudo não passa de uma maneira que os gringos inventaram para, se distanciando, propiciarem uma reconciliação, improvável depois do último caso de Gastón, mais grave ainda por ser um ex de Montero.

    São seis e meia, o sol já desapareceu e estamos temerosos. Na praia, a bandeira da Argentina foi hasteada – só que a meio pau.

    (Mais tarde, pouco antes das nove horas, o silêncio na pousada não registra o resultado da partida: empate, Uruguai, Argentina, briga, reconciliação, duplo homicídio, duplo porre ou qualquer outra hipótese mais ou menos tresloucada. Pedimos a Lourdes para dar uma passadinha lá, como quem não quer nada, levar umas contas. Enquanto isso, partimos para a comemoração, sem tanta graça, da vitória sobre a Venezuela e a conquista do primeiro lugar nas eliminatórias, fazendo pouco barulho – o argentino e o uruguaio podem não gostar).

  2. Milton,

    Infelizmente, ainda não conheço Bs. Aires. Não vou a Montevidéu desde 1986. Trago belas porém adolescentes recordações daquela gélida porém aconchegante, tranquila e divertida viagem de férias de julho com meus pais e tios.

    A minha Lu também é uma parceira perfeita para viagens. Não dou, não empresto e não alugo. Também somos afeitos a longas caminhadas e a futricar nos detalhes urbanos. Nossa viagem ao Rio de Janeiro em abril de 2008 foi fantástica: aqueles 12 dias renderam muito mais descobertas do que os 10 meses de moradia (ou morada?) e as seis férias anteriores que passei na Cidade (realmente) Maravilhosa.

    Conheço 16 estados brasileiros e Montevidéu. Preciso viajar mais, tão logo eu consiga uma faculdade de Comunicação pra lecionar (muito provavelmente em uma particular pequena e quase com certeza longe do RS e de SC e talvez nunca em SP e RJ – mercados saturados e com alta rotatividade).

    Mais um texto sensacional. Tanto a Argentina como o Uruguai são simpáticos, pois ambos tem as cores do Grêmio! 🙂

    []’s,
    Hélio

    1. Hélio, espero que consigas logo uma faculdade para lecionar. Não seria de todo inadequado se fosse numa praia a poucos quilômetros dos Aflitos, não?

      Bem, não pense que ignoro o fato de os dois terem as odiosas cores… Porém, ou estou absolutamente maluco ou já vi o Uruguai de vermelho. Estou?

      Abraço.

      1. Se não estou enganado, o uniforme vermelho é o terceiro uniforme da Celeste, ou seja, no fundo, no fundo, são Colorados e por supuesto que vou trocer prá eles.

    2. Milton,

      Sinceramente, não tenho absolutamente nada contra a cor vermelha. Ao contrário das proibições absurdas de ambas as direções de não permitir que funcionários dos respectivos clubes trabalhem com a cor do outro (sim, nossos times fazem isso!) e de arroubos extremistas por parte de ex-atletas (principalmente da época em que ainda se passava no mínimo 2/3 da carreira no clube de formação), dirigentes e conselheiros, eu adoro vermelho!

      Meu time na Inglaterra é o Grêmio europeu, o Liverpool. Assim como o We’ll Never Walk Alone e Até a Pé Nós Iremos são, no mínimo, primos, a tradição de ambos é a de virem de uma cidade importante porém não muito grande e de ganharem títulos de maneira inconcebível para os críticos que só admitem craques. Hoje, os Reds são a casa do meu ídolo atual, Steven Gerrard (ou Stevie G.), que é prata da casa nascido na região e o meio-campista mais completo do mundo. Prefiro ele a um Messi, Kaká ou Ronaldinho no meu time – talvez preferisse um Zico, Maradona, Platini ou Zidane, mas, nos tempos atuais, acho que é a partir de um cara desses que se forma um time decente.

      Na Alemanha, sou Bayern München. Tenho uma queda por simpatizar muito com goleiros “muralha”, zagueiros com categoria e anti-heróis do meio para a frente. Sepp Maier, Franz Beckenbauer, Gerd Müller, Oliver Kahn… Isso explica as minhas preferências por Maradona, Renato Portaluppi e até mesmo – apesar de uma série de pesares egocêntricos e ideológicos – Piquet a Senna na F1.

      Apesar das questões culturais e semióticas, acredito que o espectro apresenta matizes, contrastes, brilhos e sombras que não podem tornar cores como símbolos máximos da virtude ou da degradação. 🙂

      Depois desta longa – e, muito provavelmente, desnecessária explicação – volto ao cerne do texto: o Uruguai já utilizou uma camiseta vermelha reserva em várias oportunidades. A atual é bonita e faz sentido. O que não tem lógica é a camiseta reserva da Alemanha ser vermelha com aquela barra vertical preta no meio e o distintivo dourado: me acostumei com camisa e meias verdes e calção branco quando a Alemanha estava impedida de demonstrar o seu fardamento “corintiano”.

      []’s,
      Hélio

  3. bá, e eu não conheço montevideo.
    quero muito.

    chegaram as putas.
    apaguei tua msg. comprometedora.

    não tenho como retribuir.
    semana q vem vá à impednua. esquece a cláudia por 60 minutos. e acaba com o mito q tu criou na última participação.

    1. Arbo.

      Sempre tive uma incrível sorte para fazer gols. Como em minha última “apresentação” marquei, aos 52, dois gols jogando contra teus amigos sub-30, talvez seja a hora de ficar com a fama…

        1. Hoje, estava com o Ao Mirante Nelson no MSN e ele, que é todo crítico, me veio com essa:

          “então john ford, sergio leone, howard hawks, ernst lubitsch. o QT paga pau pra esses caras todos com muita dignidade. eu saí de cara do filme”.

          Nossa, claro q vou ver. Tu e o mundo estão gostando do filme.

  4. Fui só uma vez a cada cidade. E não me perdoo por não ter ido mais. Pretendo corrigir isso em um futuro próximo.

    Milton, Montevidéu é, mesmo, a própria slow life. Terei lido em algum lugar que Hemingway dissera que a Espanha era o último lugar civilizado do mundo? Pois agora é Montevidéu.

    Fomos até lá de carro, em dezembro de 2007. Passamos por léguas e léguas de campo vazias, e pela estupidez dos mares de eucalipto e pinus da Botnia.

    Comemos um filé com chimichurri inacreditável no trevo de Tacuarembó, a cidade das lambretas.

    Depois de 2 horas sem cruzar com um único carro, chegamos a um posto de pedágio. A funcionária parou de ler e nos atendeu. Provavelmente foi ilusão de ótica, mas ela parece ter se surpreendido.

    Emprego perfeito para uma escritora, comentei com minha mulher.

    Fiquei encantado passando ao largo de Durasno. Olhei para as ruas com árvores altas, casas antiquíssimas dando direto na rua e as pessoas colocando cadeiras para sentar na calçada ao entardecer. Parecia minha pequena cidade de infância. É por isso que o Uruguai não vai para a frente. Ele é feito para a memória.

    Em Montevidéu, todos andam com garrafas térmicas e as pequenas cuias de mate debaixo do braço. Eu disse TODOS: os velhos, os homens de terno e gravata, as colegiais adolescentes.

    Saí do prédio da Universidade, onde estava em um congresso. Entrei na primeira livraria que vi aberta. Encontrei um livro clássico de um grande historiador uruguaio dos anos 80. O rapaz da livraria aproximou-se e me disse: “Gosta do Livro? Quer conhecer o autor?”. E me levou até um canto iluminado, onde um velhinho estava sentado, lendo.
    Apontou para o velho: este é o grande historiador. Foi corrigido imediatamente: “já fui… agora apenas assombro livrarias”.
    Conversamos por mais de uma hora.

    Fui ao museu do Torres Garcia e não comprei uma gravura. Sou uma besta. É fato.

    Fiquei olhano o Rio da Prata, com minha mulher, que também não negocio. Por horas.

    De Buenos Aires não vou falar hoje. Gosto demais da cidade e, inclusive, dos habitantes. Mas hoje se trata de futebol. Aí não tem jeito…

    1. Já que o assunto é futebol, tô fora!

      Mas não resisti ao seu comentário, Farinatti. Lia e escovava os dentes todos os dias! hahahaha.

      Maravilhoso!

  5. Milton, curto muito Montevidéu, mas Buenos é dez.

    Ano retrasado, minha mulher e eu demos umas bandas lá pelo velho mundo e, no retorno, iríamos passar três dias em Buenos Aires. Meu vaticínio, antes de atravessar de volta o Atlântico: Buenos não resistiria à comparação com aquela cidade pra qual até o Hittler pagou pau (ou meio pau, considerando que era monobola). Eu já conhecia a urbe dos portenhos, mas considerava que a transição abrupta entre a terra dos queijos fedorentos e a terra do tango acabaria por colocar em xeque minha admiração por essa última – ainda mais que a primeira estava no ápice do verão, e a segunda, afundada no inverno.

    Ledo engano. E põe ledo nisso. Continuei apaixonado pela metrópole que nos deu Borges, mesmo após conhecer a joia da Europa, e até mesmo com o frio implacável que fazia. Os portenhos merecem nossos cumprimentos: Buenos Aires é uma cidade sedutora, com personalidade e inteligente, que ombreia qualquer capital europeia no quesito charme. Gosto de imaginar as cidades como mulheres, e Bue é uma balzaquiana de boa estirpe, uma criolla educada nas melhores escolas da europa e que, mesmo diante da decadência e da invasão dos bárbaros (adivinha a quem me refiro), mantém a altivez e a delicadeza que a distinguém de todas as outras.

    Sempre fui bem tratado lá. São todos muito cordiais (principalmente agora, que nós temos ‘la plata’), inclusive os taxistas politizados e que rendem sempre um bom papo. Por isso, tenho vergonha alheia quando vejo um brasileiro falar mal dos hermanos, pois jamais me deram qualquer motivo para alimentar a rivalidade. Muito pelo contrário.

    Quanto à nossa cidade, gostei muito das tuas palavras, mas acho que foste muito generoso.

    Ah, mais uma coisa: na resistência de Montevidéu à pasteurização dos shoppings, Punta Carretas foi uma baixa vergonhosa.

    1. Os taxistas são sensacionais. Um dia, pedi para que um me levasse num lugar próximo ao Obelisco (que acho horroroso).

      Ele me disse que o Obelisco era igual aos políticos: todo mundo o via e ninguém sabia para que servia…

      1. Genial! Cada taxista de lá é um personagem! Já são folclóricos. Estão acostumados à brazucas que não dizem “por favor” e “gracias”. Quando encontram um educado, viram amigos imediatamente e puxam o maior papo.

        Da última vez, pegamos um táxi na volta do show do Radiohead, há dezenas de quilômetros do centro, onde estávamos hospedados e, como eu tinha bebido umas Quilmes, só notei que o taxista não havia ligado o taxímetro quando chegávamos. Pensei “malandro, fingiu que esqueceu e agora vai cobrar-me oitenta pesos”. Preparei-me até para uma discussão. Pois não é que o sujeito, quando deu pelo esquecimento, pediu mil perdões e, sem que eu falasse nada, cobrou de imediato só vinte pesos? (com vinte pesos vai-se do centro ao Parque Palermo, e o trajeto que fizemos era quatro vezes maior).

        Naquela mesma semana, voltei para a capital gaúcha e, morto de vergonha, li a história do taxista portoalegrense que levou dois argentinos para uma vila em plena madrugada e tirou-lhes todos os pertences. Isso é que é cidade “demais”…

        1. Muitos aqui disseram que não conhecem Buenos Aires mas pretendem conhecer. Então vou dar duas dicas importantes:

          1º – Eles são extremamente educados, e cobram a mesma educação dos outros. Portanto, comece qualquer pedido ou pergunta com “por favor” e conclua com “gracias”. Isso vale para perguntar o preço de algo em uma loja, para solicitar que o taxista vá a determinado endereço, ou mesmo para pedir algo em um bar ou restaurante (aos que estranham essa dica, eu posso dizer que já testemunhei muitos turistas brasileiros apontarem para algo em uma loja e perguntarem ao portenho “quanto custa isso”, sem usar a palavra mágica antes – para eles, isso é muita grosseria).

          2º – Os dez por cento não estão incluídos na conta, e é uma verdadeira tradição portenha que o cliente, quando sai do bar ou do restaurante, deixe alguns pesos na mesa, para o garçom. Não é preciso que seja dez por cento, pode ser menos. Sei que soa estranho, e pode parecer descortês deixar algumas moedas ou uma nota em cima da mesa, mas é assim mesmo que funciona.

          Essas dicas foram dadas por uma amiga argentina que mora há anos em Porto Alegre. Segui-as sem receio e jamais tive um só incidente desagradável em Buenos Aires.

        2. Lendo o que eu escrevi, dizendo “soa estranho soa estranho”, me senti um daqueles sujeitos da Idade Média, que se admiravam com o “curiosíssimo” hábito dos judeus lavarem as mãos antes de comer, ehehe. Na primeira dica, o estranhamento a que me refiro é o de ser necessário instruir alguém a falar “por favor” e “obrigado”.

  6. Ah…
    E o bisavô da minha mulher era uruguaio. Migrou para o interior de uma cidade da Campanha Gaúcha.
    Lá era tido por louco, pois tinha modos estranhíssimos: lia e escovava os dentes. Todos os dias.
    Quando começou a dizer que os americanos e russos estavam construindo aeronaves para ir à lua, o povo deu o caso por perdido. Era só esperar o velho arrancar as roupas e começar a jogar pedras nas pessoas.

  7. Como frequentador (e leitor) do Blog, mas que nunca fez comentários, vou me permitir uma primeira vez, até por que conheço o culpado pela heresia: Farinatti, não confunda beleza com tradição (nem o Inter com a “Banda Oriental”)!! O Uruguai tem o conjunto – camiseta, calção e meias – mais bonito do mundo (e ele é AZUL com preto!!). Vermelho, apesar de já ter sido cometido, seria repetir o sacrilégio…

  8. O nível do blog já fica sempre bem acima do chão (é só ver embaixo o post sobre o filme do Lars von Trier) e aqui manteve altura. A coisa chata no blog é que é difícil ser o leitor mais inteligente. Mas a gente se esforça.

    Duas belas crônicas de viagem, hein? O Farinatti acertou até mesmo quando lamentou (ô besta!) não ter comprado uma gravura do Torres-Garcia. Que artista genial. Poucos alcançam a síntese em que ele chegou.

    O Uruguai é tão bom que até produziu o melhor caricaturista argentino, o Sábat.

  9. No carnaval deste ano (2009) fui com minha esposa para o Uruguai e Argentina. A decisão de conhecer o Uruguai foi sem querer, foi motivada pela falta de vaga nos vôos para Buenos Aires, daí pegamos o vôo até Montevidéu.

    O Uruguai, e em especial Montevidéu, me surpreendeu. O seu ritmo tranquilo (às vezes até lento demais para alguns), o povo passeando pelas Ramblas, pelos seus inúmeros parques, e sempre acompanhados pelo chimarrão nos encantaram logo ao primeiro momento.

    E o que falar dos inúmeros carros das décadas de 50 e 60 estacionados nas ruas, parece até que entramos em um túnel do tempo, ou que estamos em Cuba.

    Até mesmo seus shoppings não tem o ritmo agitado, quando comparados aos do Brasil. Destaco o Punta Carretas, moderno porém charmoso.

    Um passeio pelo centro de Montevidéu, pelas Ramblas, pelo Jardim Botânico, pelo Parque Rodó, pelos parques ao redor do Estádio Centenário são imperdíveis.

    Imperdível também é o antigo mercado na zona portuária, com restaurantes e lojas de souvenires ao redor. Destaco o El Pescador, e o excelente vinho Don Pascual (uruguaio).

    Ali perto a região da rua Bartolomeu Mitre concentra a vida noturna da cidade, com seus diversos bares. A diversão rola até 8:00 ~ 9:00 da manhã.

    Vale também uma visita a estação portuária do Buquebus (barco que faz a travessia do Rio da Prata entre Montevidéu e Buenos Aires), prédio de arquitetura bastante interessante, muito bonito. Aqui aproveito para sugerir que para quem não conhece Montevidéu e Buenos Aires, e quer conhecê-las na mesma viagem, que comece sempre por Montevidéu. Isto para não ficar mais evidente o ritmo (lento) de Montevidéu, comparado à agitada Buenos Aires.

    Em termos de gastronomia, destaco o El Fogón, o La Perdiz, e o internacional na qualidade da comida e nno atendimento, porém não nos preços, Paninis. Fomos no Paninis da Praia de Pocitos, porém há também o Paninis do Centro.

    Montevidéu é uma cidade para se “viver”, caminhar relaxadamente pelas Ramblas, ou simplesmente ficar deitado em um dos inúmeros gramados dos parques próximos existentes próximos às Ramblas, e contemplar o por do sol no Rio da Prata. Acompanhado pela esposa, e com um bom vinho, este programa é inesquecível.

    Só há uma coisa ruim em conhecer Montevidéu, você não quer mais ir embora.

  10. Caro Milton!

    Já de passagem comprada e estadia definida, começo a me preparar emocionalmente, bem como preparar roteiros, saber coisas sobre essa capital tão bem comentada que não sei porque, ainda não conheço. Buenos Aires visitei duas vezes, a primeira em 1994 e a segunda em 2008, duas épocas, duas situações muito diferentes. A cidade e o povo me encantaram mas na segunda vez vi as ruas muito sujas e muitas pessoas que me parecereu eram moradores de rua, o que não havia visto na primeira. Também sofri uma tentativa de assalto dentro do metro. Sinais dos tempos de globalização e desse sistema capitalista insano, que nos leva a situações nunca antes desejada.
    Mas a finalidade desta mesnagem não é essa discussão e sim o encantamento que me causou, primeiro o seu texto e depois os comentários de seus leitores. Não preciso dizer-lhe que a vontade é de antecipar o vôo para ususfruir imediatamente de todas as dicas, que já anotei no meu caderninho, encontradas aqui.
    Muita poesia em todos os textos e tenho certeza sentirei o mesmo encanto.
    Prometo voltar aqui para lhe contar.
    Um grande abraço
    Sandra Maria
    Curitiba-Pr

  11. Estive em Montevidéu algumas vezes e já convenci minha esposa que esta será a cidade na qual viveremos quando chegar ‘nuestra trégua’, como tão e misteriosamente descreveu Benedeti.
    Mas antes de morar, quero voltar a ela agora em fevereiro, apresentando-a aos meus três filhos. A última vez que estive ‘allá’ foi em 1989. Nem tenho ideia de como esteja. Estou começando a preparar o roteiro. Por conta da greve na UnB (que atrasou o semestre e meu filho do alto dos seus 16 anos tá lá, trilhando os passos e os caminhos para ser diplomata), não vai ser possível conciliar a viagem com o jogo do Grêmio pela pré-Libertadores no Centenário.
    Infelizmente o Uruguay ainda padece de ter bons agentes no Brasil. Aqui, agências de viagem fazem de tudo para para você não conhecer Montevidéu. Mas vou… por minha conta e risco e aceito sugestões…

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