Quase erótico

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Sonho de hoje. Marquei um blind date (encontro com alguém que não se conhece) com uma mulher na Internet e estava chegando ao local combinado. Era o dia perfeito: luminoso, céu sem nuvens, temperatura agradável. Agendamos para o meio-dia no Clube Jangadeiros de Porto Alegre. Quem conhece, sabe que este clube náutico fica numa ilha onde dá para chegar de carro, pois há uma pequena ponte que faz a ligação. Sempre temendo ser recebido por alguém que fosse uma mistura de Aracy de Almeida com Néstor Kirchner, atravessei a ponte a pé. Meu trabalho seria o de encontrar um Ecosport vermelho de placas X e bater em seu vidro, atrás do qual deveria estar minha surpresa. Vi o carro, fiz o combinado e saiu de lá uma bela mulher cheia de silicone nos locais ou local apropriado, apropriadíssimo. Sem dúvida, era uma mulher que poderia figurar na capa da Playboy americana. Caminhamos juntos, conversando tranquilamente sobre assuntos filosóficos, tais como nossa posição e papel no mundo mas também sobre outros, todos sisudos e assexuados, enquanto observava vagamente aquelas interessantes protuberâncias. Depois de almoçarmos, ela me convidou para passear pelo Guaíba de barco. Ela tinha o seu atracado no clube. Fomos, eu e minha pin-up erudita. Pensava difusamente em algo de ordem sexual, mas estava mais atento a nossos temas, que agora versavam sobre troca de focos narrativos nos romances de Paul Auster. Estávamos como amigos. Ela me levou a um local afastado, muito parecido com a paisagem que se vê nas praias adjacentes à Angra dos Reis, apesar de estarmos navegando no Guaíba. Então ouvi-a dizer que ficaríamos ali por um tempo, que a paisagem era belíssima e que eu tinha passado no teste. Como? Passaste no teste, meu amigo; agora vais mudar de fase. Dito isto, ela enganchou uma pequena âncora dourada com o dedo mínimo e, num gesto incrivelmente feminino e sem nunca deixar de me encarar, largou-a na água. A âncora pesava uns cem gramas, no máximo. Completou a obra informando: estás em minhas mãos; a partir de agora, és minha cobaia. Era uma ameaça, mas as cobaias costumam ter boas expectativas, creio. Descemos para o quartinho de baixo (o nome técnico daquilo eu não sei). A cama era muito pequena – imagino que tinha 1 m de comprimento por 50 cm de largura – e a operacionalização do ato era extremamente complicada. Depois de prolongados beijos e desnudamentos em pé, decidimos deitar silenciosa e apaixonadamente. A muito custo, consegui encaixar a cabeça e o tronco da desejada desconhecida no exíguo espaço e ergui-lhe as pernas, enquanto ficava com as minhas fora da cama. Então, finalmente, consegui a penetração. Aí, bem neste ponto, acordei. Estava com uma brutal dor no pescoço e até agora faço alongamentos na frente do monitor, mas este já outro assunto.

Empenhei-me em voltar ao sonho, mas o despertador do celular tocou o terceiro movimento da primeira sinfonia de Brahms. Era 6h45, minha hora de acordar. Apelei para a opção “Soneca” (quem deu este nome imbecil àquilo?), mas, 30 segundos depois, a X. me beijou e perguntou se eu queria um copo de leite. Aceitei. Liguei a TV. Novos temporais vêm por aí; o PIB do RS não acompanha o crescimento do país, claro.

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1 comment / Add your comment below

  1. Tempos modernos

    Não sou bela, mas ele também não; não tenho dinheiro, tampouco ele; minha juventude já se foi, a dele também. Miramo-nos mutuamente e, apesar de todas as anteriores considerações, estamos frustrados. Mesmo assim, encetamos uma conversa sobre temas comuns e afins a nós dois, e a coisa fluía acompanhada por manhattans e mojitos, de forma a propiciar o desejo do risco ou o risco do desejo, não cogitávamos mais nessas e em outras coisas mais.

    Ele não é bom de cama, eu também não. A ereção dele, meia-bomba, a minha lubrificação deficiente. Sexo oral constrangedor. Quarto de motel vagabundo. Deitamos abraçados, ao final, em silêncio, olhando para o teto, eu pensando no que dizer a ele, ele certamente na mesma ocupação. É sua primeira vez na Internet, quer dizer, o primeiro encontro marcado com alguém que você conheceu pela Internet? Sim, ele mentiu, percebi de imediato. E você?, ele perguntou, respondi Eu também, da mesma maneira mentirosa e evidente.

    Marcamos de nos encontrar mais tarde, ainda hoje, pelo Messenger. Conversamos por muito tempo, sem falar uma única vez do encontro que passou por uma tarde de tédio leve, bem leve.

    É bom encontrar amigos na Internet. Precisamos de outra plataforma para pesquisa de amantes. Felizmente a tecnologia sempre nos oferece novidades.

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