Já aprendi — com Lacan, veja só! — que o significado do que se diz é dado por quem escuta e não por quem fala. Freud, muito antes, já descobrira que a chave da interpretação está com o analisando, não com o analista. Este, quando não atrapalha, oferece a escuta e… aí o analisando diz e exclama: — “Eu sabia!”. Assim vivemos: num mundo imaginário onde até mesmo a imagem de si mesmo é constructo imaginário! Por isso acredito piamente em TUDO que você escreve – o que é a mesma coisa que dizer: “não acredito em NADA disso”.
Comentário do Dr. Cláudio Costa ao post A Autocensura, de meu blog anterior (fora do ar)
Alma Welt foi uma grande escritora gaúcha nascida em Novo Hamburgo (RS) em 8 de janeiro de 1972. Belíssima, prolífica e talentosa, suicidou-se em 20 de janeiro de 2007 na fazenda onde vivia no interior gaúcho — mais exatamente na Estância Sta. Gertrudes, em Rosário do Sul. Ela não se deixava fotografar e dela só há gravuras, todas feitas por Guilherme de Faria.
Até hoje, seus dois biógrafos, a irmã Lúcia Welt e Guilherme, publicam na internet textos inéditos da imensa obra de Alma. Seu único livro publicado foi Contos da Alma (Editora Palavras e Gestos, 2004), o qual foi saudado por José Mindlin como uma obra admirável. O célebre bibliófilo procurou Alma sem sucesso. Eu não fiz uma contagem dos sonetos (fala-se em 700), contos, romances e textos vários de Alma Welt que encontrei na rede, mas posso dizer que não é pouca coisa. Mais: não é pouca coisa e há coisas de muito boa qualidade, como vários dos Sonetos Pampianos e dos Metafísicos. Alma Welt foi uma espécie de estrela do site Recanto das Letras até ser expulsa postumamente, fato tão inédito quanto sua imensa obra. O motivo teriam sido as circunstâncias de sua morte, “demasiado romanesca”. Estranhamente, o site abriga milhares de escritores com os nomes e codinomes mais esquisitos, como Miss Pain, flash e Menina Sol, mas não pode abrigar a obra da cultíssima Alma nem ter seu protetor Guilherme (de) Faria entre seus membros.
Não, não há indícios de plágio ou outro crime de qualquer natureza. O material é todo original, o único senão é a profunda desconfiança de que Alma Welt jamais tenha existido. Só que Alma Welt, ficcional ou não, existiu e existe. Tem obra própria, biografia e seus textos seguem aparecendo aqui e ali.
Minha amiga Vera Medeiros é professora da Unipampa em Bagé (RS). Ela existe, tanto que escorregou ontem em seu banheiro bageense, tendo realizado um spaccata involuntário (ou espacato ou espacate, como queiram), peripécia de que não se orgulha, mas da qual é lembrada sempre que tenta caminhar…. Mas tergiverso… Graduada em Letras pela UFRGS, é mestre e doutora em Literatura Brasileira. Em seu mestrado e doutorado, dedicou-se ao estudo da obra da escritora Clarice Lispector que, supomos, tenha efetivamente existido. Um de seus alunos fez um trabalho sobre Alma Welt. Vera, que escorrega mas não é exatamente uma desequilibrada, ficou desconfiada. Welt, Alma Welt? Welt significa “mundo” em alemão e Alma é um nome de mulher. E é alma. Vera me disse: “Não, ela não existiu; mas a obra dela, provavelmente escrita por Guilherme de Faria, está aí e há coisas interessantes. Vou te mostrar.” E mostrou.
Sonetos Metafísicos de Alma Welt
Sonetos de Mistérios da Alma (de Alma Welt )
E eu, com um sorriso irônico, pergunto àqueles que dentre meus sete leitores clicaram nos links acima: você acredita em Alma Welt?
Última via, sem autenticidade
Um funcionário grita para outro “Ei você aí me dá o carimbo de autenticação” no cartório lotado ao mesmo tempo em que pede a um sujeito que está à sua frente para preencher a ficha para registro da firma; por algum motivo, este último se arrepende e requer a suspensão dos procedimentos, ao que o funcionário pergunta “Por que?”, recebendo como resposta “Não sei se estou preparado para isso neste exato momento” do sujeito que lhe vira as costas e sai repleto de minhocas na cabeça, revirada pela palavra “autenticidade”, exigida na assinatura posta na última via de um documento de cessão imobiliária. “Serei eu?”, se interroga, “Serei eu?”. Ao passar em frente à Whiskeria do Pinxinguinha, resolve entrar, mas bate coma cara na parede: a whiskeria não existe, o que há é uma ilustração do bar que há muito deixou de existir, como o próprio músico, morto em 1973. Falta-lhe mais do que a mera perspectiva.
Caro Milton, preciso como sempre no trato com as palavras. É isso aí: dou meu joelho esquerdo – estirado – como não existe nem jamais existiu Alma Welt em carne e osso. Em minhas investigações ébrias (cf. “estilo ébrio, Machado de Assis), conversei com uma moradora de Rosário do Sul desde longa data. Família Welt? Suicídio de jovem escritora? Ninguém ouviu falar disso. A única coisa que existe de fato é a obra, são os poemas, os escritos. Esses não têm cara, ou melhor, não têm uma cara à qual associá-los. Mas têm alma – não é um trocadilho a tua altura, né Milton? – e representam o pampa de uma maneira peculiar e muito interessante. Como pra mim, mera professorinha de literatura, o que importa mesmo é o texto, tanto faz se existiu em carne e osso Alma, Lúcia ou quem quer que seja. Claro, ficou curiosa pra entender as motivações de quem a criou; em que fontes bebeu; para saber se, alguma vez, a pessoa de carne e osso por trás destes escritos pisou no pampa. Isso, porém, é papo pra outras investigações. Bem, hora de encerrar o papo. Uma pilha enorme de resenhas e provas me aguardam. Nem tudo é emoção na vida de uma professorinha de literatura.
Milton,
Sou de Rosário do Sul e trabalhei na DP de lá até maio de 20xx. Nunca ouvi falar em uma família Welt, ainda mais dona de fazenda. Já iniciei uma “investigação” para descobrir se isso é verdade. Pelo que deu para ver no Google, acho que Alma Welt é a “legenda”, no sentido de história de cobertura, de alguma outra pessoa. Espero ter novidades até a noite.
Meu caro X.
Acredito que esta pessoa jamais existiu.
Mas não existiu mesmo! E se existiu nunca passou perto de Rosário. Vinhedos em Rosário?! Cachoeira com altura suficiente para alguém se suicidar?! Pode até existir, afinal o território do município é imenso, tem lugares que ficam a 80kms da cidade mais próxima. Mas eu não conheço e rodei muito todos os cantos, a trabalho.
Se eu tivesse começado por seguir os links teria economizado uns minutos de celular.:(
Não fosse pelos erros crassos na descrição da região, eu até poderia apontar um suspeito de ser “Alma Welt”.
PS: Matou a pau foi o “Vati”, pianista clássico, perdido nos cafundós do pampa. 🙂
O motivo para ter sido expulsa do site Recanto das Letras é que o anúncio da sua morte provocou lamento, expressões de pesar e até choro em alguns membros do site, que só depois descobriram o logro.
Muito instrutivo, Milton! Nunca ouvi falar. Tá parecendo demais com as tramas obsessivas do Roberto Bolaño. Há por aí um grupo dado a conspirações que também acredita que Thomas Pynchon não exista, sendo uma derivação do já inacessível J. D. Salinger. (Apesar do Grijó ter me dito que ambos, Salinger e Pynchon, terem programado a esperada aparição em público para o lançamento de seus romances mais recentes.) Mais isso são outras histórias.
O “Estrela Distante”, último lançamento do Bolaño pela Companhia das Letras, deve me chegar lá pela quarta-feira da semana que vem. Boto fé nesse livrinho! Estarei preparado quando seu inevitável post surgir.
Como a alguns mistérios não cai bem a procura de elucidação, o suicídio da Alma fica, assim, como impossibilidade investigativa de outro mundo, ou de outra época_ digamos, como se houvesse ocorrido há cem anos. O recente ano de 2007 deveria guardar um laudo pericial do suicídio nos arquivos do IML, como é obrigatório para todas as mortes violentas.
Acho que a Alma é o Ramiro…
acabo de ler…
Será?
Estava lendo os poemas da Alma_ e aquela carta da irmã noticiando o suicídio, que me soou tão natural como o movimento dos lábios dos atores submetidos a uma péssima dublagem_, e digo que o Ramiro, como poeta, é bem superior! Só espero que ele abandone o cigarro para afastar quaisquer chances de posteridade.
Gente. Estância com vinhedo… em Rosário do Sul?
Há em Livramento, em Pinheiro Machado, mas não imagino mais que umas mudas de parreiras nos pátios das famílias rosarienses.
Ou muito me engano, o que é possível.
É claro que isso não importa realmente, se a obra, que desconheço, existe e causa tanto furor.
A obra é curiosa. Não chegam a ser obras-primas, mas é coisa publicável. Se ela não se importar, contarei proximamente um caso de amor que vivi com ela…
Que Alma Welt existe, não duvido, desde que a conheci pelo seu post, caríssimo.
Talvez não tenha existido, já que a realidade não é o Real (ah, Lacan, que lacanagem!).
Inoculada definitivamente no Imaginário, daqui não sairá a não ser pelo pó do esquecimento.
Alma Welt acompanhou meus devaneios durante o dia, pois nasceu para mim pela manhã, enquanto me deliciava com sua história.
Dela me aproximarei, conhecê-la-ei aos poucos, visitarei os pampas e a estância onde viveu. Sabendo de seu fim trágico, evitarei a cascata bela e perigosa, mas sei que seu corpo fenecerá em suas águas.
Qu’importa?
Tudo são símbolos: Simbólica é a arte quando bordeja o buraco negro do Real na companhia lúdica do Imaginário.
Caso contrário, Alma Welt me assombrará como Sintoma, qual fantasma indescritível a congelar-me perdido de mim mesmo.
Cruz credo!
Isso me lembra uma reportagem da Piauí, de uma grande interprete que na realidade era uma coletânea de vários virtuoses, com pequenas modificações no tempo e colagens…
Caminhante:
Por falar na Piauí (revista que assino), tem outras matérias sobre impostores muito interessantes, como a da pianista divulgada como gênio, mas que se atribuía performances gravadas por outros virtuoses (deve ser a que você diz); e o grande impostor francês, que durante um tempo viveu como o filho desaparecido de uma família americana.
Bá!!
Estou começando a achar que seis dos sete leitores do Milton são, na verdade, heterônimos!!!
Isso explicaria muita coisa: quando escreve um post, o Milton já teria na manga os contos do Marcos, as crônicas do Charlles, os poemas do Ramiro, os pequenos ensaios do Victor (minha nossa, são quatro estilos literários, estou começando a ver fantasmas!!!).
Na verdade, talvez mesmo o Dr. Cláudio, a Caminhante, todos poderiam ser heterônimos do Milton (ele teria que manter o Blog da Caminhante, o que exigiria alta virtuose, para ter dois blogs tão bons e diferetes: credo, imagem do inferno, imaginei o Milton de colan dançando num palco!!!)
Seremos, então, só eu e o Milton? Será isso um delírio que expressa um desejo secreto (não te mete com a fantasia dos outros, Dr. Cláudio!!!).
Antes que perguntem: eu existo! eu existo! eu hesito.
Poxa, Milton, fomos descobertos. Ou melhor, fui.
A-há!!
Estou rindo com vocês, meus amigos.
Farinatti, meu caro, tu deves ter suspeitado da verdade naquele post onde a foto do Milton apareceu em todos os comentários. E se eu te disser que quem não existe é o Milton; que o Milton é uma criação de sete pessoas diferentes, cada uma lhe atribuindo características pessoais; que o Milton que tu julgas conhecer é apenas um refugiado albanês, treinado durante anos no intuito maniacamente elaborado de te fazer acreditar estar participando de um pretensioso (e, às vezes, com uma hostilidade calculada) grupo de debates sobre assuntos aleatórios, mas todos condizentes com seus interesses, tendo, por exemplo, sido estudado a fundo a obra de García Márquez, além de temas históricos ; e que, nesse momento em que tu pressente a verdade, suas contas bancárias, seus bens patrimoniais, suas apólices e todos os documentos de herança familiar foram transferidos para depósitos privados altamente secretos e irrastreáveis; e que à sua identidade foram juntados inquéritos civis e penais com uma atenção minimalista por detalhes diabólicos incapazes de qualquer defesa, sendo que a Polícia federal neste exato momento enquanto tu lestes estas últimas palavras do esquema concluído, está diante tua porta, trinta agentes silenciosos e decididos prontos para te levarem.
Eu sabia! Eu sabia!
Mas aviso que estou gravando tudo.
Eu vou, mas levarei alguém comigo!!!!!!!!!!!!!!
Prezado Milton Ribeiro
Eu sou Lucia, irmã da saudosa Alma, Poetisa maior do Pampa, e gostaria de esclarecer algumas coisas sobre o “mistério Alma Welt”, já que é o que está se tornando a sua trágica e prematura morte, aos 35 anos , no auge de seu talento e beleza.
1°- Meus avós, Joachim e Frida Welt, agricultores alemães imigrados dos Sudetos da Tchecoslováquia antes da segunda grande guerra, depois de décadas na região de Blumenal SC compraram uma estância pampiana no extremo sul do país e foram pioneiros na plantação de um vinhedo no Pampa, de que agora há muitos outros exemplos.
2°- Por razões que por enquanto não devo esclarecer, a cidade do Rosário do Sul foi usada apenas como uma referência deliberadamente falsa, pois eu não quis que identificassem a verdadeira cidade mais próxima da região de nossa estância. Assim também o citado delegado Benotti é um nome falso (por razões de segurança) de uma pessoa real, de outra cidade.
3°- Um comentador referiu-se ao nosso poço da cascata (onde Alma se afogou) como uma “cachoeira”. Nem Alma nem eu nunca nos referimos a essa cascatinha como “cachoeira”. E ela em si, não é “perigosa”. Há um riacho aqui na nossa estância que depois de uma pequenina cascata de três lances forma um “poço” (laguinho) mais fundo onde Alma se afogou colocando um laço em seu pecoço e a ponta da corda de 150cm a uma pedra de mais ou menos 40cm de diâmetro que a arrastou para o fundo quando ela a deixou cair do alto de uma pedra mais alta da margem que fica perto do centro do “poço” .
4°- Devo protestar quanto à tua afirmação de que as obras da Alma não chegam a ser obras-primas. É claro que nem tudo é e nem poderia ser, mas se mergulhares nesse mundo de textos, verás que há muitas, sim, muitas obra-primas. E o conjunto forma um todo monumental, conquanto sejam obras de caráter intimista (contradição em termos, eu sei) e confessional. Mas o encanto da obra da Alma é justamente que ela consegue transcender o mero personalismo e, mormente os sonetos, permite uma leitura no plano simbólico universal. Ela seria o que Keats chamava de “egotista sublime” (ele se referia ao seu contemporâneo Wordsworth) um tipo de poeta de que temos inúmeros exemplos, sendo o maior o grande Walt Whitman, embora também Florbela Espanca.
5°- O famoso artista plástico e tambem escritor e poeta cordelista Guilherme de Faria (66), descobriu a Alma e sua obra literária em 2001, em seu ateliê de pintora na região dos Jardins, onde ela morou e trabalhou entre 1999 e 2005. Ela chamava esse período de seu “auto -exílio paulistano” motivado pela dor da morte do nosso Vati (papai), que era um médico que não se dedicou à medicina, e era um pianista clássico amador de grande talento e hablidade, mas que só tocava para a família. Quanto ao mestre Guilherme, não fez somente gravuras, mas muitos retratos dela em pintura a óleo sobre tela (vide seu blog), bem como magníficos desenhos a pincel e nanquim que captam de maneira magnífica o belíssimo perfil de minha irmã, e outros, o seu corpo inteiro, quase sempre nu. Até hoje ele está na sua “fase Alma Welt”, pois ele a amou e a considera a sua “última e definitiva Musa” (como ele diz).
Se precisarem de mais esclarecimentos, estarei à disposição com prazer, aqui, se me permites, ou no meu blog. Digo isso porque vejo que trataram Alma com respeito, principalmente por sua obra, que realmente está acima de dúvidas e controvérsias. Estou grata.
Abraços a ti e aos que amam ou respeitam a Alma .
Lucia Welt
Lucia,
Já que voce usou minha cidade natal como referência, permita-me algumas perguntas:
1) Qual a profundidade do poço que voce menciona? (Já que fui eu que citei a cachoeira)
2) Seu “Vati”, que era “um médico que nunca exerceu a medicina”, teria escrito esse poema:
“I love three things on earth
roses, spring and you
roses for three days,
spring for three months
and you…forever”
3) Voce seria capaz de me dizer quais as três piores desgraças que podem acontecer a um gaúcho?
4) Voce estudou Artes Dramáticas na USP? Se sim, qual era a evolução que acontecia com os alunos do curso entre a inscrição para o vestibular e a graduação, segundo o sujeito que construía cenários?
Caso a resposta a pergunta 2 seja sim, desconsidere as perguntas 3 e 4. A pergunta 1 é importante para estabelecer o que aconteceu com Alma, já que voce menciona a possiblidade de um “misterioso homicídio” em um dos blogs que eu encontrei no Google. 3 e 4 são curiosidades apenas.
Milton! Quanta repercussão, hein? É indício de que o velho embate entre FICÇÃO e VERDADE continua tão palpitante quanto nos tempos de Platão e Aristóteles. E de que o teu blog é muito bem frequentado!
Prezado Jorge
Quanto à suas perguntas:
1°- Nunca medimos a profundidade do poço, mas segundo Rodo, o rosto da Alma estava a um palmo da superfície. Dói-me pensar que a própria corda a possa ter enforcado ao debater-se. Havia uma profunda marca vermelha em seu pescoço muito branco. Mas não posso nem falar nisso, é doloroso demais…
2°- Porque haveria meu Vati de escrever versos em inglês? Não conheço esses versos. São muito simples ou ingênuos para serem, por exemplo , de Emily Dickinson. Está a me parecer que tu mesmo, Jorge, os criaste… (rsss)
3° Eu diria que as três piores desgraças para o gaúcho são:
1° Nascer do lado de lá da fronteira, pois nasce sem acento.
2° Botarem-lhe açucar no amargo.
3° O Inter perder o jogo.
4 ° Por que eu estudaria Artes Dramáticas, ainda mais na USP, se sou aqui do Sul?
Mas, prezado e cético Jorge, para que continues na dúvida (que é mais interessante) envio a ti este soneto de minha lavra:
Nós existimos (de Lucia Welt)
Nós existimos, nós, os heterônimos.
Vivemos, sofremos e gozamos,
Não como meros pseudônimos,
Que esses, confesso, desprezamos.
Casta estranha, especial, de pouco fã,
Formamos uma falange maldita,
De Bilitis, de Alcoforado e de Ossian
Que até um Goethe ama e acredita.
Reis, Campos, Caeiro e outros mais,
Fizemos nossa entrada neste astral
Pois necessários, quase sempre geniais.
Mas, eu, por quem fala a doce Alma
Pseudo nome sou de uma imortal
Que na alma de outro não se acalma?
Beijos
da Lu
Lucia,
Vamos por partes, como diria o Jack.
1) Obrigado. Vou pensar a respeito para ver se chego a alguma conclusão.
2) Não fui eu. Foi um médico chamado Werneldo Hörbe, que viveu e morreu em Rosário do Sul e era um personagem materializado. Embora eu desconfie que o poema foi plagiado de W. H. Auden.
3) Resposta errada. A resposta correta está numa crônica de Luís Fernando Veríssimo.
4) Conheço pelo menos uma atriz global que estudou na USP e é do RS.
A dúvida, Lucia, mantém o interesse sempre. Gostei desse jogo de sombras e espelhos, como diz John Le Carré. Vou ler os contos de Alma Welt. Quero ver que referências eu consigo encontrar e que me levem a alguma conclusão.
Mantereremos o blog do Milton como nosso local de encontro virtual ou devo comentar no seu blog? E em qual deles?
Bjs.
Jorge Lima
Jorge
Pode ser aqui mesmo, se o Milton não se importar. Parece que o blog dele é bem mais concorrido do que o meu, pelo menos em comentários. Mas adoraria tuas inteligentes ponderações e tuas dúvidas, lá também.
A propósito, não leio muito o Luiz Fernando Veríssimo (talvez defeito meu), por isso estou curiosa: poderias transcrever aqui as três desgraças do gaúcho, para podermos rir um pouco?
Beijos
Lu
Sem problemas. As três maiores desgraças que podem acontecer a um gaúcho, pela ordem, são:
1) Brochar
2) Cair do cavalo
3) A filha casar com um nordestino (é politicamente incorreto, eu sei, mas como quem diz isso é o Analista de Bagé deve ser desculpado.)
É engraçado como um estímulo qualquer pode disparar todo um processo de lembranças há muito perdidas. Quando eu li a história de Alma Welt, meu primeiro impulso foi verificar como isso poderia ter passado em branco para mim. Não é todos os dias que uma artista e poeta se suicida numa cidade do interior, muito menos em Rosário do Sul que é bem carente de talentos artísticos. E como uma pessoa assim teria vivido lá sem que eu sequer soubesse de sua existência, já que vivi lá a maior parte da vida. É algo que beira o impossível, principalmente para quem, por dever de ofício, acaba sabendo até o que preferiria não saber.
Iniciada minha busca por Alma Welt, constato, de cara, que ela não conhecia Rosário, ou, como numa boa trama de mistério, buscou confundir, misturando ao real detalhes improváveis. No entanto, esta é uma hipótese remota. Agora, tendo lido diversas de suas crônicas, creio que Alma Welt não existiu no mundo real. É uma criação, um personagem. Então o mais interessante aqui não é Alma Welt. É quem lhe deu vida. E, para minha própria surpresa, em menos de 24hs eu lembrei de 03 pessoas que poderiam ter criado Alma Welt. Duas são rosarienses e a terceira um pernambucano, a quem eu costumava sacanear, citando todo dia as três piores desgraças que podem acontecer a um gaúcho. Veremos aonde essa busca me leva.
Antes que alguém comece a se perguntar: pô, mas será que esse cara não tem uns crimes de verdade para investigar, eu respondo que sim, tenho. Mas são os crimes de todo dia. Já o “mistério de Alma Welt” é um desafio intelectual, que não demanda perícias, mandados de busca, quebras de sigilo, etc… E prometo não usar de nenhum dos recursos tecnológicos que a profissão me faculta. Essa é uma “investigação” que terá de ser feita ao estilo Hercule Poirot.
Além de Deus, morreu a Alma do Mundo…
Muito bonito.
Abraço a todos estes mistificadores de qualidade!
: )
Foi ver o site da troca de correspondências entre a Alma e a Andréa…
Sabe que eu não consigo imaginar duas mulheres falando daquele jeito?!?!
E, por coincidência, pareceu o Sr. Milton falando sobre sexo…
Que coisa!?!?
Mistério!
Ah, tá. Me inclua fora dessa!
:¬)))
: ))))
Abraço!
Prezados Milton Ribeiro e comentadores do “Mistério Alma Welt”.
Gostaria que soubessem que há meses montei um blog somente para investigar a verdadeira identidade da pessoa que escreve sob o nome sugestivo e simbólico de Alma Welt, uma vez que mesmo sendo admirador da excepcional obra da Alma, tinha minhas dúvidas quanto a sua existência real, isto é, em carne e osso, já que a obra existe, é imensa, profunda e encantadora. Mas devo reconhecer que não consegui chegar a uma conclusão (talvez por isso mesmo seja um mistério).
Na verdade estou agora mais inclinado a reconhecer que a Alma existiu mesmo, pois é muito difícil encontrar incoerências internas nos seus textos no que refere refere à historia de sua vida, embora as circunstâncias de sua morte sejam tão romanescas, com um velório nu que parece uma cena que Buñuel se esqueceu de filmar.
Depois, a intensidade e paixão de seus textos, a feminilidade que exalam (embora o Márcio ache que a correspondência erótica dela com a tal Andrea pareça abordagem masculina, do que discordo) a comovedora paixão por seu pai e seu irmão, ainda que beirando o patológico, tudo isso a inclinaria para um suicídio. O pertubardor é a possibilidade aventada pela própria Lucia, de que possa se tratar de um escabroso estupro seguido de assassinato, suspeita essa levantada por esse tal “delegado Benotti”, homem perigoso que, ao que tudo indica, aproveitando-se da fragilidade feminina estuprou, por sua vez, a pobre Lucia (vide o blog da espantosa correspondência entre Lucia e o poeta mineiro Claudio Bento).
Assim, deixei de alimentar esse meu blog, até que surjam dados novos ou algo venha esclarecer esse grande mistério literário, que por si só daria, a meu ver, um filme ou um documentário.
Abraços
Jungmar
PS- Notem que há uma coincidência: por acaso, meu sobrenome é o mesmo da doutora Jensen, que foi a psiquiatra que cuidou da Alma quando de sua internação, e que ficou amiga e até amante da Musa (!!!!)
Sabes que quase “ouví” o Rafael falando…
Mas… deliro…
Abraços!
É curioso… o que está acontecendo. Algumas pessoas, em geral escritores, poetas, tendem a duvidar da “existência real” da poetisa Alma Welt, minha amada irmã falecida. Como muitos sabem ela foi expulsa postumamente do Recanto das Letras, cinco dias depois do anúncio funebre detalhado que coloquei na sua página naquele portal, pois as circunstâncias de sua morte pareceram inverossímeis ao editor daquele site, que desmentiu a notícia dizendo que Alma Welt era um heterônimo, portanto era notícia falsa, proibida pelos estatutos daquele site. Produziu-se um grande escândalo, com agressões à suposta escritora por trás da Alma, como se se tratasse de caso de, digamos, “falsidade ideológica” (embora ninguém tenha citado essa figura jurídica). Durou quase um mês o debate no forum daquele site: Alma Welt existe? Alma Welt não existe…
Meditando sobre esse fenômeno, cheguei à conclusão de que as pessoas não conseguem crer que uma pessoa tão bela por fora e por dentro, com tanto talento unido a tanta candura ou pureza em sua visão, pode ter vivido em carne e osso entre nós. Ela seria supra-humana, vivendo numa intensidade e liberdade não encontráveis na… “vida real”.
Mas… se justamente nisso consiste o ser artista! O olhar da Alma sobre o seu cotidiano, desvelando o sentido mágico de tudo, do menor gesto, de tudo o que a cercava, era a sua mensagem aos homens, ao mundo. Por isso nosso pai, premonitoriamente lhe deu esse nome ao nascer: Alma… do Mundo.
Leiam seus textos, reparem que não há nada inverossímil, são estórias simples filtradas por uma sensibilidade extrema, típica de uma pintora-poeta, mas narradora nata, contadora de estórias, que, por exemplo, em Minas fariam dela uma contadora de “causos”.
Quanto aos sonetos (já passam de mil os que encontrei na sua Arca de inéditos), que mão ela tinha para esse gênero! E com estilo próprio , original, característico, abordando todos os assuntos possíveis, freqüentemente compondo verdadeiras crônicas em quatorze versos, sobre o seu cotidiano na estância.
Vão lá, leiam… Eu pergunto: com tal obra, quem precisaria existir em carne e osso? (risos)
Bá! Alma, tu eras mesmo misteriosa em vida… eras divina, por isso lhe tínhamos tal veneração! Como evitar que continues um “mistério” após a tua morte?
Acho que foi Ellery Queen quem melhor descreveu a razão das histórias de mistério atrairem tanta gente. Segundo ele, o leitor se coloca na pele do detetive ou do criminoso. Se na pele do detetive, acredita ser capaz de decifrar qualquer enigma. Se na pele do criminoso, pensa poder cometer o crime perfeito. Claro que uma boa história de mistério precisa de alguns ingredientes para torná-la atrativa. Uma trama bem encadeada, personagens verossímeis, violência, sexo e poder. Embora a história de Alma Welt não seja, exatamente, uma história de mistério, ela possui a maior parte dos ingredientes da receita. Tem uma boa trama, excelentes personagens, sexo e uma sugestão de violência. Faltou o exercício imoral do poder, ou uma briga de foices no escuro pela conquista dele, mas isso não compromete o todo.
No entanto, o fascinante mesmo é a história real que se deduz da ficção. Alguém, em algum lugar, dedicou anos de sua vida a construir uma “legenda”. Explico: segundo John Le Carré, escritor de romances de espionagem, ex-agente do SIS inglês, “legenda” é a biografia fictícia que se constrói para um agente a ser infiltrado. É um curriculum vitae crível, mas completamente falso. Esse alguém produziu centenas de poemas, crônicas, contos e dois ou três romances, segundo as referências que se encontra na web. É o trabalho de uma vida inteira. A menos, é claro, que Alma Welt seja a “legenda” de uma equipe, o que, em princípio não acredito. Tudo que li tem uma homogeneidade de estilo que não comporta diferentes autores.
Dito isso, considero que foi injusto que Alma Welt tenha sido, póstumamente, expulsa da confraria onde pontificava. Ora, se o assunto é literatura, o que poderia ser mais elogiável que uma personagem que se torna autor? Afinal, não estamos no terreno da ficção? Essas pessoas não tem nenhum senso de humor e não mereciam Alma Welt.
Quanto a minha busca, a dou por encerrada. Eu já sei tudo o que queria saber sobre Alma Welt. Só tenho uma reclamação a fazer: o criador dessa “legenda” tem em baixíssimo conceito a curiosidade intelectual dos rosarienses, posto que ambientou seu personagem lá e o apresentou como uma pessoa real, desconsiderando a possibilidade de ser desmentido. Infelizmente, sua “legenda” desmoronou ao ser examinada por alguém que, além de ter vivido a maior parte da vida em Rosário, não sossega enquanto não chegar ao fundo de qualquer mistério. Não que isso lhe tire o mérito da criação, mas talvez tivesse sido mais prudente ter criado sua própria “Castle Rock”.
Caro Jorge
Correndo o risco de parecer cínica, devo ponderar o seguinte:
1°- Uma das melhores coisas que aconteceu na “carreira” literária da Alma foi sua expulsão do Recanto das Letras em meio a um tão grande tumulto. Os franceses têm uma expressão sugestiva sobre esse tipo de ocorrência:”succès d’escandale”. O “sucesso de escândalo” costuma ocorrer com obras imortais, pois, se chocaram sua época é porque eram revolucionárias, estavam a frente de seu tempo. Haja visto exemplos como a “Olimpia” de Manet ou o seu ” Le dejeuner en herbe”. Ou, em música e ballet, o escândalo da estréia do “Le Sacre du Printemps”, de Stravinsky e Nijinsky.
A expulsão da Alma, fruto de (bem o disseste) ausência de senso de humor, a destacou, falou-se dela, enfim… num ambiente abúlico e medíocre, ela tinha mesmo que tumultuar e virar a mesa, mesmo que na morte.
Dito isso, caro Jorge, podes pensar que o risco de ser confrontada em Rosário do Sul, foi um risco calculado, pois se não houver controvérsias não há interesse e não se torna notícia. Podes bem imaginar como é difícil impor ou fazer ver uma obra de valor, culta, fina, elevada, profunda, sem vestígio de vulgaridade, num ambiente cultural tão massificado e banalizado quanto o do nosso país. Mas… a própria Alma, não era calculista. Era muito pura e não contava com o que está acontecendo: tantas pessoas se interessarem por sua obra por causa das circunstâncias misteriosas de sua morte. É irônico…
2°- Outros rosarienses, além de ti, têm curiosidade intelectual a respeito da Alma? QUE BOM! Espero que se dêm ao trabalho de investigar e tirar isso tudo a limpo! (risos). A única coisa insuportável é a apatia, a indiferença perante uma grande obra. Nem tudo está perdido…
Lucia,
Eu quero crer que sim. Que muitos rosarienses se interessem e leiam sobre Alma Welt. De certa forma, apesar de minha reclamação, não deixa de ser uma homenagem a Rosário. E, a bem da verdade, eu ficaria orgulhoso se voce fosse rosariense.
O que voce produziu é digno do maior respeito. Pode ser que, para os críticos de literatura, não seja assim “uma brastemp”. Mas eu gostei de ver seu trabalho. Nem falo dos sonetos, que disso não entendo nada. Mas as crônicas, contos e cartas são bons, embora, na minha opinião de leitor, demandem alguma lapidação.
Ah, se voce não for uma Lucia ou Alma, se for um João ou José, por favor me avise. Quero apagar aqueles “bjs” nas despedidas. É o tipo de coisa que poderia arruinar minha reputação. 🙂
Abraços comedidos, até saber se é “a” ou “o”.
Jorge Lima
Putz…soneto é covardia. Não entendo disso e não vou acrescentar aos meus, muitos e graves, pecados o de ter cometido um mau poema. Então respondo com um trecho de samba dos Demônios da Garoa. Voce há de convir que seria constrangedora uma situação assim:
“…como é seu nome, eu perguntei,
voce me disse:
as amigas me chamam Clarice,
mas meu nome é Claudionor…”
Por fim, eu estou de sacanagem e sendo politicamente incorreto. Não sou homofóbico e nem machista.
Abs.
Jorge Lima.
Quem eu sou (de Lucia Welt)
Quem eu sou às paredes não confesso
Parafraseando o imortal e belo fado
Cantado pela Amália, em tom possesso,
Que por certo não tinha um outro lado.
Perdoa, pois, se parece complicado
E se me está escapando até aos poucos
Um segredo que me está atravessado
De tanto cantar a ouvidos moucos.
Queres saber se sou um bruxo ou fada
Para então mandar-me beijos sem culpa
E não virares do gaúcho a tal piada
Que um vão machismo ecoa e retumba
(embora me pareça uma desculpa)
Levo, Jorge, meu segredo para a tumba…
Querida Lucia
Descobri este blog com este debate sobre a existência verdadeira ou não da amada Alma Welt. Eu me correspondi com a grande poetisa Alma, sua irmã por um ano inteiro, e devo revelar que além de admirá-la, muito a amei. Entretando devo também confessar que nunca ouvi a sua voz e nem vi jamais uma foto dela. Ela manteve o seu mistério até o fim. Acontece que passados dois anos da sua “morte” começaram a surgir dúvidas em mim quanto à sua existência real. Acredito agora que eu me apaixonei por uma criatura virtual, um mito, um espectro, ou uma egrégora, que tem por tras de si um gênio criador que nem sequer sei se é um homem ou uma mulher.
Posso parecer ridícula, e esta dúvida tardia tem me atormentado ultimamente. Quem é, ou era Alma Welt, afinal? Pelo amor dela, me responda, Lucia, ou seja você quem for, pois a saudade dela voltou a doer. Nunca houve uma alma tão bela e fascinante como ela. Jamais amarei alguém tanto quanto a amei… e tenho medo da verdade…
Um beijo… se você existir
Leandra April
Bá! guria! Que te posso dizer? Consulte o teu coração… Alma existe, existiu? Eu existo? Tu mesma, com teu lindo nome… “La vida es sueño…” Ontem mesmo os peões daqui da estância a viram no crepúsculo, cavalgando na coxilha, de longo vestido branco, os ruivos cabelos soltos ao vento:
…………..
“E galoparemos loucas neste pampa
Zunindo como vento nas coxilhas!
Quero correr, quero voar, subir a rampa
Dos meus sonhos, sim, dos meus delírios!
Cavalguemos em pelo, em vez de cilhas
Dois vestidos brancos como lírios!”
(Alma Welt, Sonetos à Mayra)
Alma era um belo sonho que se sabia:
“Singrando a manhã e a tarde fria,
Debaixo do Cruzeiro e do luar
Persiste o casarão em navegar
No imenso mar da pradaria.
Dorme a Vinha e o vinho nos barris…
Ah! Meu pomar querido, como hibernas
Em torno à macieira dos guris
Que cercando vão com suas lanternas!
Mayra e eu, abraçadas, sem pudores
Diante da ARA nos postamos para orar
Pelo nosso amor, pelos amores,
Pela criatura amante e sua amada,
Almas puras pelo pampa e pelo ar
Numa imensa farândola dourada!”
(Alma Welt, Epílogo dos sonetos à Mayra)
Por incrível coincidência, acabo de encontrar na Arca da Alma este belo soneto metafísico, inédito, que publico aqui como subsídio a este debate:
La vida es sueño (de Alma Welt)
Penso logo existo, diz Descartes,
E eu de mim começo a duvidar.
Serei eu uma alma a me pensar
Ou o fruto final da minha arte?
Se olho para trás minha bagagem
Constato que ela é bem mais real,
Em peso, densidade e coragem,
Do que esta pele branca de areal.
Sonho de um deus desconhecido,
Não sabemos o seu nome para orar
E tememos mais ainda o acordar…
Pois no despertar tudo é perdido,
E dói, ah! como dói ver desfiar
O sonho no sonho entretecido!
(sem data)
Quanto a mim, prezados Milton e Lucia, esse mistério começou a crescer e a pesar dentro de mim. Já não posso conviver com ele, isto é, não saber com quem na verdade me correspondi por um ano e cerca de 200 e.mails. Não me parece justo não saber se quem tanto amei e de quem muito sofri a morte, a perda, existe, me amou ou… foi uma miragem. Previno-a, Lucia, que se eu não tiver uma resposta clara, mesmo que não seja por aqui mas por e.mail ou telefone, pretendo tomar medidas legais…
Leandra
Acabo de encontrar na arca da Alma este soneto.
Vê, querida, ela mesma te responde:
O Segredo da Alma (de Alma Welt)
Diante de mim mesma me persigno,
Eu que reverencio tantos deuses…
A musa que elegi, do mesmo signo,
É fiel e me acompanha desde Elêusis.
A Musa a que há muito me votei,
O fiz, modesta, em honra do que sou,
Pois já Zeus a fizera, o que amei,
Com meus traços, e vai aonde vou.
Anima sou e me chamavam Psiqué,
Mas neste Pampa um tanto esdrúxulo
Volto a saber quem sou, quem ela é:
Alma Welt, prenda ruiva e poetisa
Devo cantar a terra madre do gaúcho,
Sagrada, e que a nós dois imortaliza…
Aqui, um vídeo no qual declamo o soneto de Alma Welt. Recebi inúmeras críticas destrutivas de Lucia Welt que pelo que percebo faz o possível patra expr mais a vida pessoal da irmã do que a obra além de ofender o conceito de plurissignificação lçiterária. Quem quiser ler o e-mail arrogante que ela me mandou, basta me procurar! Não suporto Abusos Literários!
Poxa, acabou aqui?
Prezado D’Angeli
Ao entrar nesta página depois de muitos meses, dei com o seu comentário que parece ser uma simpática cobrança de mais debate sobre o Mistério Alma Welt. Estou certa?
Parece que as minhas postagens aqui, na qualidade de irmã da poetisa e Mito, esvaziaram o debate, pois eu teria com os meus depoimentos tirado as dúvidas sobre a existência real da grande Musa pampiana.
Entretanto quero dizer que, eu mesma , passados quatro anos de sua morte, já não tenho certeza de sua realidade carnal, que me parece um sonho, de tão maravilhosa que era minha irmã. Um ser sobrenatural, de beleza e luz, uma obra de arte viva… Continuo garimpando seus sonetos inéditos na fabulosa Arca da Alma, o imenso espólio literário que nos deixou, e finalmente dei por completa com o n° de 1001 a série dos Sonetos Pampianos. O último, pela data é mesmo A Carruagem, escrito por ela em 19/01/2007 na véspera de sua trágica e prematura morte.
Quanto ao número desses sonetos, curiosamente ela mesma testemunhou sobre isso no penúltimo, entitulado “Auto Retrato”, que acabo de descobrir na Arca. Aqui está:
Auto-Retrato (de Alma Welt)
999
Toda uma vida em mil sonetos…
Mais hum pra ser exata em minhas contas.
Posso me orgulhar dos meus quartetos
E algumas chaves, se o ouro me descontas
Se não cheguem a ser fechos dourados,
Também algumas pobres rimas falsas
Sem contar os lamentáveis pés quebrados
Com que tenho dançado algumas valsas.
No final, o conjunto é até bem posto
Conquanto discutível no detalhe
E mesmo anacrônico no gosto.
Mas quê importa? Cantei-me para mim,
É risível, eu sei, nem bem me calhe
Auto-retrato tão sincero assim…
17/01/2007
Nota
Entretanto devo explicar que somente a série chamada Pampianos da Alma é que se limita a esse número: 1001. Contando toda as séries de sonetos da Alma, como os Eróticos, os Metafísicos, os de Mistérios, os Gauchescos, Os Delirantes, os “Sonetos à Mayra”, os Humorísticos, os Alegóricos, os Mitológicos e os Líricos, a obra em sonetos da Alma vão a mais de 2.000 (!!!)
Ah! Aproveito para divulgar aqui também o seu soneto de despedida que descobri também ontem, e que é o penúltimo. Evidentemente trata-se de sua despedida desta vida (!!).
Despedida (de Alma Welt)
1.000
Está na hora, vou me despedindo…
Foi uma longa jornada toda em verso.
Cantei a vida, o bom e o lindo
E por algum soneto controverso
Não pedirei desculpas a vocês
Pois meu coração foi sempre puro
E não quis chocar nem o burguês
Nem bater cabeça contra o muro
Das opiniões e dos costumes…
Pois quem sou pra amaciar o duro couro
Que não queira passar pelos curtumes?
A alma abri e ela mesma eu sou,
Preferi distribuir-me toda em ouro
Que as pérolas meu orgulho não deixou…
18/01/2007