Era o início dos anos 70. Eu, todas as manhãs, ia para o Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Aquele dia estava frio demais, perto de zero grau e lembro que estávamos encolhidos de frio (dir-se-ia “encarangados”, no RS), sentados, duros, assistindo a uma aula. Não lembro qual era a matéria e nem interessa ao que vou contar. As salas de aulas não recebiam o sol matinal. Este, de modo perverso, vinha pelo outro lado, invadindo a enorme sacada do colégio, ultrapassando seus vidros, batendo no chão de lajotas de cerâmica hexagonais e subindo pela parede de nossa sala, mas não alterando sua temperatura interna. E então as explosões começaram.
Todos nós ficamos assustados. O que seria aquilo? Eram explosões sucessivas e devo ter sido um dos primeiros a sair correndo da sala, pois lembro do corredor vazio com o chão desmanchando-se. Provavelmente as lajotas dilataram-se mais rapidamente do que aquilo que as mantinha coladas ao chão e elas simplesmente voavam pelos ares, fazendo grande barulho. Claro que a saída dos alunos das salas para o corredor fazia com que mais lajotas se quebrassem. Logo houve aquele descontrole típico de quem tem 13 ou 14 anos. Os professores e monitores não eram mais ouvidos e, pior, estavam igualmente pasmos, observando o fenômeno, que já passara do terceiro para o segundo andar. Todos corriam. Eu lembro das caras felizes dos colegas e da cara de o-que-está-acontecendo de quem deveria manter a ordem. Ninguém temia os estilhaços.
Não tivemos mais aula naquele período. A ordem custou a ser restabelecida. Um professor de física foi de sala em sala explicar o fenômeno. Não fora um ataque militar, nem algo sobrenatural. Fora apenas diversão.
Divertiu-se o sol aquecendo e dilatando rapidamente as lajotas que saltitaram álacres. Divertiram-se vocês, livres enfim da rotina disciplinada, soltos ao léu. Diverti-me eu mesmo, que corro célere a este blog cada vez que mergulho na internet. Nunca ao léu, como se vê.
Sei lá o motivo de ter acordado com isso na cabeça hoje…
Fiquei sem saber o que comentar. A cena deve ter sido muito divertida mesmo.
É, na verdade não há mesmo o que comentar. Foi uma cena infantil, divertida, inconsequente para nós (para o colégio, não…).
Vê se descobre a marca daquelas lajotas.
Recomendo enfaticamente a leitura de “Os chistes e sua relação com o inconsciente”, do surpreendente – a cada (re)leitura – S. Freud. É leitura quase amena, divertida, interessante e…