Relato de uma Viagem à Itália (VII)

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No outro dia, fomos à cidade de Trento. Definitivamente inseridos em postais de natal, como nesta foto tirada de dentro do carro, na estrada entre Riva Del Garda e Trento,

Flavio levava nosso grupo – eu, Claudia, Julio e Marcelo – por uma estrada sinuosa e absolutamente inesquecível, quase sobrenatural sob a neve. Lembro de lagos com castelos em ilhas, lembro de vinhedos sem fim, de pontes, de subidas e descidas belíssimas e de curvas, curvas, curvas. Riva é uma pequena cidade e sei que o Flavio, que é arquiteto, realiza seus projetos nas redondezas, tendo que viajar diariamente. Pergunto se ele não enche o saco de tantas viagens e curvas e ele me dá a resposta óbvia que, penso, também daria em seu lugar: “Gosto de viajar pela região”. Não me incomodaria de ser seu motorista. Livramo-nos do carro e fomos caminhar pela cidade, tomando parte na interminável guerra de neve protagonizada pelo Marcelo e pelo Julio. A sensação de frio, apesar do zero grau, não era algo que nos fizesse sofrer muito.

Os filhos do Flavio caíam e molhavam-se na neve a todo o momento, mas, apesar de nossas advertências, não estavam nem aí e não sentiam nenhum desconforto com a meleca do chão da cidade. Fomos a um parque – cujo nome deve, tem que ser Dante Alighieri – e conversamos à beira de um lago perfeitamente congelado, enquanto o Flavio, apesar do sábado, atendia telefonemas que pareciam ser de clientes.

Fomos tirar fotos frente a uma estátua bastante diferente de Dante Alighieri, mais um monumento fascista dos muitos que há na Itália. Desta vez, o mau gosto ultrapassa todo o palatável e o Duce nos faz ver uma versão de Dante fazendo uma saudação fascista em direção ao resto da Europa. Eu e Flavio, tomados de compreensível entusiasmo histórico-ideológico, não resistimos àquela demonstração insofismável e inventiva da direita e imitamos o cara, fazendo uma pose de faria morrer de inveja certos blogs por aí.

Foi surpreendente quando o tal “cliente”, que telefonava a cada dez minutos desejando saber onde o Flavio se encontrava, chegou. Fomos a um bar esperá-lo. O Flavio direcionou-o e não aguardamos muito tempo. Chegou dizendo que vinha entregar uma encomenda ao grande Milton Ribeiro… Ele era, apenas e simplesmente, o Allan, do Carta da Itália, um verdadeiro e completo cronista, dono de uma das prosas mais finas da blogosfera e que mora em Piacenza. Ele chegou com um pequeno e valioso presente, um CD de Pino Daniele que provocou imediato entusiasmo na Claudia e incompreensão em mim. Até hoje este CD é polêmico aqui em casa. Eu e a Claudia gostamos muito e o ouvimos com freqüência. O Bernardo e a Bárbara o detestam; o Dado costuma a cantar Arriverá L´Aurora, num tom agudíssimo quando quer me irritar. Enfim, coisas do esporte bretão. O fato é que o Allan viera especialmente de Piacenza e eu fiquei felicíssimo com aquilo. Notem, na foto abaixo, além do Allan, a cara diabólica do Marcelo e o CD do Pino em primeiríssimo plano.

Fomos comer numa pizzeria e seguimos caminhando pela cidade, realizando gravações para a obra cinematográfica Milton Ribeiro na Itália, que está orgulhosamente instalada neste micro e agora no YouTube. No intervalo das complexas gravações, mais fotos.

De Trento fomos fazer uma visita à Vinícola e “Distilleria” Francesco Poli, em Santa Massenza di Vezzano. Degustamos vinhos e grappas absolatemente maravilhosas. Posso dizer que bebi um pouco além da conta, mas como não dirigir mesmo, tudo certo. Além de mim, as crianças demonstraram claramente que seu prazo de validade estava vencido. Compramos vinhos e lamentamos que nossas malas estivessem tão cheias. De outro modo, traríamos a produção da vinícola para Porto Alegre. Voltamos a Riva para realizarmos as tomadas finais do hoje clássico Milton Ribeiro na Itália, com a participação do inglês Allan Robert no papel de testemunha da assinatura do Kontracto de Flavio Prada com a Verbeat. Após firmarmos o compromisso, Flavio Prada e eu fomos tirar uma última foto. Ainda no papel do Almodóvar de Riva, ele ordenou que fizéssemos caras de idiotas. Vejam no resultado como ele é melhor ator.

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4 comments / Add your comment below

  1. Que desfaçatez, hein Mílton? É irritante. No entanto, a foto dos atores reproduzindo a indevida saudação atenua a reação da gente. Quem diria! Mílton ator, personagem de peripécias em terras alheias! Parabéns pela viagem e pela atuação. Abração.
    Magaly Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 25 2006

    Ai, que delícia de viagem, que delícia de relato! vc leu “aqueles cães malditos de Arquelau”? Livro imperdível para quem ama a Itália e suas delícias, vinhos, trufas, arte e amor!
    andrea Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 23 2006

    Espero que tenha mais viagem pra contar, estou adorando! Fico só imaginando o tanto de besteira que vocês três andaram conversando…
    Viva Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 23 2006

    Isso mesmo, amigo. Brigado mesmo.
    RMax Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 23 2006

    Caro Miton, Acho que a sua vinda contagiou o Julio com essa história de blog; a foto da estátua está ótima e, pelo visto, já está causando inveja; o CD do Pino Danielle não é indicado para um público infanto-juvenil; o “L” do teu nome eu tomei para completar o meu: Allan (com dois). Abração e até a volta. 🙂
    Allan Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 23 2006

    Sempre muito divertido. Bom-boníssimo seu texto amigo Milton. COnfesso que havia passado em branco sua viagem pela Itália mas me encanta ver como tens esta facilidade para cativar as pessoas. Quisera ter um décimo deste seu dom, amigo meu.
    Rafael Reinehr Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 22 2006

    Hahahahah… que caras! O comentário da Mônica está ótimo. Assino embaixo! Beijos
    nora borges Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 22 2006

    Ah, eu até gostei da foto lá da estalta. Mas ia gostar ainda mais se a mão não estivesse toda estendida, apenas o dedo do meio em riste. Quanta emoção e surpresa nessa viagem, hein? Coisa boa. E não me fale em grappa. O último fogo q tomei, foi na casa da sua amiga, com esse treco aí. Bjunda
    Rô Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 22 2006

    É, acho que não se saiu nada mal como actor. Como escritor, também, revela talento, possui um jeito especial para “cronicar” suas experiências. Já a lavar loiça, tenho minhas dúvidas, enfim ninguém é perfeito… Um abraço (de Portugal)
    pedro oliveira Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 22 2006

    Muito gostoso o relato e teria mil coisas a comentar. Mas falarei do horror da estátua, que mau gosto! E vc não se substime, é um excelente ator.rss Beijo grande
    Mônica Relato de uma Viagem à Itália (VII) May 21 2006

  2. Inveja em todos os sentidos: de ter conjuge que viveu 7 anos na Itália pra servir de guia, de ter amigos que hospedam, que fazerm surpresa, que levam CDs, de ter fotos e histórias incríveis pra contar. Fiquei com vontade de participar de um encontro galáctico desses, mesmo sem ter nenhum dos itens necessários.

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