Dickens, George Eliot, Jane Austen, Smollet, Fielding, they’re all funny. All the good ones are funny. Richardson isn’t, and he’s no good. Dostoyevsky is funny: The Double is a scream. Tolstoy is funny by being just so wonderfully true and pure. Gogol, funny. Flaubert, funny. Dickens. All the good ones are funny.
MARTIN AMIS
Será que Martin Amis estava brincando ou apenas forçando a barra para sua tese? Ele não parece ser nada primário… Esta entrevista é muito interessante e contém boas doses de razão, mas daí a considerar Tolstói um escritor cômico em função de sua verdade e pureza é um pouco demais… E a curta lista de Amis não possui Sterne (ver resenha de Tristram Shandy aqui) e Swift, mas ao menos ele lembrou de Fielding. Ignorando o restante da entrevista e fixando-me na citação dos engraçados e bons — ou da noção de que apenas os engraçados (ou divertidos ou estranhos) podem ser bons — , lembro sou das poucas pessoas que ri com Kafka e Bernhard. E Borges? Entra na acepção de “divertido” da palavra funny (= lots of fun) de Amis ou está fadado a ser ruim? Sei lá.
Milton,
Como você bem salientou, Tolstói não tem nada de humor – pelo menos em sua escrita nada comprova isso. Se Amis estivesse se referindo à leitura, tudo bem, pois, como diz Bergson (até agora o único a fórmular uma filosofia descente sobre o assunto), todo o riso é o riso de um grupo e, portanto, dentro da formação de Amis, ele pode achar algo infléxivel em Tolstói e rir disso; mas classificar a escrita do bardo russo como cômica é uma falácia.
Dentro do cânone russo, só Gógol pode ser definido inteiramente dentro desse espírito. O resto são apenas átimos de humor.
Aliás, a história do riso escrita por George Minois não inclui, entre suas referências, a maior parte dos autores citados. E olha que é um estudo fabuloso…
Só estranhei o Amis não ter citado Cervantes, já que Quixote é o exemplo mais utilizado do humor na história da literatura moderna (já que a antiguidade grega e romana tem exemplos para encher listas e listas).
Ele não citou o Mann, que vivia falando/utilizando ironia e em vida redigiu jornais humorísticos na Europa.
Pois é, Tolstói foi o que mais me chocou. É prova de uma leitura “incompreensiva”. Sim, Gógol é impagável e é um gênio no gênero.
Não conheço o estudo de Minois, só o de Propp (Comicidade e Riso).
Ah, também acho que Th Mann é cheio de graça, bom humor e, de forma alemã e dentro de sua elegância, é um autor que larga suas piadas aqui e ali, como dizer que sem os ossos seríamos enormes fungões (A Montanha Mágica) e como dizer que as gorduras são a alegria de nossas mãos e corações (idem).
Abraço.
Não acho Tolstói engraçado (funny). Em minha humilde opinião, os momentos de humor são tão raros que é possível pinçá-los em suas obras. Por exemplo, em Anna Karenina, existe pelo menos duas passagens diferentes, em ambas o humor vem da impossibilidade de comunicação entre um nobre e um camponês, embora ambos falem a mesma língua e sobre o mesmo assunto. Mas, que eu lembre, são dois diálogos, num livro de mais de novecentas páginas. Existem russos engraçados, e Bulgákov é um deles. Ok, ele ucraniano, mas vários “russos” também eram.
Ah, exato. Bulgákov! De acordo!
Também não acho Tolstói engraçado. Mas a passagem de Guerra e Paz em que alguns jovens (não lembro quais) vão brigar com um urso é cômica. Mais pela demora que tive em acreditar que era aquilo mesmo que estava lendo; não era metáfora, nada, era um urso mesmo. Mas isso é mais devido à cultura russa, não ao autor.
Machado de Assis seria um bom reforço para a teoria de Amis…
Mateus, escrevi rapidamente este post, entre um trabalho e outro. É óbvio que, se tivesse pensado, chegaria à Machado, um escritor genial e cheio de humor.
Li três livros do Amis (A Informação; Campos de Londres; Grana), e sei que o humor desse autor é um tanto esteriotipado (a bandidagem londrina, o sexo promíscuo, a falência como pano para a graça desconstrutiva). Dizem que seu pai, o Kingsley, sim, é um grande humorista, mas não encontrei traduções por aqui.
Em A informação, Amis diz que o único escritor que conseguiu escrever bem sobre a felicidade foi Tolstoi. Concordo, em relação a Anna Karenina (li SOB esse nome). Mas humor…o que pode chegar de mais próximo a isso na obra do Tolstoi seriam suas fábulas infantis, dando desconto ao propósito moralista.
Mas há humor nos principais grandes livros. Também vejo o humor fino de Kafka e Bernhard (é inesquecível o epíteto de despedida escrito no túmulo do tio do narrador de extinção: “aquele que deixou os estúpidos para trás na hora certa”).
Ulisses também é um livro humorístico. Em “O Povoado”, do Faulkner, perseguimos um amante solícito pelo campo, dividimos seus pensamentos ansiosos, ficamos apreensivosse sua amada vai estar esperando por ele no local marcado…até ser revelado que seu objeto de desejo é uma vaca.
Tenho um projeto de esboçar um estudo sobre o humor na literatura já há alguns anos (havia comentado alhures isso com o Grijó). Em minha releitura de Os Demônios vejo que Dostô tem também muito humor.
Abraços.
Concordo de cabo a rabo. Temos visões muito parecidas sobre tudo isso e já estou achando que Amis quer provocar.
Pessoal, é do meu computador apenas ou tá muito difícil acessar esse blog hoje?
Velocidade de cágado…
Milton,
Há anos frequento blogs e sites pessoais sobre literatura e confirmo-te: o seu é o melhor. Disparado!
Milton…meus parabéns! Seu texto linkado sobre Sterne eu não conhecia. Achei-o ótimo.
Que bons tempos aqueles de idos dos 2008 em que você tinha mais tempo livre. Pare de trabalhar, cara, e produza mais! Trabalhar? Afinal que diabos você faz? Sempre achei que você fosse um milionário boa vida, com 3.000 discos eruditos na estante, postos um a um para rolar sob uma agulha de diamante genuína de um toca discos de 5 mil dólares.
Pode assumir, eu não vou pedir dinheiro emprestado e nem te propor algum negócio facílimo que exija o seu cpf.
ele trabalha com tráfico de livros. mas não espalha. aliás, milton, aquele q tu recomendou, noturno do chile, achei abaixo do esperado, embora não tenha desgostado (disse nada, mas é o q posso dizer). Já sobre o putas assassinas q me DESTE, posso dizer q gostei bastante do conto O Olho Silva.
Também enfrentei problemas pra acessar aqui ontem.
Ele trabalha o espírito. Descendente direto da família Cambará, Milton vive de rendas. Depois de correr pela manhã, ele abre um vinho do porto e entra na sua biblioteca com pé direito de 3 metros. Passa o dia entretido com as mais dificeis divagações filosóficas – do grau de sinonimia das palavras de autores gregos traduzidos ao inglês aos furúnculos de Marx. No fim do expediente, busca a Bárbara no colégio e leva uma vida normal.
Eu acho mesmo é que o Milton é um daqueles gênios sortudos, que inventou algum utensílio trivial indispensável, como os guarda-chuvas coloridos de drinks, o porta-copos de papelão com propaganda, a palmilha antiaderente, aquelas bóias azuis odorizantes que ficam penduradas dentro dos vasos sanitários, a maneira das cores do dentifrício não se misturarem no tubo, a havaiana dos retrovisores de automóveis, os óculos com olhos falsos protuberantes acionados com molas, o modess de sovaco…e vive das rendas da patente.
Ou seu pai compôs uma daquelas marchinhas imortais, que rendem por ano 500 mil dólares aos herdeiros.
Muito bom o texto e o blog.
Realmente, dizer que Tolstói é engraçado é uma afirmação muitíssimo forçada. Nem com muita boa vontade para concordar.
Por curiosidade, que pensam sobre Kundera?