Um pouco de paranoia nesta segunda-feira. Minha filha Bárbara, 15, enviou uma correspondência ao Sea Shepherd. Quer participar de uma expedição dentro de 3 anos e deseja saber como pode qualificar-se a fim de ser aceita. Eu não duvido de nada. Sua teimosia e insistência tem se mostrado vencedora nos projetos onde se mete. Conseguiu um cavalo para praticar hipismo na base de pedir sempre dinheiro em vez de presentes — chegou ao valor após três anos de poupança furiosa. No ano passado, decidiu melhorar em algumas matérias (cobrança furiosa de estudos e leituras de minha parte…): chegou com sobras a seus objetivos, a custo de muito estudo e perda de festas — decisão dela, não sou de proibir nada. Na semana retrasada, decidiu que ia votar nas próximas eleições de qualquer maneira, mesmo completando 16 anos apenas uma semana antes de 3 de outubro — fez tudo sozinha até obter o título (motivo da moblização: alguns de seus colegas anunciaram que votariam no Serra e ela desejava compensar a estupidez de ao menos um deles). No mês passado, escreveu um plano de carreira: vai prestar vestibular para Veterinária na UFRGS, só na UFRGS; depois de um ano, trancará a matricula para ir numa expedição da Sea Shepherd; voltará; se formará; fará uma pós na Europa, se especializará em equinos e retornará para criar cavalos…
A vida, a juventude e a aventura são dela. É maravilhoso ter 15 anos. Eu também fazia planos com esta idade, só que os trocava diariamente. Conhecendo a obstinação da Babi, eu não duvido de nada, ainda mais que ontem um membro da Sea Shepherd respondeu simpaticamente a ela e já estão de papo. Para o e-mail introdutório, tivemos que conseguir um bom tradutor, pois ela se decidira por um texto em inglês impecável, que demonstrasse humildade e peremptória vontade de trabalhar e participar, mesmo em condições extremas.
Acho que tenho uma guerrilheira ecológica em casa. Mas sou pai, caralho. Ontem, perguntei se ela toparia queimar uns eucaliptos por aí… Seus olhos brilharam! Falando assim, parece que a Bárbara é pouco feminina ou vaidosa. Nada disso, é muito feminina, delicada, carinhosa e uma mula de teimosa… Toparia sim uma invasão à Aracruz e certamente aceitará tanto fazer filmagens quanto lavar o convés do capitão Paul Watson. Tenho certeza de que o terrorismo ecológico crescerá muito nos próximos anos e é óbvio que preciso me informar a respeito. Ainda mais que, em janeiro deste ano, os japoneses caçadores de baleias do Shonan Maru 2 abalroaram o catamarã da Sea Shepherd, Ady Gil, partindo-o em dois. Prevejo que a relação dos ecologistas com os matadores de baleias, golfinhos e outros animais marítimos ficará cada vez mais violenta e preferia que a Bárbara não estivesse na linha de confronto, mas a gente não cria nossos filhos e consciências para gente, o que pode ser correto, mas também é uma pena.
Se você não imagina do que estou falando, ligue no Animal`s Planet nas quartas-feiras às 22 horas e veja o documentário em capítulos Whale Wars. O gordinho de cabelos brancos do link ao lado é Paul Watson.
Que beleza, parabéns pela filha, um tesouro a bordo!
Precisamos contribuir para a aquisição do novo catamarã.
Quem tiver um 3×5 devoluto, é só plantar uns eucalipti, pagam bem!
😉
Milton,
Eu tenho pavor ao Sea Shepherds, e principalmente ao Paul Watson. Não pelo ideário, mas pela forma como eles o colocam em prática.
Não foi à toa que ele foi expulso do Greenpeace. Além disso, a ação deles acaba sendo contraproducente – e há suspeitas de que ela fez o Japão recrudescer a sua posição em relação à caça de baleias.
Uma amiga, mais interessada nisso do que eu, lembra que a militância deles é tipo quinta série: a minha causa é melhor que a sua e ninguém mais faz direito, só a gente. Ela também aponta uma coisa interessante: já se perguntou quantos dos militantes nos barcos são biólogos, ecólogos ou algo do tipo? Eles não puxam a discussão ambiental. Apenas realizam ações de grande visibilidade, esquecendo todas as questões políticas subjacentes.
Além disso, é difícil respeitar quem forja um tiro contra si próprio.
No final da primeira temporada do Whale Wars, ele arranjou um gran finale com um tiro que teria sido dado pelos japoneses. “Por sorte” não aconteceu nada porque ele usava um colete à prova de balas.
Das duas uma: ou ele acreditava que poderia haver tiroteio, e então teria a obrigação de ter avisado os militantes, o que não fez, ou ele simplesmente forjou o tiro. Eu, sinceramente, acho que ele forjou. É o tipo de coisa de pessoas bem intencionadas mas de caráter duvidoso fazem.
O problema do SS (a sigla lhe lembra alguma coisa?) é falta de ética. Ë por isso que se eu quisesse militar nessa área eu procuraria alguma organização realmente séria — a Europa está cheia delas — e não aqueles marginais do SS.
Incrível que o Sea Shepherd é a organização mais ativa que vemos hoje em dia e certamente por isso que tem uma atenção internacional. Acabo de pesquisar na internet sobre eles e o capitão do navio tem palavras interessantes “Não fazemos como outras organizações fazem, pedindo, ‘por favor, não matem as baleias’ e choramingam, nós vamos lá e fazemos acontecer “. E sendo uma opinião minha, não acredito que tenham forjado o tiro, depois de ver o que os japoneses são capazes de fazer como Milton disse.
Concordo com “Rumy”, alguém já viu outra ONG fazer o que essa faz?
Rumy,
Então digamos que ele não forjou o tiro.
Ele usava um colete à prova de balas. Se ele esperava um tiroteio e não comunicou à sua equipe, isso faz dele no mínimo um líder irresponsável.
E cá entre nós, o Greenpeace choramingante fez mais pelocontrole da caça às baleias do que os SS.
pois é. conheço nada de nada, mas só esse logo aí já me pareceu ultrapassado…
Passe logo seu endereço. Preciso que meu filho faça um estágio com vc.
abç
No começo do post achei que era coisa de pai orgulhoso, mas a história da poupança me convenceu. Ninguém segura essa menina!
Odeio dar conselhos, Milton, mas esse vai contar bastante (de veterinário redimido para uma futura veterinária engajada):
se a Bárbara tem esse entusiasmo todo por animais, é imprescindível que você a banque o máximo possível nos estudos: graduação, mestrado, doutorado, phd. O único ambiente relativamente acolhedor para o empenho científico e algum ativismo ecológico, é a universidade_ não só para a veterinária, mas para qualquer outro curso. A equinocultura em meu tempo era um monastério. Tinha um amigo_ Daniel Lavinas_, cuja paixão após a formatura o fez abdicar de toda necessidade por um ano: morava no hipódromo e ganhava uma miséria, mas aprendeu a fazer uma série de cirurgias. Daí não deu mais, ele baixou a guarda e voltou para Alto Paraíso para continuar suas procuras por ovnis, se casar e cuidar da grande loja agropecuária do pai_ nessa ordem!
A veterinária fora do academicismo é totalmente mercantil. A área mais próspera é a de vendas; a menos decepcionante em questão de poder-se exercer a profissão é o serviço público_ meu caso. Mas é uma belíssima profissão, ainda que tenha os mais limitados alunos e professores. Mas o bom profissional sempre é autodidata.
Abraço!
Idem sobre Biologia. O sonho de todo biólogo é Fernando de Noronha, Projeto Tamar, Amazônia… Na prática, o único caminho possível é a universidade. Fora dela existe o trabalho sem remuneração (vamos concordar que ganhar 1 salário mínimo ou menos não é uma opção atraente) ou fora da área.
Milton
Que fibra tem essa menina!!
E ganhou de presente muitas ponderações interessantes nos comentários ao post.
Você faz muito bem em alardear as qualidades que a Bárbara tem! Quanto aos projetos arrojados, audaciosos e às vezes imprudentes, estes fazem parte do momento em que tudo parece possível e a gente se crê eterno: juventude. Parabéns.
Ao saber do amor que ela tem por cavalos não imaginei outra profissão para ela.
Minha filha na idade dela já pensou em ser veterinária, depois com o tempo começou a sonhar com trabalho voluntário na África como médica ou enfermeira (dá um orgulho danado, mas dá um medo danado também). Desde o ano passado tem convido com uma doença que pode fazer com que reveja e opte por outra profissão… veremos!
Boa sorte para a sua Baby!
Forte abraço!
Os integrantes do Sea Shepherd não são marginais. O capitão, assim como diversos integrantes usam coletes a prova de balas. Não há como contestar o perigo que é a lutar contra a lucratividade de alguns.
Não praticam terrorismo! A forma de protesto é para chamar a atenção da sociedade (e cá entre nós, citem se há outra forma de fazê-lo)…
Protestam de uma forma que chama a atenção do mundo inteiro para importância da preservação da vida marítima.
O SS surgiu pelo próprio Greanpeace. São duas organizações basicamente interligadas: Greenpeace age de uma forma mais silenciosa, mas também faz protestos a seu modo. O Sea Shepherd vai onde o crime está ocorrendo, agem sempre. Literalmente são um “Pé no saco” dos agressores do meio ambiente. Não acredito de Paul Watson tenha forjado um tiro assim como o SS não forjou ser atacado pelo baleeiro japonês Shonan Maru 2.
Pessoas que criticam (principalmente sem conhecer), são as mesmas pessoas que não tem causa alguma pela qual lutar.
Ps: corrigindo “GREENPEACE”
concordo com a Gisele em gênero numero e grau