Universidade de Coimbra escolhe os 10 romances mais representativos da língua portuguesa (e dá vexame)

Reunido ontem em Coimbra, o júri do concurso “10 Paixões em Forma de Romance”, selecionou

1. “Os Maias” de Eça de Queirós,
2. “Memorial do Convento”, de José Saramago,
3. “Dom Casmurro”, de Machado Assis, e
4. “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto.

Entre os “10 Mais” escolhidos pelo júri, que integrou os escritores José Luís Peixoto e João Tordo e vários docentes da Faculdade de Letras (FLUC), figuram ainda

5. “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo-Branco,
6. “Aparição”, de Vergílio Ferreira,
7. “O Delfim”, de José Cardoso Pires,
8. “Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes,
9. “A Sibila”, de Agustina Bessa-Luís, e
10. “Sinais de Fogo”, de Jorge de Sena.

Segundo o director da Imprensa da Universidade de Coimbra (IUC), João Gouveia Monteiro, para chegar a esta lista final “o júri teve em conta a diversidade e representatividade de diferentes épocas, correntes, geografia e géneros, bem como a expressão da vontade dos votantes”.

Acho que principalmente a vontade… Sim, sou brasileiro com cidadania portuguesa e não me ufano exageradamente nem de um, nem de outro; porém, devo dizer que a lista é ridícula. Achei belas surpresas as presenças do grande Cardoso Pires — desconhecido no Brasil — e de Bessa-Luís, mais conhecida por aqui. Também não pretendo apontar quem deveria entrar ou sair de lista, apenas gostaria de saber em que posição estariam Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, Quarup, de Antônio Callado, Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso e Os Ratos, de Dyonélio Machado, os primeiros que lembrei e que são muito superiores a Esteiros e Sinais de Fogo, por exemplo.

Charlles Campos lembra Lobo Antunes e Miguel Torga, só para ficar em campo ibérico. Ele chama a lista de furada. Tem razão, claro.

16 comments / Add your comment below

    1. Não quis dizer nada sobre esse emplastro “literário” para não ferir o brio de algum eventual admirador dessas letras mortas. Aliás, por falar em mortos, tenho uma lembrança longuinqua que o Camilo resolveu, depois de cumpridas todas as formalidades burocráticas que lhe conferiu a imortalidade no cânone inquisidor que submete os estudantes de letras às doloras horas de convívio com suas obras, resolveu, como ia dizendo, continuar sua carreira de escritor mesmo do outro lado, arranjando um médium como interlocutor com o mundo físico. Há uma série de livros assinados por seu espírito, que talvez a academia devesse considerar em substituição ao que sua última encarnação perpetrou e está lá na quinta posição. Ele suicidou, ao que me parece (ou não, pouco me importa), e é dele um tal de Memórias de um Suicida ou Martírio de um Suicida.

  1. É apenas uma lista com as idiossincrasias de sempre. É claro que a inclusão de um único livro brasileiro entre os dez dá-nos exemplo dum lusitanismo boboca, bem como a inclusão do livrinho do Camilo, certamente pelo cultivo atemporal do volume em terras lusitanas, e até mesmo colocar Os Maias como número 1, um puta exagero.

    Ah, catzo, é uma lista a mais, de circulação restrita, interesse mínimo, no máximo motivadora daquelas discussões em mesa de bar, com cada bêbado sacando da algibeira seus heróis literários do momento (quando a cachaça permite as lembranças…). Falou-se no Miguel Torga, então eu também pergunto: onde está A Criação do Mundo nessa classificação? 11º? 173º?

    É por isso que não gosto de Internet. Não existe embriaguez virtual.

    1. P.S.: Terra Sonâmbula é um bom romance, mas para a 362ª posição. Mas e a obrigação de por um lusófono da África?

      Outra falta: Helder Macedo.

      Façamos o seguinte: encontro às 18:00 hs, em Brasília, para discutir essas questões.

  2. Toda seleção pretensamante representativa é idiota. Na arte não existe escolhas objetivas, tudo é questão de gosto pessoal, e desafio qualquer um a provar o contrário. Quem pensa que tem condições de julgar algo e estabelecer com absoluta segurança e fora de discussões: “este é definitivamente melhor que o outro”, não passa de um arrogante que não sabe nada de arte.

    A escolha dos “críticos” só representa uma coisa: o seu próprio gosto.

  3. Não li todos os livros da lista, mas concordo com o Marcos Nunes que Terra Sonâmbula estaria bem entre o Top 400. E ter Mia Couto e não ter Guimarães Rosa, sendo que o primeiro só existe graças ao segundo, é muita vontade de ser politicamente correto e incluir um moçambicano.

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