Flaubert morreu sem realizar seu desejo de escrever um livro que não dissesse absolutamente nada. Olhando de nossa situação no tempo_ do meio do ano 2010_, um escritor que produzia seus romances e contos como quem deita delicadas gotas de estricnina em milimétricos quadrados de vidro, não fica difícil perceber que o célebre francês sonhava com uma composição estética à frente de seu tempo, desvinculada de enredo e de personagens, algo próprio para o século que se desanuviaria e que estaria cheio de descobertas cujo modelo para armar seria a falta de coerência que determinaria tudo: a teoria do caos. Homens como nós, pós-modernos_ ou seja qual novo conceito resume esse não-sei-que cosmopolita_, estamos acostumados à falta de sentido, à independência à linha reta, à conturbação e às reticências que só dão a aparência de que a resposta está de molho pronta para ser lançada sobre nós assim que completa sua maturação. Palavras da cartola da ciência foram postas ao olho vivo da platéia, e o pasmo da descoberta de que todos os presentes fazem parte da ilusão de luz e sombras cujo truque final fará que tudo desapareça, como a bela moça de biquíni escondida no caixote, entraram para o linguajar cotidiano. Entropia, Indeterminação, Relatividade, Dimensões Paralelas, Teoria das Cordas. Se Flaubert viajasse na máquina do tempo de Wells e parasse sem estágios aqui nesse olho do furacão onde moramos em sossego, sentiria a vertigem aterrorizante do herói de casaca amarrado no carrinho da montanha russa em franca aceleração em direção ao abismo à frente, onde os trilhos estão partidos: o som inapreensível da queda com o qual nossos ouvidos acostumados transvertem em músic a de comercial das Casas Bahia que já não nos incomoda.
Coube ao americano Thomas Pynchon, um século depois, chegar o mais próximo do sonho de Flaubert, esbanjando vivacidade e fôlego em um romance de 800 páginas que dá ao leitor o sério problema de não saber definir do trata. “O Arco-Íris da Gravidade”, lançado nos Estados Unidos em 1973, em plena ressaca dos anos 60 e no estilhaço das guerras geográficas que transformou a possibilidade de uma nova guerra mundial em um premonitório fantasma convergido em um hipotético botão nuclear, parece não dizer nada, ser uma caixa caleidoscópica que simula um delírio de LSD, ou, mais apropriadamente, a concha marinha onde está registrado o último nó caótico de sons de uma humanidade que desapareceu para sempre. Uma mensagem final dirigida a ninguém, de seres sem rastro que foram incapazes de emitir qua lquer significado conjunto para configurarem o mínimo propósito à sua existência. Na verdade, “O Arco-Íris da Gravidade” é um grande epitáfio a esse projeto mal fadado que é o homem, fazendo-o numa língua impossível cujo tom é dado pelas suas primeiras frases apoteóticas: “Um grito atravessa o céu. Já aconteceu antes, mas nada que se compara com esta vez.” E como todo epitáfio_ ou todo réquiem_ traz uma profunda ternura por trás de sua acusação da brutalidade da finitude; no paradoxo de desnudar o caos, quando tudo é sugado por sua força implacável, emite uma frágil bolha que flutua tranquila na borda do buraco negro para, no momento que cessa sua efemeridade, libertar uma última reação de importância_ como se houvesse algo de sagrado e duradouro na saudade.
Sobre isso que trata o romance, entenderam?
Não?
Bem, há um personagem principal, um misto de espião americano, experimento vivo ambulante e prodígio sexual, cujo nome é William Tyrone Slotrop. Ele ocupa uma parte avantajada dessas 800 páginas, em que erra peripateticamente por uma Europa pós-segunda guerra devastada, sendo alvo das mais absurdas aventuras, algumas das mais memoráveis delas a luta corporal com um polvo, a fuga cinematográfica de uma plataforma subterrânea de lançamento de foguetes nazista (em cima de uma ogiva e com uma série de alemães enfurecidos atrás), um mergulho para dentro de uma fétida privada de um banheiro masculino, enquanto um negão de exageradas proporções corporais tenta lhe mostrar da pior maneira possível por que erram os que julgam que sua superdotação é puramente cerebral. Es ses e outros infortúnios são narrados numa velocidade estonteante, que desarma o leitor de seu assombro crescente assim que tem a revelação de que o verdadeiro personagem do romance_ como diz o autor das orelhas do livro, e do qual me impossibilita dizer algo diferente_ é a linguagem de Pynchon: seu inglês caudaloso, debochado, anárquico, irreverente, paranóico. Um anarquismo lingüístico que não perdoa nada, que muitas vezes arranca o leitor de sua impressão de atingir compreensão para atirá-lo em uma abrupta análise de um pormenor destoante. Um romance que ultrapassa a média em envolvimento e absorção, principalmente por ser composto por materiais nem um pouco convencionais.
Se a micro-história ou a História das Mentalidades retirou o foco dos estudos dos reis e dos heróis nacionais para se concentrar no homem comum, a prosa de Pynchon continuou uma revolução semelhante na seara do romance, utilizando o lixo, os caçoetes e toda a tralha multicolorida da sub-cultura norte-americana, compondo uma obra soberba que, como haveria de ser, gerou repúdio e muita polêmica. A comissão do prêmio Pulitzer lhe conferira o prêmio de melhor romance do ano de seu lançamento, mas na última hora a direção da comenda o rejeitou sob a acusação de ser um romance pornográfico. Talvez pela irreverência das descrições sexuais de um Slotrop que, sempre que transava com uma mulher, determinava por uma ligação misteriosa com o foguete (e o material com q ue ele era feito, o estranho Imipolex) que o local onde estava fosse destruído, logo depois, por uma explosão. E Pynchon se molda, intencionalmente ou não, ao escritor-mito, por sua completa negação a aparecer na mídia, a dar entrevista ou ser fotografado. Chegaram a sugerir que ele e Salinger fossem a mesma pessoa, ambos afeitos a uma reclusão monástica. Seu tradutor brasileiro_ o excepcional Paulo Henriques Britto_ que nos deu uma das melhores conversões já feita desse romance, retém sob severo juramento cartas do próprio Pynchon, escritas em espanhol, com longos esclarecimentos sobre as partes mais complexas da obra. Cartas que com certeza seriam disputadíssimas entre os milhares de fãs ardorosos que formaram um culto organizado em torno de Pynchon.
E “O Arco-Íris da Gravidade” é inusitadamente engraçado, e não pensem que se trata do risinho renhido do sarcasmo saramaguiano, ou os risos sincronizados do único romance com claque da história da literatura, o Ardil-22_ o livro se mantém numa constante e irresistível eletricidade histriônica, um humor abrangente e sem reservas que é um dos seus poderes inigualáveis: o riso se torna um sério posicionamento filosófico, um costume contaminante que muda nosso confrontamento com o mundo, uma herança erudita transformada de Rabelais, Groucho Marx, Monty Python, Os Três Patetas e Buster Keaton.
E, quando chegamos ao final dessa extensa saga, Pynchon nos soluciona o enigma derradeiro: só assim, usando os despojos de nossa cultura, a falta de vergonha de nosso orgulho desarroado, os nossos preconceitos e nossos ódios infinitos, a nossa miséria e capacidade de nos enganarmos e nos iludirmos eternamente, nossa tecla defeituosa que nunca proporcionou aprendizado com o passado, nosso frenesi e arrogância científica que finge esclarecer, poderemos ter a presciência terrível de que toda piada traz o lamento enrustido de só conseguirmos rir até as lágrimas do outro que cai e arrebenta a cara no muro, e nunca compreendermos que afinal rimos de nós mesmos atirados no chão, todos atolados no caos e vítimas das gritantes trivialidades criadas, na única comunhão possí vel de esperar alegremente o aniq uilamento, como nas palavras que finalizam o livro:
“E é bem neste ponto, este quadro escuro e mudo, que a ponta do Foguete, caindo a um quilômetro e meio por segundo, absoluta e eternamente sem som, alcança seu último imensurável intervalo acima do telhado deste velho cinema, o último delta-t.
Há tempo, se este conforto lhe parece necessário, de tocar a pessoa a seu lado, ou de pôr a mão entre suas próprias pernas frias…ou, se é preciso cantar, eis uma canção que Eles jamais ensinaram a ninguém, um hino de William Slothrop, há séculos esquecido e jamais reeditado, para ser cantado com a melodia simples e agradável de uma ária da época. Acompanhe a bolinha:
É a Mão que faz o tempo andar,
Ainda que em tua Ampulheta se esvaia a areia,
‘Té que a luz que abateu as Torres altas
Chegue à Alma Preterida derradeira…
‘Té que os Viandantes durmam à beira
De toda via desta Zona estropiada
Com um rosto em cada encosta de monte,
E uma Alma em cada pedra da estrada…
Agora todo mundo__”
Este seria Thomas Pynchon há muitos anos
Este, retirado de um site francês, vem até com credencial…
ótimo título pro jogão dos bambis contra os da pradaria…
Foi-se o tempo em que o São Paulo, para vencer em Porto Alegre, tinha que trazer o Atlético-PR.
Há uns vinte anos atrás tentei ler Vineland; achei chatíssimo. Pynchon foi catalogado fora dos 10.000 livros que teria que ler antes de morrer (devo ter lido uns 1.000, e não viverei muito para ler nada além de mais 500), e fim. Sobre Vineland, me pareceu algo como se Kerouac estivesse vivo e, após os hippies, tivesse começado a encarar o desbunde com ironia, mantendo, porém, a mesma linguagem autocelebradora de On the Road (um livro que escancarava a pretensão de ser um salto à frente na literatura, argh…).
Bouvard e Pécuchet, Flaubert, embora não seja um livro sobre nada, é um livro sobre dois nadas que tentam abarcar um mundo maior que suas possibilidades intelectuais e científicas, além do que zomba do estágio da ciência em sua época e dos muitos subintelectuais que desde então (e já na época de Rabelais) passeavam pela França (veio-me uma péssima lembrança – delete!).
Não gosto do anti-intelectualismo à la cultura de massas estadunidense, mas daquele de Rabelais, que zombava, sobretudo, do intelectualismo estéril, do tipo de um Casaubon, de Middlemarch, George Eliot, tão modelar quanto os homens supérfluos da literatura russa, como Oblomov, Gontcharov.
Enfim, Pynchon é tão estereotipadamente “nerd” que dá para entender sua indisposição à fotografia e à publicidade. Já se foi o tempo que um escritor muito feio, como Sartre, podia aparecer ao lado de um Camus e não ser deslocado para o segundo plano. No mundo de hoje, um pouco mais que ontem (mas só um pouco), a beleza, além de não atrapalhar, ajuda a vender livrinhos, e há muito os escritores (lembremos de Byron) trabalham tanto seus textos quanto a própria imagem. O que dá uma bela (e estéril) discussão. Deixa pra lá.
Lembrou bem do “Bouvard e Pécuchet”. A tirada da beleza do camus tornando Sartre mais feio ainda foi ótima, mas, não sei não, beleza entre escritores é raríssimo para ser motivo de um deles se isolar: é capaz de Pynchon ser menos feio, por exemplo, que Bolaño. Só conheço dois escritores de boa aparência: Vargas Llosa e Jorge Semprún. (Talvez por isso que eu não sirva para ser escritor, eh, eh.)
Vineland, o livro menos gabaritado de Pynchon, eu gostei mais do que o V. Mason e Dixon é quase tão sublime quanto O Arco-ìris, e ” O Leilão do Lote 49″ divido a opinião de Harold Bloom de ser um dos maiores romances do século passado.
Não sei se a beleza é rara entre escritores, mas constitui fator para alavancagem de vendas. As mulheres podem mencionar alguns nomes de escritores que julguem belos (tenho Camus por feio, mas a fama dele é de charmosão, etc.), eu não gostaria de me dar o trabalho de realizar este gênero de avaliação.
Lembro que o Milton já inseriu aqui umas imagens de escritoras, a maioria não exatamente bela, mas há outras e algumas lindíssimas, além de jovens. É o caso de uma pesquisa mais acurada (ui! ai!) nesse campo…
Eu sempre achei Camus um cara bonito. Meu pai se parecia muito com ele, o que ninguém notava a não ser eu_ ninguém conhecia o modelo referente_, a cabeça grande e bem feita, os olhos de fumante compenetrado, e o corpo magro. Caras com a aparência como a deles só podia ter a voz bonita, coisa que meu pai tinha: cantava modas caipiras como ninguém, e uma das lendas pessoais que contava era ter cantado com o Tião Carrero_ algo que me parece tão fantástico e, paradoxalmente, possível de ter ocorrido, que seria como se o dissesse ter duelado, de guitarra em punho, com Robert Jonhson.
Ainda não me convenci da relação entre beleza e qualidade literária_ ou, ainda menos, sucesso de vendas. Isso mudaria o padrão de se molhar as calcinhas pelos cabelos louros do Brad Pitt, para a da cabeça oval calva e retrogradamente hippie do paulo Coelho. Mas o Milton já fez um PHéS antológico sobre isso, colocando filósofos.
Ainda sobre aparência, lembro do Joseph Bródski escrevendo que Samuel Becket teve grande influência em seus textos mesmo antes de ler qualquer palavra do autor irlandês: o rosto vincado de rugas e os hipertricose frenética lhe dizia mais que palavras.
Não há uma relação absoluta, mas a beleza é um dado a mais que pode (e geralmente é) capitalizado pelo autor (a). isso ocorre até com os músicos eruditos; quando eles são mais bonitinhos, seus rostos ganham mais destaque e, no caso das mulheres, até suas curvas associadas a instrumentos eróticos, como o clarineta (!) e o violoncelo (!!). Bernard-Henri Lévy, o, digamos, filósofo francês, fascinou seu eleitorado com sua beleza “semelhante a de um personagem de François Truffaut”, conforme li à época do lançamento de A Ideologia Francesa no Brasil (coisa também duns vinte anos atrás).
Outro aspecto: uma pessoa que se conseidera bela e vê reflexos de sua beleza no outro altera suas relações com o mundo, de várias maneiras determinadas pelas circunstãncias de sua vida. No filminho Malena, a belíssima Monica Bellucci tem a fala: “A beleza muitas vezes é uma maldição”; no caso de Gisele Bündchen, é claro, é justo o contrário (aparentemente); há nuances infinitas sobre a questão e a sua inversa – ser demasiadamente feio faz de alguém um artista ou aumenta suas possibilidades de dedicação á arte ou a qualquer carreira intelectual?
O fio dessa meada é infinito em exemplos e exceções. Mas creio que, sim, o fator beleza é um entre outros a considerar quanto à venda de livros e aceitação comercial e/ou pessoal de determinado escritor, embora, obviamente, um grande talento passe por cima disso tudo, seja ele fisicamente belo ou não. O diabo é encontrar, afinal, um grandissíssimo talento, e aí perguntar a ele: “E aí, o fato de você ser feio pra caralho lhe apontou o caminho da literatura para tentar comer mulher?”
Eu sou belíssimo. Perguntem pra minha mãe e ela lhes garantirá.
Confio na sua mãe, mas teu problema é o trauma de ser daltônico e torcer pelo Colorado mas nunca ter visto uma camisa vermelha na vida; daí um complexo de inferioridade revertido em obsessão sexual cujo resultado foi fazê-lo cultivar uma lista de conquistas onanísticas e coitológicas de fazer inveja a Don Giovanni.
Cara, eu adoro essa trolha de psicologia!
Por falar em beleza, achei essas coisas extraordinárias cujos links seguem abaixo (vamos ver se dessa vez consigo essa mágica invejável de o endereço ficar verde), em que edições comemorativas dos 75 anos da famosa editora penguin tiveram as capas pintadas por designers, quadrinistas e artistas famosos (a capa do arcoiris da gravidade tendo sido feita pelo Frank Miller):
http://www.penguinbooks75.com/penguinink.html
http://www.flickr.com/photos/paulbuckleydesign/sets/72157621852113991/
Gosto muito de V. Foi o Pynchon do qual mais gostei. Não li o Arco-ìris, mas agora que o Charlles falou em coisas engraçadas, me interessei.
É de rolar de rir, Milton.
A cia das letras prometeu a tradução do novo calhamaço de Pynchon pro ano que vem: Against the day. Tenho-o em inglês, presente de um dos foragidos da família que ficou alguns dias escondido aqui em casa retornando dos EUA (há parentes que são artistas na hora de nos comprar uma estadia), mas tentar ler Pynchon em inglês não é para meu nível de CCAA.
Me deixastes preocupado. Tem sempre um carinha estranho ocupando o lugar do adorado filho da dona Ribeiro quando na minha tela as fotos anunciam você. Ou a onda do Chico Xavier me pegou e estou vendo a reprodução de ditadores iranianos ainda encarnados transitando pelo meu CPU, ou a beira dos 40 me presenteou com outra anomalia ótica de nome complicado.
Vejam as capas dos links acima. Fiquei orgulhoso com a publicidade reacionária. quero ver o Steve Jobs lidar com isso.
Esse meu comentário das 2:24, o último parágrafo, ficou incompreensível por ter sumido um comentário anterior, que dava links de novas capas de livros. Acho que o Milton, quando sair da piscina, vai recuperá-lo.
Fugindo do assunto – que é mulheres e literatura – o post me fez ficar com vontadinha de ler Pynchon (mas não posso até outubro, blá blá blá) e vontadona de ler Charlles Campos. Adoraria ter escrito o primeiro parágrafo. Teoricamente, até poderia, por ter leitura pra isso – mas quem disse que conhecer é suficiente?
E Camus é charmosão (pra usar um termo mais elegante que termina com ÃO pra descrevê-lo).
Partindo de você, que escreve bem pra c…, me deixa envaidecidíssimo. (Li num de seus post uma daquelas frases que nos faz soar a mais funda inveja, quando você supôs, ao não mais ouvir os barulhos tórridos de seus vizinhos após a última noite de sexo entre eles, que talvez fossem japoneses e tivessem se suicidado de vergonha).
Mas, não falávamos de mulheres e literatura. Algo inexplicável no subconsciente desses três machos invictos (bom…eu sou invicto: o Milton, que já fez, e o Marcos, que também deve ter passado pelo exame de toque após os quarenta, não posso colocar a mão no fogo!) fez com que falássemos de HOMENS e literatura. Ai, ai!
Acho que se depender do tanto que te conheço, por vontade própria jamais lerás o Arco-ìris da Gravidade. Terias a coragem de gastar 95 mirréis?
1. Pois é. O primeiro parágrafo é arrasador.
2. Doeu na alma, mas não fui arrombado por aquele dedinho…
Mas Caminhante,
o livro é uma bíblia. Você vai comprá-lo, ou vai retirá-lo de alguma biblioteca? Pelo que sei, você é pão-dura, não é? Acho que se você o comprar, o “bichinho” muda de nome: “A Gravidade do Arco-Íris”.
95 reais? Nem a pau. Se tivesse esse dinheiro pra gastar em livro, compraria um Bolaño. (aplaudam, por favor. Falei isso só pra puxar o saco do dono do blog).
Por sorte, comprar algum livro que não seja de sociologia está fora de questão nos próximos meses. Assim não tenho que me debater com a vontade de comprar livros e o condicionamento que sofro desde criança a sempre procurar na biblioteca primeiro. De acordo com a minha mãe, aquela bibliotecária, só devemos gastar dinheiro em livros técnicos ou que serão relidos. Para os outros, é desperdício de dinheiro e espaço. Reconheçam que tem uma certa lógica.
***
Não sei se deveria contar isso, mas…
Sempre achei o exame de próstata um momento engrandecedor na vida de um homem. Ajuda a ter empatia com as mulheres, não apenas porque nos submetemos a um exame muito pior todo ano, como pela idéia da violação e fragilidade. Mais pelo simbolismo do que pra prevenir qualquer doença. Por isso, procurei preparar psicologicamente meu marido ao longo dos anos (“tá chegando a hora, hein? Vai deixar de ser virgem no fiofó!”).
E não é que o maledeto conseguiu descobrir com um médico que o exame de toque não é tão bom assim? Pro médico perceber que a próstata está alterada, é sinal de que o câncer já está mais desenvolvido. Muito melhor do que o dedo é o sujeito fazer todo ano exame de sangue que meçam o PSA livre e PSA total e uma ecografia de próstata via abdomen. Mais preciso e sem introduções comprometedoras. Decepcionante, não?
Ou seja, Charlles, você e o Luiz poderão continuar machos invictos.
Tentei postar 3 vezes um mega comentário e ele não aparece. É uma pena. Vai ver que foi censurado porque eu falo que o exame de próstada pode ser substituido…
Ufa!
Censura às vezes não faz mal nenhum…
Não tenho opinião sobre este livro. Lembro que após terminar a leitura o odiei. Hoje posso pensar diferente. A verdade é que ele passa uma quantidade de informações absurda, talvez não estivesse preparado. Me incomoda o fato de que muitas personagens não são desenvolvidas satisfatoriamente, tramas que são jogadas e não concluídas. Paulo Henriques Britto acha genial, e deve ser mesmo. Precisaria relê-lo, mas ao ver aquele tijolaço perco totalmente a coragem.
esses dias vi o filme Ardil-22. Ri.
“Me incomoda o fato de que muitas personagens não são desenvolvidas satisfatoriamente, tramas que são jogadas e não concluídas.” É puramente proposital, Beto.
Pra provar a enorme capacidade de pynchon em escrever algo mais ou menos retilínio, convido-o a ler “O Leilão do Lote 49”, de umas 149 páginas.
E em Arco-íris há, aqui e ali, uma série de histórias individuais bem desenvolvidas que comprovam a excelência do cara. Esse livro, ao contrário do que entendeu de um comentário obtuso que fiz dos Detetives Selvagens, eu precisaria de duas encarnações de 100 anos cada para conseguir escrevê-lo.
Charlles, obrigado pela dica. Com certeza vou ler “O Leilão do Lote 49” e “O Arco Íris” vale uma releitura atenta. Grande abraço!
no mais, sou adepto dos sábados continuarem sendo das mulheres e do charlles manter uma coluninha por aqui. tudo no seu lugar.
Volto à mixórdia de informações paralelas da Ciência e conturbações do dia a dia por ter me lembrado do Cesar Aira, escritor argentino, que escreveu um ensaio sobre a decadência do bricabraque onde ele situa bem o ser humano moderno no abismo de todas as coisas que ele é incapaz de compreender e que, no final de tudo, pode terminar em revertê-lo aos caminhos da fé. É interessante pensar como, por exemplo, dois filósofos inseriram em seus pensamentos elementos da Teoria Quântica e só conseguiram provar que nada sabiam dela (refiro-me a Deleuze e Guattari, desmascarados no episódio Sokol, embora os incensadores de ambos só tenham avultado a inveja do último que, físico e matemático, possuía mais conhecimentos de tal teoria que os dois juntos).
Nisso um romancista pode meter seu bedelho e criar, como já foi escrito anteriormente, um caleidoscópio passado no liquidificador, que um profissional da ciência reduziria a apenas cinzas.
Em tempo: o pequeno ensaio de Aira tratava da questão que, até a era mecânica, qualquer um podia desmontar um relógio, um automóvel ou uma máquina industrial e remontá-la, consertá-la, aperfeiçoá-la. Hoje, as placas eletrônicas são peças impossíveis de “consertar” na oficina doméstica, e normalmente não são entendidas mesmo nas emprsas de conserto e manutenção de computadores. deu problema: troca-se uma por outra e fim, não há reparo possível. Felizmente para a literatura sempre há.
Qual o nome desse livro do Cesar Aira?
É Pequeno Manual de Procedimentos.
(Por acaso tive que ligar o computador em casa pra ver um troço chato e passei no blog em seguida e vi sua pergunta; isso é sorte ou azar?)
Este blog tem algum filtro que está me impedindo de responder lá em cima… E aqui nem adianta falar, ninguém vai ler.
Aí pessoal:
O Roberto Bolaño (citado várias vezes) em 2666 teria criado um personagem (Archimboldi), inspirado em Thomas Pynchon?
Sim, Ivan, o Archiboldi é livremente inspirado no Pynchon.