Publicado em 16 de agosto de 2004
O Mundo Médio. Trabalho insano. Passei a noite de sexta para sábado no restaurante. Saio de lá às 4h da madrugada. Tudo bem. Tudo bem? Tudo bem se não tivesse que acordar às 8h30 para abrir o bar em que o restaurante se transforma no sábado pela manhã, a fim de atender os alunos da Associação Italiana onde estamos sediados. Fico absolutamente irritado quando a Claudia me acorda, mas vou, desta vez com ela junto. Saio de lá ao meio-dia, almoço e vou para
O Pior dos Mundos. Para mim, nada foi pior do que os primeiros meses de separação. Mas a gente se refaz de quase tudo e hoje vejo aquele período como um fato indissociável e causador de minha tranqüilidade atual. Aprendi muito. Como estou separado há 3 anos – parece-me muito mais! -, é surpreendente que tenha que pedir ainda hoje auxílio a uma psicóloga para que possa conversar com minha ex. A nossa é muito boa, requisitadíssima e nos atendeu às 14h30 de sábado. O motivo alegado era o acerto da agenda das crianças; o real, um acerto de contas na forma de insultos. Chego à reunião absolutamente calmo, como se estivesse ouvindo Bach em casa. Quando me separei, estava transtornado, desesperado e cometi toda espécie de erros. As decisões que tomei contra mim foram… bom, melhor deixar de lado este assunto. Agora, sabe-se lá porque, o descontrole está do outro lado. É como se tivesse ocorrido uma separação unilateral há 3 anos; naquela época fui chutado e sofri sozinho. Tudo o que ouvia era tremendo e tinha como conseqüência um desmanche interno. Hoje, depois de 37 meses e 5 dias, tenho pela frente o Milton daquela época. Tudo o que digo parece ser tremendo e as bombas que me lançam podem ser rebatidas ou caem longe. Mas não é, de forma nenhuma, agradável. Fui patético há 3 anos, dizia e fazia bobagens; hoje, observo. Ao final da reunião, fico abruptamente sozinho com a psicóloga e vou ao
Mundo Bom. Converso com ela sobre o Bernardo. Ele tem 13 anos e sinto muitas vezes que ele poderia ter companhia melhor que a minha. Expressei-me mal, vamos de novo: sinto que estou sendo chato e que não sei mais como ser interessante para ele. Sou apegadíssimo a meus filhos e esta é uma enorme angústia. Quinta-feira, dia 19, completo 47 anos; quero ser flexível, alongado, sarado, ter uma mente jovem, permanecer bom pai, mas vou-me atrapalhando. Há alguns dias, intuí que ele desejava o Canal Playboy em seu quarto. Comprei-o para ele, digitei 79 no controle remoto, ele viu, voltei ao GNT e caí fora. Acho que faz parte do meu papel fazer isto, porém sei lá se é correto… Afinal, antigamente os pais levavam o filho púbere a um prostíbulo… Sempre achei isto uma violência. Sou tranqüilizado pela psicóloga que diz que fiz bem e me enche de sugestões sábias. Resultado: mesmo após mais uma noite passada no restaurante – até às 3h -, tive um domingo de sonho com ele, Bárbara e Claudia. Fizemos um churrasco juntos, conversamos, fomos ao cinema (dormi meu sono atrasado durante o filme “Eu, Robô”) e agora é a vez deles estarem dormindo. Assim, a vida já passa a valer a pena.