Rascunho

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Publicado dia 28 de julho de 2005

(É muito chato falar sobre as tragédias de nosso país. Nem o Collor me deixou deprimido como estou agora com a roubalheira e as mentiras dos governantes que receberam meu voto… É, meu voto.   Melhor mudar de assunto. Bem, então vou falar de uma coisa boa.)

Vou falar sobre uma ilha de resistência que deveria orgulhar a todos os que amam os livros. O jornal Rascunho, que chega ao número 63 neste mês de julho, é uma publicação mensal de 32 páginas dedicada exclusivamente à literatura. Prestem atenção, 63 meses significam 5 anos e três meses de vida. Para um jornal independente, voltado exclusivamente à literatura e que sempre fez questão de qualidade, é muito.

O escritor pernambucano e colaborador do Rascunho Fernando Monteiro costumava me enviar cirúrgica e gentilmente as edições do jornal que julgava pudesse haver algo de meu interesse; porém, este mês, pensei que talvez até a cortesia de meu amigo  conhecesse limites e resolvi finalmente assinar o jornal. Também pudera! Fernando Monteiro está iniciando a publicação de um romance inédito e completo em suas páginas. <i>O Inglês do Cemitério Inglês</i> chegará aos leitores do Rascunho da mesma forma que se fazia no século XIX, capítulo a capítulo, mensalmente. Não vou comparar Fernando a Machado ou Dostoiévski, mas ele deve estar satisfeitíssimo com o convite do editor Rogério Pereira para secretar, mensalmente e em pleno século XXI, os capítulos de seu novo livro. No mínimo, bem no mínimo, será acrescentado um enorme charme ao Rascunho, além de acenar com uma longevidade ainda maior para um jornal que, repito, dedica-se exclusivamente à literatura.

Como em qualquer publicação onde as pessoas expressam opiniões, o Rascunho gerou polêmicas, algumas tolas, outras pertinentes. O saldo positivo é muito alto. Por exemplo, fiquei muito feliz quando li que o jornal resolvera discutir a obra de João Gilberto Noll. Foram publicadas, lado a lado, uma crítica favorável e outra nem tanto. Como estou entre os “nem tanto”, gostei; afinal, não estou sozinho no mundo. Houve a polêmica sobre Sebastião Uchoa Leite e a revista – coisa inédita – desculpou-se. Já imaginaram a Veja fazendo isso?

Se algum de vocês se interessar, a edição 63 traz duas grandes entrevistas com Affonso Romano de Sant`Anna e Marina Colasanti, e um monte de artigos: um enorme sobre a obra de Mario Quintana, outro sobre Osman Lins (Avalovara), mais Carpinejar, Machado, etc., etc. e até uma crítica sobre o último livro do homem que aquela revista mais detesta no mundo, o homem que quer mamar nas tetas do Estado, o hediondo e repugnante Marcelino Freire.

Não recebo comissão, mas se algum de meus sete leitores quiser assinar o jornal é só mandar um e-mail para [email protected], aos cuidados de Rogério Pereira. Custa R$ 30,00 por semestre. Quando ele  chegar pelo correio – o jornal, não o Rogério -, vocês verão que é baratíssimo. Tenho alguns amigos em Curitiba que já estavam me deixando na dúvida, mas depois do Rascunho, ficou provado definitivamente: não há só bundões em Curitiba.

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