Há nove anos, ocorreu uma história incrível. Uma amiga minha foi acusada por um jornal de ter planejado o sequestro de uma figura pública. O sequestro deveras acontecera, só que… Ela tomou um susto e acabou fugindo para o Chile, onde ficou em casa de amigos. Na hora, não soube defender-se e, talvez assustada, sumiu, perdendo grande parte de suas relações por aqui, que provavelmente acabaram acreditando na notícia. Eu fiquei pasmo e à princípio dei crédito à coisa. Algumas horas depois, pensei melhor e cheguei à conclusão clara de que não era possível, mas que com o passado político de minha amiga, poderia haver alguma má vontade do jornal para com ela. Escrevi-lhe um longo e-mail, aproveitando o fato de seu endereço ser pirandello@xxxx.com, algo que automaticamente faria com que eu não a denunciasse. Começamos a nos comunicar e ela me disse que estava contratando um advogado para processar o jornal. Ganhou o processo, claro. Espero que aquelas duas páginas inteiras, cheias de invenções, tenham recebido a vingan$$a merecida. Hoje, olhando uns e-mais velhos, reli o último que ela me escrevera. Faz tempo.
Querido Milton,
há cinco anos quase exatos recebi um e-mail em que dizias “é bom ter notícias do além…”. Menos de três meses depois, foste a única pessoa com quem pude fazer um desabafo sobre a doença da minha mãe. Eu estava longe. Como em toda aquela troca de “inter-planos”, recebi novamente de volta um consolo nada piegas, apenas fundamental, como foi fundamental cada uma das tuas mensagens daquele período, porque em grande medida foram elas que me permitiram “voltar do além”, servindo como uma espécie de fio condutor para não me perder no limbo. E não há exagero nisso. Gostaria de poder e saber retribuir à altura, mas, como quase sempre, só tenho para dar um abraço apertado e um conta comigo que não é, absolutamente, um cliché.
E pensei que não há retribuição maior do que ler este agradecimento.
Que um dia, se precisar, alguém seja capaz de fazer o mesmo por você…
Não dá mesmo pra ser modesto com tamanha prova de amizade. Orgulho justo se chama felicidade.
Pirandello…uhmmm. Acho que é a mesma de uma história que não me saiu da cabeça, sobre o filho que se apaixonou por uma aranha caranguejeira.
Putz… Acertaste.
É, Milton,
somos matemáticos…
Então eis um poema
à amiga do Milton…
MATEMÁTICO
by Ramiro Conceição
Em um dia, necessito
de 12 horas sagradas
e 12…sem fantasmas!
Sou metade,
mas multiplico
para ser inteiro.
Sou metade,
mas divido
até o ínfimo.
Sou metade,
mas sonho,
a somar: infinito.
E a subtração?
Nunca. Nada.
Pois destruo
à construção
de tudo!