Vou ler este livro, imagina se não. O tema do pai que aceita tirar o filho da escola para educá-lo vendo filmes é maravilhoso. O post abaixo, com foto, título e tudo, foi retirado daqui. (Acho que a blogosfera portuguesa é melhor que a nossa, a amplitude de assuntos é maior. Fazer o quê?)
Hoje em dia, quando vou ao cinema, estou sempre a prestar atenção a tantas coisas, ao marido que fala com a mulher umas filas mais à frente, a alguém que acaba as pipocas e atira o balde para o corredor. Estou atento à montagem, aos maus diálogos e aos maus actores; às vezes, vejo uma cena com muitos figurantes e dou por mim a pensar: serão actores de verdade, estarão a gostar de ser figurantes ou tristes por não estar na ribalta?
Por exemplo, aparece uma rapariga no centro de comunicações no início de ‘007 – Agente Secreto’. Tem uma ou duas falas, mas nunca mais volta a aparecer no ecrã. Pergunto-me o que terá acontecido a todas aquelas pessoas que aparecem nas cenas de multidões, nas cenas de festas: o que é que acabaram por fazer na vida? Terão desistido de representar e escolhido outra profissão qualquer?
Todas estas coisas perturbam a maneira como vejo um filme; antigamente, podiam disparar uma pistola ao meu lado que não me teriam desconcentrado das imagens que se desenrolavam no ecrã à minha frente. Por isso revejo filmes antigos – não apenas para os ver novamente, mas também na esperança de voltar a sentir o mesmo que da primeira vez.
David Gilmour, no livro “O Clube do Cinema” (Pergaminho, 2011)
Que tema interessante! Uma coerência de Gilmour que o remete a The Wall. Eu às vezes brinco com o pessoal aqui de casa. Qual cena de figurante você faria? Talvez um jornaleiro que, banca, entregasse o jornal com uma manchete bombástica. Ou um barman que recusasse por mais uma dose de tequila ao inconsolável mocinho, mas se renderia à gorjeta de 100 dólares.
Adorei!
A contra-indicação sou eu mesmo, um exemplo acabado de educação fundada não nas salas de conhecimento (bibliotecas, aulas, laboratórios) mas nas de cinema: dispersão, distúrbio de atenção, tendência ao delírio e sentimentalidade infantil. Vejo no espelho que não funciona: além de tudo isso, e de ser vítima da insalubridade de alguns cinemas, o sedentarismo aplicado na forma de gordura pelo corpo.