A audiência

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A audiência da ação que Mônica Leal move contra este blogueiro foi rotineira, penso. Houve um pouco de emoção antes do início, quando descobrimos que minha filha não trouxera sua identidade, o que não permitiria que ela depusesse. Ela saiu correndo para buscá-la — moramos próximo ao Fórum — e, quando entrou no elevador, deu de cara com Mônica. Outro elevador, a mesma Mônica. Cenas análogas, para quem lembra do post.

Sem reconhecê-la, a autora da ação perguntou a ela se ali era o segundo andar. Depois a Bárbara me contou que lhe respondeu da forma mais detestável com seu Esgar Nº 1, um no qual uma careta indescritível é acompanhada de um som semelhante àquele que os Estegossauros costumam emitir quando de seu segundo AVC.  Parece que a atuação foi acompanhada de um braço que apontava para o enorme número 2 que estava pintado na parede. O Esgar Nº 1 é uma das coisas que mais me irritam na vida, pois, além do som, a Bárbara consegue estampar em sua cara o quanto somos idiotas, em sua opinião. (Uma adolescente. <— Esta expressão a irrita profundamente. É meu contra-ataque. Fecha parênteses).

Ela voltou a tempo, claro. Ela queria falar. A coisa começou com a identificação dos contendores e a entrevista de Mônica Leal. Fiquei fora da sala, caminhando de um lado para outro com minha filha, que fazia planos do que iria dizer enquanto eu me preocupava com o longuíssimo, épico, alentado e volumoso depoimento da nossa ex-Secretária de Cultura. Quando, após décadas, fui convidado retornar à sala, não fui ouvido — não imaginava que não seria necessário ouvir minha voz ainda hoje gripada. Foi então chamada uma das pessoas que estavam no elevador, a Dra. Rosanna Nejedlo, que foi perfeitamente veraz e depois minha mulher, que foi idem até demais.

Então a juíza fez uma cara de torturada para meu advogado e perguntou se ele achava necessário a oitiva de minha filha de 16 anos. Ele me passou a pergunta e eu, interpretando o rosto da juíza como um “não é necessário, já entendi tudo”, respondi que não achava necessário. É claro que, na saída, quase apanhei da Bárbara, principalmente depois de confessar que o culpado por sua dispensa era euzinho.

— Pô, eu vim, busquei correndo a carteira e nem pude dizer as coisas que queria dizer? Eu ia te ajudar.

— Babi, tive a impressão de que a juíza não estava muito a fim.

— MAS EU ESTAVA!

OK, OK, tranquilo… Meu excelente advogado, o Dr. Marcelo Bidone, despediu-se de nós e ainda me ligou no outro dia para fazer alguns comentários sobre as possibilidades. Estou revendo minhas opiniões a respeito destes profissionais.

O gozado é que meu estômago, sempre tão impecável e pronto para qualquer mesa e copo, estragou de vez. Mas talvez seja essa maldita gripe. Agradeço a todas as mensagens de apoio aqui e no twitter. Aqui a coisa foi mais séria; em 140 caracteres, recebi as mais engraçadas mensagens. Houve uma que me fez cair os “butiá do bolso”, né?

~o~

Também pelo twitter, a Elenara (@ElenaraLelex) distribuiu uma foto absolutamente revoltante. Um absurdo flagrante da polícia carioca. O que é o jato?

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23 comments / Add your comment below

  1. Milton,

    Quanto ao processo, toda a minha solidariedade.

    Quanto a foto, o jato aparentemente é “spray de pimenta”.
    E “absolutamente revoltante” é pouco, muito pouco…

  2. Eu ainda me impressiono com o potencial Kafkaniano disso tudo. Você é alvo de uma grosseria sem tamanho. Reclama, como é justo que se reclame quando somos alvo de grosserias sem qualquer justificativa. E, ao fim de tudo: VOCÊ é processado. Às vezes o mundo é tão non sense que perde a graça.

    Estou na torcida para que, ao menos a juíza tenha bom senso.

    Sobre a foto: eu vi ontem, fiquei chocada, mas não entendi exatamente ao que se refere.

  3. Milton, o bom disso tudo é que, a Mônica Leal perdendo o processo, você DEVE responder processando-a por calúnia e difamação. Eu ganhei 3 mil reais com isso. (O melhor não é o dinheiro, mas a vingança!). Se lembra que há vários meses te disse que participei de uma audiência em que era acusado por algo que supostamente havia feito em meu serviço? Pois então, o juíz julgou improcedente a ação, arquivando-a, e eu, no mesmo dia, entrei com representação por danos morais. O valor afixado por meu advogado era de 19 mil. Foram várias as oitivas, em que a pessoa teve pagar fortunas a um advogado de defesa vindo de outra cidade. Por fim, porque coisas desse tipo são mais atrasos espirituais do que prova de que não se deve mexer com caras que não são de todo burras, aceitei o acordo de encerrar a questão por 3 pilas e uma retratação formal (escrita por mim, assinado pela outra parte) num veículo da imprensa.

    Ahhhh! Sangue nos dentes!!!!

  4. Sobre o processo, seria coisa de dar vergonha à autora; mas parece que o caso é justo o inverso, com o que, bem, a juíza deve morrer de tédio com esses pequenos entreveros urbanos.

    O caso da foto é, sim, o tal spray de pimenta, usado contra manifestantes em Niterói, vítimas dos deslizamentos no Morro do Bumba, e que estavam reivindicando, com toda Justiça, liberação das parcelas em atraso do tal “aluguel social”. A Prefeitura, além de não resolver o problema das pessoas, decorrente de uma catástrofe natural que contou com uma bela ajudinha humana, ainda chama a polícia, com toda a sensibilidade que ele tem no trato com os despossuídos, para “resolver o problema”. Com isso, intensificaram a revolta geral, com desdobramentos que implicarão, decerto, numa e noutra demissão eno afastamento de alguns policiais, enquanto um rapaz, vítima do tal spray, teve seus olhos semicorroídos, quase certamente a necessitar de implantes de córnea, e isso apenas porque ele estava lá, pacificamente, sem gritar ou se dirigir a nenhum PM. As velhas classes dominantes brasileiras não aprenderão nunca, restando-nos aguardar pela morte natural de um a um de seus integrantes, e esperar que a “educação” por elas ministradas não tenham o alcance de reproduzir seus atos e princípios.

    Cara, é de dar nojo.

    Mas toda esse indignação de classe média, é claro, não é porra nenhum diante da violência que o maior contingente dos cidadãos brasileiros tem que suportar dessa escória – e em silêncio porque qualquer reação merece a intolerância de quem se vê somente de posse dos direitos (e dos exércitos, das polícias, das instituições), cabendo aos demais o dever de a tudo obedecer e tudo calar.

    Cara, mas que catarse mais importente a minha!

    1. Mas ele não está ATACANDO manifestantes ou qualquer coisa que pareça isso nessa foto. Está atacando uma criança, UMA CRIANÇA!! Que diabo de perigo aquelas meninas estão oferecendo ao “homem da lei”? Vai o que? Passar meleca na farda dele? Ou ela está armada?
      Isso não é caso para indignação impotente da classe média. Eu quero a demissão desse cidadão! Eu quero ele sem farda. Spray de pimenta nos olhos de uma criança!? Os pais não podem dar uma palmada para corrigir os filhos, mas esse desgraçado pode atacar duas meninas pequenas e vai ficar por isso mesmo?
      Não. Não mesmo!
      Quem é que a gente incomoda para fazer essa joça que chamamos de país funcionar como deve?

      1. “Quem é que a gente incomoda para fazer essa joça que chamamos de país funcionar como deve?” Por exemplo, a Prefeitura. E eles mandam PMs com spray de pimenta e cassetete pra cima da gente, como fizeram com os niteroienses.

        Justo como eu escrevi: indignação impotente de classe média. Não?

  5. Isso dos policiais não configura mais na seção das “coisas revoltantes”. Essa fase, passamos. Estamos num nível social muito mais evoluído do que este, daí parecer TÃO anacrônico imagens como estas. Que acontecem às fartas, acontecem. Todos os dias, todas as horas, em todos os estados brasileiros. Mas não estamos mais passivos. Em Goiás, como vcs viram, foi desmontada uma grande rede de policiais militares exterminadores. Todos presos. Em represália à imprensa, que capitaneara as denúncias, o comandante geral da PM ordenou uma frota inteira de policiais em camburões, com os torços de fora, as caras ameaçadoras, fuzis à mostra, dando voltas em torno da TV Anhanguera, retransmissora da Globo no estado. Um prato cheio dos otários para a imprensa. As imagens saíram ao vivo pra todo mundo ver. Aquele bando de paus mandados que mal sabem assinar os próprios nomes, no flagrante de um crime que nem sequer imaginavam que o fosse. “Somos puliça, nóis pode fazê isso.” “Nóis pega e mata, mermo.” A única informação que possuem data de trinta anos, quando essas coisas eram possíveis. Desconhecem o sentido de redemocratização, internet, direitos civis, abuso de poder. O comandante foi destituído do caso, e os outros militares presos no quartel, que infelizmente não pegou fogo, mas São Francisco já deu sinal.

    1. Isso é no Brasil todo. Hoje mesmo, em São Paulo:

      “Relatório da Polícia Civil paulista aponta grupos de extermínio formados por PMs como responsáveis pelo assassinato de 150 pessoas na capital entre 2006 e 2010, informa a reportagem de André Caramante.

      Entre as vítimas, 61% não tinham antecedentes criminais. Outras 54 pessoas foram feridas em atentados em que PMs são suspeitos –69% sem passagem pela polícia. “

        1. Concordo com a Caminhante, ser prático é uma virtude. E Milton, quando sai o parecer final da juíza? (eu não entendo destas coisas, mas me parece, pelo seu texto, que isso leva um certo tempo). Todo o meu apoio até lá, então!

        2. Ok, mas é um saco lidar com a frustração dela. Ela queria ter sido útil, queria ajudar. Foi preterida.

          Mas tb é verdade que a juíza talvez já tivesse o caso bem caracterizado em sua cabeça.

  6. Achei acertado preservar a Babi, apesar da vontade dela de colaborar. Ela está num momento da vida em todos desejamos afirmar nossa individualidade mas somos muito “inflamáveis”.
    O advogado da outra parte poderia tentar provocar uma reação desagradável.
    Eu, na idade dela, adoraria depor. Defenderia com paixão minha tese – ainda mais coberta de razão como ela está e atingida pela mesma grosseria como foi – mas não sei se teria a calma suficiente para suportar provocações…
    Eu me vejo muito nela. Nossa querida Babi é decidida, transparente, idealista e impetuosa como eu fui.
    Demora-se a aprender a lidar com o diabo que mora em nós e a vencer a imensa revolta que nos toma ao ver certas injustiças.
    Também é verdade que a juíza não estava mais nenhum pouco a fim e isso conta num processo…

    1. Ora, Claudia,
      se a outra parte viesse com provocações com a Bárbara, caberia justamente ao advogado de defesa se contrapor.
      Aliás, tal situação já deveria ter sido esperada previamente, pois, se não, o que a Bárbara foi fazer na audiência?

      A Bárbara deve estar uma arara, e com razão; ou não?

  7. Bom senso é coisa rara entre os magistrados. Mas a juiza do caso me parece ter agido corretamente. O que disseram a Cláudia e a Caminhante tem toda a procedência.
    Estou bem longe, mas creio que podes aguentar a indignação da Bárbara com a tranquilidade de ter acertado, Milton.

  8. Milton, desculpe não ter lido os últimos emails e prestado a devida solidariedade, desejando que a justiça se desse. Mando aqui do Rio um forte abraço e toda a minha torcida para que se dê o melhor para você e os teus.

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