Houve uma época em que eu trabalhava com M e J. Nosso chefe era B e todos nós trabalhávamos na empresa R. Era uma pequena equipe de 4 pessoas contratadas para desenvolver um imenso e complexo projeto desde o ponto zero. Prazo: 3 meses. Um verdadeiro absurdo. Todos, inclusive a empresa, sabiam que era quase impossível finalizá-lo a tempo. Era 1986 e nossa obra era um aplicativo de informática — escrito na linguagem C — , um sistema de automação com processos conversando aqui e ali. B era um chefe colaborativo, pegava no pesado junto com a equipe, mas costumava irritar-se ao paroxismo com as mancadas de J e com a irresponsabilidade de M. Estava sendo pressionado e, na época, descontrolava-se facilmente.
M poderia ser chamado de gênio. Era-o, efetivamente, e de uma forma bem típica. Costumava fazer seus próprios horários, discutia detalhadamente cada nova rotina do sistema e realizava-a sempre com brilhantismo… e atraso. Só que seu trabalho era tão impecável e perfeito que era melhor esquecer a questão dos horários. J trabalhava absurdamente, mas era mais ou menos o oposto. Tecnicamente muito bom mas extremamente desatento, costumava esquecer de “detalhes” fundamentais. Resultado: todos nós, tensos, acabávamos brigando e eu, que era um humilde carregador de piano, tentava assumir uma função extra de psicólogo do grupo.
Um dia, a coisa quase chegou às vias de fato. Um programa do gênio M deixara de funcionar no exato momento de seu papinho com um de J. M dissera: o meu está perfeito, o problema é lá. Só que a coisa estourava aqui no de M. Após dias de pesquisa — e não podíamos perder tempo — descobrimos que o programa de J destruía o código de M dentro da memória do computador. Uma coisa de louco. Como J já tinha uma fama de desatento, o mundo caiu sobre sua cabeça. Até hoje não sei como J não foi expulso do grupo naquele momento.
Porém… logo após esta crise, um outro processo começou a ocorrer. M e J passaram a beber cerveja e a sair juntos. Logo o inteligente M viu que sair com o esforçado J tinha suas vantagens. J era alto, magro — um homem longilíneo, passadas largas, pernas fortes, diria o comentarista esportivo Ruy Carlos Ostermann — e trazia mulheres e amigas para o diminuto e, digamos, ineficaz M. A partir daquele momento, vimos que M passou a proteger J mesmo contra B e o projeto. Muitas vezes realizava as partes mais difíceis do trabalho do amigo a fim de que não houvesse problema e os dois pudessem sair cedo para os bares e festas
Foi nesse ambiente que conseguimos entregar o projeto. É claro que faltavam coisas que a gente tinha que compensar com trabalho. Um dia, houve nova e espetacular explosão e essa eu parei para ver porque foi lindo: M acusava J de não apresentar-lhe as mulheres e J, com maior calma, explicou que uma delas tinha dito que não queria conhecer o pigmeu do cabelo molhado. Putz, eles quase se mataram na minha frente. Para sorte de todos, B estava ausente no momento da crise de ciúmes.
É óbvio que logo depois tudo voltou ao normal. M estendia seus finais de semana, retornando sempre terça-feira. Quando sumiu por um mês, foi demitido. Com a demissão, J ficou e logo mostrou-se muito competente.
M era um problema para ele? Ignoro.
Não os vi neste século, acho. Perdi-os de vista. Uma pena.
Hahahaha, o J eu ainda vi um dia destes … Foi namorado da minha irmã…
O M eu tive o desprazer de conhecer também, completamente louco mas extremamente talentoso e inteligente.
Bem, como isso deve ter um alcance mais literário que biográfico, não entendi porra nenhuma. Caso tenha um alcance mais biográfico, como piada privada, literariamente não vale porra nenhuma. Como eu tô meio irritado, esse conto à clef tem as portas inteiramente fechadas para mim, que não sei de porra nenhuma. Mas uma coisa posso perguntar: que porra de ilustração é essa? É decoração de inferninho ou disco voador que paira para iluminar todos aqueles que não cogitam porra nenhuma?
hahahaha
É o portal de acesso ao inferninho. Acertaste!
só não captei o “linguagem C” ns
É uma linguagem de programação. Só.
eu sei. quis fazer piada, por causa dos Ms, Js, etc. esquece.
Trabalhando em outra empresa , o M foi contratado, apesar de meus conselhos, pois era muito inteligente.
No forte do projeto, ele desapareceu e o time não cumpriu o que havia prometido.
Esqueceste da V. Lembras?
Sim, M deixou muitos na mão. Até que se comportava bem conosco, se analisarmos o que fez depois…
Sim, imagina se esqueci da V!!! Claro que não, mas ela veio depois da saída do M, certo?
Falou V e até o B apareceu por aqui. Não conheço ninguém desse abededário, então compartilho da insatisfação do Marcos Nunes.
Cara C,
o B tu conheces, já trocamos posts aqui neste Blog.
Milton,
a V acho que veio depois.
Trabalhamos muito, mas era bem divertido, não? Sempre aprontávamos para o J.
Detalhe aos outros leitores, para contratar este blogueiro, levei-o para jantar em minha casa, depois de 18 codornas entre ele, a J (minha esposa) e eu, mais 6 garrafas de vinho, fechamos o acordo.
B? Sacanagem, acho que só eu não sei quem é quem nessa história toda.
PQP, era muitíssimo divertido, apesar da tensão!
Até hoje me pego pensando na imensa contribuição dos bascos para o mundo: o basquetebol, a basculante… Nosso pequeno grupo era uma superfetação de piadas! Pena o louco do M.
M,
lembras da “minha religião não permite”?
O M na época não era muito ateu não, pois nas horas de desabafo eu falava com deus, em aramaico. Lembras. Conte esta história.
Tu era programador, Milton!?
Sim, tenho uma formação estranha. Em 1986, com 29 anos, era analista.
E corria nas ruas com uma camiseta de basquete rosa e um calção azul nenê reluzente.
Depois usava o daltonismo como desculpa….
O calção azul PISCINA — segundo minha irmã — me causava problemas…. A camiseta de basquete rosa é uma licença poética de B.
Vou dizer?
Não vou dizer…
Vou dizer?
Não vou dizer…
Bem, já está dito: “Milton, andei
puxando o seu saco, lá, no Charlles”.
e eu tentando loucamente postar o q vem abaixo, ramiro, por lá, mas o blog do charlles não tá deixando, tá todo pirado… vai aqui por eqto…
GRAVIDÁDIVA
que é essa lágrima
que não ouvi inda dizerem ser resquício de uma época caduca, como o riso pela queda
que é essa lágrima
nascida sem dúvidas, correndo sem dívidas
oh, gravidádiva, que lei é essa
que é essa lágrima
que une dois vetores que se iam, opostos
que rio agora, choro agora, mareja agora
que mar é esse dessas lágrimas
do parto eu parti – que parto, não sei
– apenas reparto
Como assim, arbo??!!!
Pô, vou ter que trocar de veículo. Esse blogspot deixa IMENSAMENTE a desejar!
Tu já vais mudar de plataforma, Charlles.