Vejam só que curiosa esta matéria que me foi alcançada pelo Felipe Prestes. É uma reportagem de 20 de abril do Correio Brasiliense que dá a relação dos nove deputados e três senadores, todos integrantes da bancada ruralista, que tiveram obras e propriedades rurais embargadas por crimes ambientais e que, casualmente, pressionaram e lutaram pela aprovação do novo Código Florestal. Agora, estão numa boa.
Matéria completa aqui. Abaixo, a ilibada relação:
» Agnolin (PDT-TO)
Duas áreas embargadas em Tocantins: destruição significativa da biodiversidade e implantação de projetos de loteamentos sem licença ambiental.
O que ele diz: que já regularizou a área de preservação, demoliu a obra e reparou os danos provocados pelas construções à margem do Lago do Lajeado.
» Paulo Cesar Quartiero (DEM-RR)
Cinco áreas embargadas em Roraima: destruição de área de preservação permanente (APP), extração de minério de floresta de domínio público e impedimento da recomposição de florestas.
O que ele diz: que não utiliza mais as fazendas embargadas.
» Irajá Abreu (DEM-TO)
Duas áreas embargadas em Tocantins: desmatamento de reservas legais e APPs.
O que ele diz: que desconhece a decisão do Ibama de embargar áreas de fazendas em seu nome.
» Reinaldo Azambuja (PSDB-MS)
Uma área embargada em Mato Grosso do Sul: obras poluentes sem licença ambiental.
O que ele diz: que protocolou a defesa em 2009 e ainda não houve julgamento pelo Ibama.
» Roberto Dorner (PP-MT)
Uma área embargada em Mato Grosso: destruição de APP em áreas da Amazônia legal.
O que ele diz: que tem toda a documentação que autoriza o desmatamento.
» Augusto Coutinho (DEM-PE)
Uma área embargada em Pernambuco: desmatamento de APP.
O que ele diz: que foi concedida licença para a construção da obra que gerou o desmatamento.
» Eduardo Gomes (PSDB-TO)
Uma área embargada em Tocantins: instalação de represa que altera o curso d’água e a fauna aquática, sem licença ambiental.
O que ele diz: que a multa foi parcelada em 60 vezes e está sendo paga em dia.
» Iracema Portella (PP-PI)
Uma área embargada no Maranhão: desmatamento de APP.
O que ela diz: que tem uma propriedade rural no estado, mas nunca foi notificada por qualquer dano ambiental.
» Marcos Medrado (PDT-BA)
Duas áreas embargadas na Bahia: obras poluentes sem licença ambiental.
O que ele diz: a assessoria de imprensa afirmou que o deputado estava incomunicável no interior da Bahia.
SENADORES
» Ivo Cassol (PP-RO)
Quatro áreas embargadas em Rondônia: destruição de APP e reserva legal em áreas da Amazônia legal.
O que ele diz: que os crimes ambientais foram cometidos em propriedades vizinhas às suas.
» Jayme Campos (DEM-MT)
Três áreas embargadas em Mato Grosso: desmatamento de APP e atividade potencialmente degradadora sem licença ambiental.
O que ele diz: a assessoria informou que não encontrou o senador.
» João Ribeiro (PR-TO)
Uma área embargada em Tocantins: atividade potencialmente degradadora sem licença ambiental.
O que ele diz: não houve retorno até o fechamento da edição.
Vou publicar no meu blog. Abraço.
Cara, sem vidagens, mas estava com saudades de você. Espero que o exame de próstata e a reclusão contra os sentimentos de desopilação seguidos a ele tenha corrido tudo bem.
A Dilma disse que vai vetar. Se ela fizer isso, meu irmão, faço uma camiseta com ela e uso com orgulho. E passo a falar presidenta, também.
mas bah Véio,que coisa o Palocci hein?
Acredito que ele tenha competência de sobra p/ ganhar o que ele ganhou,nem questiono, mas convenhamos, um “cumpanheiro” de isquierda comprar um apê por seis milhões de reais (!!!!!!) é no mínimo do mínimo profundamente frustrante.Extirpe este neo-capitalista-burguês BURRO já!!!!
Quanto ao Código florestal “Luis Inácio falou, luis inácio avisou: são trezentos picaretas latifundiários com anel de doutor”
Benedito,
nós não temos medo!!!!!!!!!!!!!!!!!
Agora, se o Palocci comprovar que tudo esteve dentro do substrato do legal, por favor, não crie chifres em cabeça de cavalo…
Portanto, a discussão é outra:
é ético alguém enriquecer no seio do caminho do capitalismo?
De pronto, digo que não!
Mas, mas, mas, mas…,
então, como você, eu e todo mundo declara o seu imposto de renda?
Responda sinceramente, por favor, Benedito.
A resposta é simples, caro Benedito: estamos a viver num tempo onde o Estado nos faz ter comportamentos de bandidos!
Ramiro
trabalhei numa multinacional por anos, na área de consultoria. Dirigi-a para ser mais exato.
O sigilo, e é importante, corresponde ao que foi tratado dentro das sessões de consultoria, apenas isto. Quando um cliente solicitava não aparecer nós simplesmente não o aceitávamos pois boa coisa não era.
Aliás, segundo as normas internacionais de consultoria, eramos obrigados a divulgar a nossa lista de clientes.
Além disso, os valores cobrados por um consultor individual como o Palocci fogem a qualquer parâmetro (eu conheço bem estes valôres). Desde a Enron muita coisa foi feita para este negócio ser transparente.
As explicações do Tony Payloci ofendem a classe profissional á qual pertenço/pertenci.
Branco
Branco, respeito muito a sua opinião. Portanto, se o Palocci cometeu alguma ilegalidade que seja punido. Porém, Branco, a minha questão é outra. Não acredito no capitalismo. Tenho a mesma opinião do Marcos.
O enriquecimento no capitalismo, com raríssimas exceções, é fruto de um roubo legal, que nada mais é que o acúmulo de capital, ou seja, a criação de riqueza à custa da bem conhecida mais valia (absoluta e relativa, não entrarei em tais meandros, por aqui, pois não estou neste momento preparado, contudo, lhe garanto que conheço e sei onde está o caminho das pedras, tão bem definido pelo velho barbudo).
O capitalismo deturpa qualquer atividade humana (é só analisar a história PODRE do PIG nos últimos anos, no Brasil), pois tem como único objetivo a perpetuação do próprio capital, não há como sair disso. Portanto, se o Palocci enriqueceu de forma legal não há nada a dizer, dentro de uma ótica capitalista.
Porém, dentro da ética de um governo que declara abertamente possuir o objetivo de eliminação da pobreza em nosso país, colocar na Casa Civil um “canibalista”, me parece, para dizer o mínino, uma insensatez política. Essa é a minha questão.
A questão do PIG é outra: é provar, por projeção, que o governo Dilma é corrupto tal qual ele. O enredo é tão medíocre, que já estou farto: o objetivo não é atingir o ministro, mas a presidenta! É óbvio demais! Chega!
Acho, ramiro, que o barato é outro. Quando ELES enriquecem ou se mantém ricos com malversações tá tudo limpeza; quando são os outros, é crime inafiançável. Obviamente, simplesmente NÃO EXISTE RIQUEZA SEM ROUBO, EXPROPRIAÇÃO INDÉBITA, MALVERSAÇÃO DE BENS PÚBLICOS POR ENTES PRIVADOS. Papai Marx: toda propriedade é roubo. Não é o Estado que nos corrompe, mas o dinheiro, a lógica do lucro, do poder através da acumulação do capital. Pecados são seletivos: são sempre os praticados pelos outros. Nossos pecados são de homens santos. Amén!
Amém, Marcos.
Mas estamos ou não estamos, todos, dentro dessa maré?
A CARTA DO ÍNDIO
Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz já mais de cento e cinquenta anos. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:
“Como podeis comprar ou vender o céu, a tepidez do chão? A idéia não tem sentido para nós.
Se não possuímos o frescor do ar ou o brilho da água, como podeis querer comprá-los? Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha de pinheiro, qualquer praia, a neblina dos bosques sombrios, o brilhante e zumbidor inseto, tudo é sagrado na memória e na experiência de meu povo. A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem a terra de seu nascimento, quando vão pervagar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs, os gamos, os cavalos a majestosa águia, todos nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, a energia vital do pônei e do homem, tudo pertence a uma só família.
Assim, quando o grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós. O grande Chefe manda dizer que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente por nós mesmos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Se é assim, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Mas tal compra não será fácil, já que esta terra é sagrada para nós.
A límpida água que percorre os regatos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos ancestrais. Se vos vendermos a terra, tereis de lembrar a nossos filhos que ela é sagrada, e que qualquer reflexo espectral sobre a superfície dos lagos evoca eventos e fases da vida do meu povo. O marulhar das águas é a voz dos nossos ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, eles nos saciam a sede. Levam as nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se vendermos nossa terra a vós, deveis vos lembrar e ensinar a nossas crianças que os rios são nossos irmãos, vossos irmãos também, e deveis a partir de então dispensar aos rios a mesma espécie de afeição que dispensais a um irmão.
Nós mesmos sabemos que o homem branco não entende nosso modo de ser. Para ele um pedaço de terra não se distingue de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, depois que a submete a si, que a conquista, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. A cova de seus pais é a herança de seus filhos, ele os esquece. Trata a sua mãe, a terra, e seus irmãos, o céu como coisas a serrem comprados ou roubados, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor. Seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos. Isso eu não compreendo. Nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer aos olhos do homem vermelho.
Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e como tal, nada possa compreender.
Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o farfalhar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender.
O barulho serve apenas para insultar os ouvidos. E que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs à margem dos charcos à noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfrolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia ou aromatizada pelo perfume dos pinhos.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas se vos vendermos nossa terra, deveis vos lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O ar que vossos avós inspiraram ao primeiro vagido foi o mesmo que lhes recebeu o último suspiro.
Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir sorver a brisa aromatizada pelas flores dos bosques.
Assim consideraremos vossa proposta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, farei uma condição: O homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo de outro modo. Tenho visto milhares de búfalos a apodrecerem nas pradarias, deixados pelo homem branco que neles atira de um trem em movimento.
Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que nós caçamos apenas para nos mantermos vivos.
Que será dos homens sem os animais? Se todos os animais desaparecem, o homem morreria de solidão espiritual. Porque tudo isso pode cada vez mais afetar os homens. Tudo está encaminhado.
Deveis ensinar a vossos filhos que o chão onde pisam simboliza a as cinzas de nossos ancestrais. Para que eles respeitem a terra, ensinai a eles que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinai a eles o que ensinamos aos nossos: Que a terra é a nossa mãe. Quando o homem cospe sobre a terra, está cuspindo sobre si mesmo. De uma coisa nós temos certeza: A terra não pertence ao homem branco; O homem branco é que pertence à terra. Disso nós temos certeza. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado. O que fere a terra fere também aos filhos da terra.
O homem não tece a teia da vida: É antes um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.
Mesmo o homem branco, a quem Deus acompanha e com quem conversa como um amigo, não pode fugir a esse destino comum. Talvez, apesar de tudo, sejamos todos irmãos.
Nós o veremos. De uma coisa sabemos, é que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: Nosso Deus é o mesmo deus.
Podeis pensar hoje que somente vós o possuis, como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho.
Esta terra é querida dele, e ofender a terra é insultar o seu criador. Os brancos também passarão talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminai a vossa cama, e vos sufocareis numa noite no meio de vossos próprios excrementos.
Mas no nosso parecer, brilhareis alto, iluminado pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum favor especial vos outorgou domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será no dia em que o último búfalo for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueada por fios falantes.
Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. O fim do viver e o início do sobreviver.”
ASA*
by Ramiro Conceição
Só por hoje,
eu acredito
no acalanto
das mães…
Só por hoje,
eu acredito que
não há racismo
e que a justiça
não é constituída
por canalhas…
Só por hoje,
eu acredito
que a Terra é indivisível,
pois não somos donos
Dela; mas ao contrário
pertencermos ― a Ela
(como sabe à cores e de cor
cada aborígine da Tasmânia).
Só por hoje,
eu acredito
que a teologia, a filosofia,
a ciência, a tecnologia,
a arte e a alegria são partes
da política à sabedoria,
à liberdade humana…
Só por hoje,
penso-sinto que o amor venceu;
e que, realmente, não estamos sós
pois o seu inverso não tem sentido
nem aqui, nem ali – pra além do Sol.
Só por hoje,
eu acredito que o sagrado seja essas mulheres
a ensinar, umas às outras, a arte de amamentar.
* ASA: Associação dos Sonhadores Anônimos.
Não li detidamente o código então não dou-me o direito a uma análise mais séria, apenas a ser preconceituoso.
Isto posto, não posso acreditar boa uma lei onde:
1. TODOS os ex-ministros do ambiente escreveram uma carta contra. TODOS, seja qual for governo ou partido
2. Propõe anistia de alguma coisa para alguém
3. Foi coordenada pelo ilustre prócer Aldo Rebelo (teria ele usado algum termo estrangeiro?)
Aliás, é sempre assim a nata reacionária utiliza líderes populistas para dar um verniz muderno às suas ações. Foi assim, também com os transgênicos. Por isto hoje não há oposição, um governo de direita sendo incensado pela esquerda.
Milton, eu acho que esqueceste aí dos Vianna (PT-AC) e do caro Delcído (PT-MS).
Branco
É por isso que eu gosto do Rio de Janeiro: nós dizimamos a Mata Atlântica muito antes da emergência do tema ecológico (apesar dele estar em voga, nada surpreendentemente, desde o século XVI, por aí), e transformamos a periferia da cidade em Zona Rural, onde nasci, posteriormente transformada em cidade dormitório, de onde fugi, e por isso tudo hoje não temos sequer um deputado na bancada ruralista, só nossos distintos lobistas da milícia, da pistolagem, da banca, etc., quer dizer, só tratando dos subprodutos de nossa subcultura.
Havia uma fazenda de café que, extinta, foi transformada na Flores da Tijuca, por obra e graça (de graça, é claro) de nossos escravos africanos, o que faz muita gente suspirar pela volta da escravidão: se fosse hoje, o replantio da floresta seria economicamente inviável.
Camaradas comentários, reler o post anterior. Cuidado com as manipulações da mídia blogueira…
Ramiro,
o alemão me pegou. Não entendi nada.
Ah ta agora entendi.
Tã!
Branco,
tudo nessa vida
-se sadia! –
não passa
de brincadeiras…
O engraçado disso tudo é que a coisa apenas ficou oficializada. Não existe fiscalização eficiente quanto a preservação florestal. Algumas vezes surge momentos criados na mídia para abonar a ineficiência do IBAMA, como recentemente as multas milionárias que nunca serão pagas dispendidas no Pará (como se no Pará, onde é praxe a desvalorização da vida por algumas toneladas de madeira, justificando o assassinato, eles fossem se importar com isso). Eu vejo com profunda descrença pelo tempo perdido nesses debates sobre leis ambientais. Aqui onde moro, que é o real exemplo de uma cidade brasileira, pois são quantos milhares de municípios iguais?, o Ibama vem a cada seis meses, e os fiscais enchem o bolso. No local onde trabalho, um frigorífico de exportação, os proprietários me disseram que gastam 1000 reais a cada visita. Já vi a cara dos fiscais amuados na sala da direção, como aqueles moleques de escola à espera do recebimento do lanhce do mais fraco para poupá-lo da surra.
BARCOS
by Ramiro Conceição
Na praia de Itaparica
patéticos são os barcos.
A ESPERANÇA
descansa de papo pro ar.
A LIBERDADE,
no quebra-mar,
está prenha
de peixes
e de homens:
aqueles ao ar,
do mar,
estão mortos
sem saudade;
esses ao mar,
do ar,
são outros,
sem cidade.
O TRABALHO
ronca de bruços
sob o coqueiro,
que samba
e balança
sob o som
dum partido-alto.
Porém…
O PRESIDENTE
quase foi a pique!
Naufragou o SENADO!
A CÂMARA naufragou!
E a JUSTIÇA tá à deriva…
Digna, a DEMOCRACIA BRASILEIRA
tenta bravamente voltar à terra firme,
pois o SINISTRO se prepara sempre
para devorar os livres — seres.
No meio da ventania,
ROMEU e JULIETA
se debatem nos rochedos…
Enquanto DEUS desacreditado
parte pro além-mar com medo…
Mas quem vem lá,
no horizonte, em brincadeiras?
Ah… sempre eles,
os POETAS a voar
com fantásticas nadadeiras…