Eu acho que as reações do pessoal de nossa trincheira política à Rafinha Bastos são equivocadas no sentido de defender o politicamente correto. Claro, o cara é um imbecil e não pretendo de forma alguma justificá-lo — nem saberia como. Mas, por exemplo, acho que este elogio ao politicamente correto, que está sendo repassado, copiado e recopiado em muitos blogs de esquerda, ainda vai causar arrependimento. Ali, o politicamente incorreto aparece limitado a gente que ataca líderes LGBTs, defende homofóbicos e racistas, aplica bullying, ri dos outros por seus defeitos e defende a criminalização do aborto e a Igreja Católica (???). Sei não.
Eu concordo com o artigo quando ele ataca alguém tão desqualificado quanto o “humorista” gaúcho, mas sigo achando o politicamente correto burro. O politicamente correto, se ler atentamente Graciliano Ramos, acabará qualificando-o de alguma coisa qualquer da mesma forma como acusou Monteiro Lobato no Brasil e Mark Twain nos EUA de racistas. Em minha sacrofobia, não livro Lobato de racismo, mas daí a censurá-lo, emendá-lo ou deletá-lo vai alguma distância. Acho legal manter a complexidade das coisas. Os leitores e os professores que interpretem e expliquem Emília, por que não? O politicamente correto deveria submeter-se à Segunda Lei de Milton: Toda qualidade que possamos ter transforma-se em defeito quando algum fato externo a leva ao paroxismo.
Voltando a Rafinha. Sei que os movimentos sociais usam tais seres — refiro-me a Rafinha — como mote, base e exemplo para suas teses e têm razão nisso, mas, porra, como foi dado espaço para o cara! Eu, nesta anotação quase pessoal, digo que nunca vi o CQC e só conheço o cara de fotos. E não li ainda ninguém falando mal da TV e de sua indústria de celebridades. Caberia.
Mas as piadas são boas. Ricardo Cabral escreveu ontem no Facebook:
Projeto de lei: A partir do meio-dia de 03-10-2011, aquele que em alguma queixa, comentário, crítica, desabafo e afins mencionar as expressões “politicamente correto” e/ou “politicamente incorreto” terá o seu acesso à internet bloqueado por seis meses e deverá ficar no canto da sala, ajoelhado no milho, durante duas horas seguidas. (Maiores de 65 anos sofrerão penas alternativas.) Ficam excluídos destas medidas penas apenas os que fizerem análises mais aprofundadas sobre o uso dessas expressões.
E a resposta de Fernando Monteiro:
Acho politicamente incorreto exibir assim um tom de tanta autoridade imaginária.
Me lembrei duma vez em que assisti a um seminário do Kiko Goifman e lhe perguntaram o que ele achava das maneiras empregadas pelo Michael Moore pra fazer seus filmes. E ele respondeu que era complicado analisar as coisas sobre esse ponto de vista porque enquanto o Moore tava fazendo filmes sobre questões que ele achava pertinentes e abordando algo parecido com seu ponto de vista ele não iria achar que o cara era errado no todo. Sincero pra caramba. Claro, há muito o que se defender, várias lutas por direitos, como dos negros, dos homossexuais, das mulheres, enfim. Mas temos de tomar muito cuidado com isso. Até onde não estamos tentando enfiar goela abaixo dos outros nossas idiossincrasias sob a bandeira do politicamente correto?
O que me incomoda nessa cruzada politicamente correta nem é o politicamente correto em si, e sim a atitude de achar que todos são culpados até que se diga o contrário. Basta um termo, ou até mesmo se omitir diante de certas questões, pra ser jogado na mesma laia dos preconceituosos e reacionários.
Caminhante,
para mim a cruzada PC j´a´epor si só reacionária.
Claro que há questões que ofendem e outras não. Há falta de educação, mas o que querem estas pessoas? Nos guiar, punir. Puro puritanismo. Fica ruim exigir virgindade, véus, ect, então utilizam outras regras para pautar o comportamento das pessoas.
Na terra do PC há um termo para isto, os busybodiers. Aqueles que reclamaram da dança dos elefantes no filme Fantasia.
Engana-se quem vê fanático PC como de direita ou religioso. PC tem, ver com gente que se acha superior. Outro exemplo do PC na sua terra. Os mórmons faziam casamento post mortem, e, neste caso, sviram polígamos. Pois não é que queriam prender esses caras e o assunto foi até à Suprema Corte.
Agora há a falácia por aí de qundo famos em liberdade de expressão citam que não se pode gritar fogo num teatro cheio, como contra-exemplo. Pode sim, desde se se penhe que há fogo.
Ricardo
PS Claro que há agressões e discriminações aos montes. O duro é alguém se arrostar a ser o juiz disto.
Assino embaixo.
QUESTÃO DO SER
by Ramiro Conceição
Às escuras, às gargalhadas,
tramada é a colossal tocaia
contra a inocência que sempre crê
que o bem – é uma questão do ser.
Sem piedade ou compaixão se fere
para que a vida não cresça ou gere.
O belo cega… a escuridão insensata
que, por incompetência, por isso mata!
Quando clareia, quando chega o vento
a espalhar o dia…ainda em movimento
a inocência, ferida, brilha… e segue!
Mas a corja ao subterrâneo… desce.
Lá, onde antes havia condes,
damas, rei e rainha, agora há
somente… titicas de galinha.
O tal @rafinhabastos é humorista.
Ele faz apenas piadas: boas ou ruins (na maioria ruins, mas não é isso que está em pauta). Ganha para falar bobagem, a qualidade dessa bobagem nem está em questão.
O que eu não entendo é como, nem porque, se leva tudo o que ele diz a sério.
Ele pode falar o que quiser, ninguém deve levar a sério, PORQUE deveria?
O problema é o que políticos eleitos falam. O que os juízes falam.
Porque isso não ganha a mesma dimensão?
Assino embaixo.
” mas sigo achando o politicamente correto burro e direitista como era em sua origem.” Falou, Milton.
Milton, te livraste de ajoelhar no milho 😉
Quanto ao texto da Cynara Menezes que você mencionou andar circulando por aí, escrevi ontem um comentário no Google Reader:
Gosto muito das reportagens, textos e tuites da Cynara, mas para mim este daqui me deixou um travo amargo. Ela diagnosticou e desmascarou com propriedade o discurso que sustentava a turma do “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano” — aliás, nada como a passagem dos anos para mudar as coisas de lugar —, só que ao escolher criticá-los usando as mesmas ferramentas deles, colocou-se no mesmo plano que eles.
Podia ter feito diferente
Pois é.
Não há pessoa mais engraçada do que a Lola Abramovich (sic, não sei o nome da dita). Devo confessar que visito o site dela todos os dias, mas não leio os post. Dos comentários, só leio os que não começam com “Lola, como vc é genial”. Os que são contra ela, uma quantidade pra lá de razoável, é que são o filé mignon do blog. Uma mulher igual a lola é algo dificílimo de digerir. O “feminismo” dela é muito tosco e mal fundamentado, e o azar é que ela cai demasiadamente fácil na bajulação das suas “feminigetes”, uma turma de moçoilas que se acha esclarecida porque divide o mesmo fundamentalismo contra qualquer espontaneidade masculina. E piora ainda mais o fato dela ser petista fundamentalista. O marido dela tem crédito com as próximas mil encarnações.
Uma das comentaristas dela estava indignada porque achava que o Silvio Santos estava assediando sexualmente as suas assistentes de palco.
Nonsense de matar de rir.
Milton,
Há um pequeno equívoco em seu texto:
“sigo achando o politicamente correto burro e direitista como era em sua origem.”
O texto do Idelber Avelar mostra que a expressão “politicamente correto” foi difundida pela direita para designar um comportamento da esquerda — as ações que deram origem ao termo são esquerdistas. A direita, em contrapartida, assume para si o “politicamente incorreto”, que seria a defesa da liberdade, a luta contra a caretice.
Não deixa de ser curioso observar o comportamento de ambos os lados: eliminar palavras das obras de Monteiro Lobato e Mark Twain não vai alterar o modo como os dois autores viam o mundo; por outro lado, desqualificar a busca de direitos sob a égide da “defesa da liberdade” é de um elitismo ímpar (direito é bom só se for para mim, não para o outro).
Ricardo, fiz a correção.