De Ricardo Ramos Filho, no Facebook:
Tenho lido com muito incômodo algumas manifestações sobre a saúde do ex-presidente Lula. Gente que sugere que se trate pelo SUS. Aqueles que me conhecem sabem que não votei nele e que sou muito crítico às suas posições, mas embrulha-me o estômago perceber todo esse ódio. Política para mim é debate de ideias e nunca desejo de morte. Por trás dessas manifestações existe um comportamento mau, insensível e pouco ético. Como seres humanos, eu e ele, torço para que se recupere bem.
Só que teve um amigo ou parente passando por esta situação, sabe como é difícil. Penso que nem Rafinha faria uma piada com este assunto.
Começo a duvidar do Nelson Rodrigues. Acho que ninguém é mais solidário. Nem no câncer.
Interessante e correto.
O Reinaldo Azevedo também escreveus posts com esta mesma idéia e disse que “censurou” diversas mensagens, tamanha a grosseria.
Eu sei que as idéias dele são contrárias à destre blogueiro, mas vale a pena ver a reação.
Particularmente, deixei de ler o Mino Carta quando ele disse que o Mainardisó sabia gerar paralisia cerebral, em referência a seu filho. Não me importa o que ele é ou não, mas é o mesmo caso agora, como foi o da Dilma
Interessante as entrelinhas não percebidas nesse texto: a de que desejar o SUS para o tratamento do presidente soa indubitavelmente como condená-lo à morte, e aviltá-lo a um sofrimento terrível e desonroso. Li vários post de diversos sites falando sobre a doença do Lula, inclusive os da Veja, e o critério da maioria dos comentários contrários à piedade natural exigida é a de inserir o Lula entre as filas de espera do SUS, amontoá-lo nas camas arranjadas às pressas e deixadas ao deus dará nos corredores do hospital; um deles aponta o imediatismo entre o diagnóstico e o tratamento do ex-mandatário do país, três dias !!!!, sexta-feira o diagnóstico, segunda-feira o início do tratamento, e o mesmo comentarista conclui que um parente seu levou 9 meses entre uma etapa e outra.
Meu pai só conseguiu uma vaga no Hospital Araújo Jorge, instituição pública especializada em oncologia de Goiânia, por que minha família recorreu a importantes amigos influentes. Meu pai veio de Rondônia e se internou no hospital. Entre um exame e outro em que eu lhe acompanhava, o excesso sensorial de ver centenas de pessoas sentadas à espera de tratamento, a grande maioria com seus tumores à vista já numa fase deformadora (um homem com ar estupidificado que era difícil olhá-lo, com um cancro cinco centímetros saindo pela cabeça careca).
O brasileiro é um ser cordial, como escreveu o Sérgio Buarque. Por que não considerar como legítimo que não desabafe o que não chega a ser mais revolta ou indignação, mas puramente resignação, o que sente em relação à situação caótica da saúde pública brasileira (uma das mais tributadas do mundo, mas uma das mais abomináveis e desumanas e ineficientes) simulando que um dos que poderia ter começado a mudar tal situação experimente o que milhôes de brasileiros sofrem todos o dias?
Em não tenho relutância nenhuma em dizer que gostaria mesmo que o Lula tivesse a oportunidade esclarecedora de receber seu tratamento como um brasileiro comum nas filas do SUS. Ninguém que aventou a hipótese (a qual não foi percebida ser inócua a qualquer maldade, já que se trata de uma sugestão retórica: o Lula jamais receberia tal tratamento precário e todos os opinadores sabem disso) desejou a morte de Lula, assim como eu também não desejo (que Deus o proteja, sinceramente!). Desejaram, tão somente, que ele tenha o mesmo tratamento que muito provavelmente vários deles, ou conhecidos deles, passaram.
Desejar o SUS para o Lula é como desejar a pior das mortes, o que se denuncia como sobrehumano e cruel_ isso traz incutido um retrato sociológico mais eficiente do que muitos tratados acadêmicos lidos por aí.
Uma das mais desumanas e ineficientes? O SUS se propõe a muito e consegue pouco, mas ele ao menos se propõe. Acho muito mais desumano partir do pressuposto que a saúde é para quem consegue pagar e ponto final. Tratamentos como de câncer são de alta complexidade, caríssimos, e o SUS se propõe a pagá-lo. Idem aos remédios de HIV, que são distribuídos em postos de saúde. Demora, falha, mas o tratamento é oferecido. Você viu Sicko, de Michael Moore? O sujeito corta o toco de dois dedos e tem que escolher qual deles consegue pagar pra colocar de volta. Outro morre de leucemia porque o tratamento é caro demais e o plano de saúde arranja uma desculpa para pagar. Isso sim é desumano.
*arranja uma desculpa para NÃO pagar*
Queria saber quem pagou a conta do tratamento do presidente do Paraguai.
Quem vai pagar a conta do tratamento do ex-presidente?
As consultas da minha velha, cardíaca, são de seis em seis meses…
Caminhante, o SUS “se propõe”, creio que você quer dizer que “certos funcionários desabnegados e humanos que trabalham no SUS” é que se propõem a fazerem mais que o Estado oferece. Meu pai foi tratado pelo SUS, e ele obteve sim o melhor tratamento médico (tão bom quanto um particular) porque, como disse acima, nós tivemos que usar de maracutaia. Minha mãe é da Defensoria Pública, e, mesmo separados há quase trinta anos, ela moveu céus e terras da burocracia para conseguir colocar o nome do meu pai na posição de um dos primeiros da lista. Mas 99% dos tratamentos do SUS_ não só na cura de casos de câncer_ se chocam de contra o descaso do Estado. Meu pai teve quarto individual, e um médico ia lhe ver a cada 4 horas. Mas isso_ o que me envergonha muito, apesar dos apesares_ porque teve juiz de primeira classe movendo os pauzinhos. Os demais pacientes sobreviviam atulhados em enfermarias e às vistorias de enfermeiras distraídas.
Já comentei lá no meu blog sobre o constrangimento que senti ao consultar meus filhos pelo pediatra do SUS.Uma vez para nunca mais. O pediatra é um amigo de infância, me atendeu prontamente, me passano à frente na fila, e demorou cerca de uma hora dando-nos atenção. Quando saí, havia uma multidão de mães enfurecidas, sentadas com os filhos no colo.
E, convenhamos, SUS é sinônimo de morte. Para agravar ainda mais, dispensa até o lenitivo de uma morte pacífica, mas com muito sofrimento e desonra. Na certa você viu que no início desse mês a imprensa reportou dois casos corriqueiros: duas pessoas que morreram de frente às câmaras, sem nem mesmo terem entrado na fila de espera.
Não vale comparar com a saúde pública dos EUA. A ineficiência de lá tem a ver com um exótico anacronismo; aqui…porra, aqui é tudo uma merda e um pau no cu como sempre.
Eu poderia fazer lá no meu blog um post de dois dias de comprimento narrando os fatos que eu coleciono para mim só dos crimes de descaso e má medicina que acontecem aqui na minha cidadezinha morta de 20.ooo habitantes. Um dos últimos atendimentos do SUS teve uma menininha de 8 anos morta por a enfermeira atender à prescrição do médico de injetar glicose em seu corpinho diabético.
Concordo plenamente com o Charlles Campos! Achei extraordinário o argumento “Política para mim é debate de ideias e nunca desejo de morte.” Como se cogitar (apenas no mundo da crítica, é óbvio, pois todos sabem que ele nunca iria ser tratado pelo SUS) fosse desejar a morte!
Não, Charlles, quando eu disse se propõe eu não estou falando de pessoas abnegadas dentro do sistema, e sim do que o estatuto se propõe. O SUS entende que se eu chegar lá desempregada e com leucemia, eu devo receber atendimento. Mesmo sem estar contribuindo e mesmo sendo esse um tratamento caríssimo. Eu mereço atendimento porque moro aqui e estou doente, pronto. Essa é a diferença fundamental entre o SUS e o sistema americano, por isso vale sim a comparação.
Só que essa é uma proposta que acontece num país gigantesco, desorganizado e corrupto. A mistura do SUS com a medicina particular permite que a estrutura montada pelo Estado seja usada a bel prazer de médicos, planos de saúde, jeitinhos brasileiros. Não vou defender o indefensável e dizer que não há demoras injustificadas e que quem é muito pobre sofre muito mais. Ninguém, podendo optar, quer enfrentar as filas do SUS. Mas as filas existem porque se entende que o atendimento médico é um direito do cidadão e que fornecer isso é uma obrigação do Estado. O que não é tão óbvio assim.
Fernanda, costumo dizer a minha esposa que eu estou em déficit com o meu plano de saúde. Neste último ano, ela passou por duas cirurgias cobertas pelo nosso plano, que já compensa tudo que paguei: particular, sua cirurgia cardíaca seria de 15 mil reais, e a que teve de fazer meses depois de remoção da visícula, seria de 5.500 reais. Isso, na época da crise e greve dos planos de saúde!!!
Mesmo os que pagam, não são acobertados pelo Estado.
Mas o nosso idolatrado Lulla, assim como ele afirmou ao defender o José Sarney, um dos maiores assassinos da História desse país, é uma personalidade acima do normal um ser excepcional!
O povinho brasileiro sempre vai ser ufanista e adorador. Que salvem o Lula, o novo pai dos pobres! E quando aparecem dispersas manifestações demonstrando uma incipiente reação a essa idolatria bestial, mesmo diante a uma situação de risco real a que esteve submetido o Lula fumante e alcoologista por 50 anos, são tidas como atos da mais canalha crueldade.
Concordo com você, Charlles Campos, só quem passou pelo SUS sabe o que é o inferno na saúde desse país, exatamente como descreveu e que eu tive o desprazer de passar por esse horror com a minha mãe. É um amontoado de pessoas necessitadas precisando ser atendidas e os médicos e enfermeiros tensos e estressados por não terem condições de atender com qualidade e dignidade. Por isso estou providenciando plano de saúde para os meus pais ! Curioso que o simples fato de indicar esse sistema de saúde ao Lula é entendido como uma sentença de morte. Veja em que situação está o povo !
Infelizmente não concordo com o “jeitinho brasileiro” que o Charlles relata que usou. Porque, enfim, isso também é um modo de corrupção e é por coisas assim também que o sistema não funciona!
Porém, entendo que em horas de desespero em relação à saúde a gente faz qualquer coisa. Não sei qual o sentimento de ver morrer nos seus braços um ente querido pela negligência de outro, mas justamente por não querer saber isso é que tomamos certas atitudes.
Mas tenho sido vilipendiada e agredida com coisas do tipo “reaça”, “elitizada” e afins porque concordo com isso:
O povinho brasileiro sempre vai ser ufanista e adorador. Que salvem o Lula, o novo pai dos pobres! E quando aparecem dispersas manifestações demonstrando uma incipiente reação a essa idolatria bestial, mesmo diante a uma situação de risco real a que esteve submetido o Lula fumante e alcoologista por 50 anos, são tidas como atos da mais canalha crueldade.
Sempre falei mal de quem tem problemas de saúde por causa do cigarro, por exemplo. Agora porque é o Lula ninguém pode falar nada?! Tornou-se ser inatacável?!
Não tenho isso como um dos meus momentos mais admiráveis, Fahya. Acredito ser um ser humano deficiente em vários sentidos, mas o uso criminoso de vantagem no serviço público me pesa demais, a um ponto que você não consegue saber. Meu pai tinha dinheiro para o tratamento, e tinha como certo que iria recorrer a ele. Mas minha mãe não permitiu: o modo dela de mostrar poder, pagar algumas dívidas pessoais e íntimas com o ex-marido, vingança, seja lá o que for não vem ao caso aqui.
E as consultas de meus filhos pelo SUS foi um convite desse pediatra amigo do qual não pude escapar. Agora trato com ele pagando a consulta_ infelizmente ele não atende pelo plano de saúde.
Meu pai faleceu. Era um caso irreversível. Mas…a sobrevivência é tudo. Não consigo acusar tão prontamente um pai que recorre a favoritismos para socorrer o filho, (não é isso que você fez, eu entendi perfeitamente bem) ainda mais no Brasil, onde a ascensão tribal se dá com quem tem mais moral com os caciques.
Eu tenho muita afeição pelo povo brasileiro, que não é perfeito, como nenhum povo é. E acho triste quando pessoas se referem a ele de forma tão pouco respeitosa. Faço parte desse povo, minha família faz, meus amigos fazem.
Assim como penso que os doentes – todos – merecem respeito e solidariedade. Não acho que os fumantes, os consumidores de drogas ou coisas piores, não acho que eles sejam culpados das próprias doenças. Seguindo esse raciocínio, deveriamos culpar também os obesos, os sedentários, os que comem muito chocolate ou bebem muita coca cola por suas doenças. Acho um tanto cruel e pouco solidário esse tipo de raciocínio.
E o ódio por Lula parece mesmo incontrolável… que pena.
O Sistema Único de Saúde, enquanto concepção e proposta de atentimento universal (foi pensado para atender 190.000.000 de brasileiros e mais todo e qualquer estrangeiro que aqui esteja ou resida) é muito bom. O SUS faz, atualmente, 300.000 procedimentos de alta complexidade e fornece medicamentos caríssimos para 700.000 pessoas (da classe A a classe D, sem distinção). Obama, por sugerir uma simples cobertura de tratamento para 37.000.000 de americanos, foi acusado de socialista (a ofensa mais grave que um político americano pode sofrer – pior do que chamar de corno e filho da puta ou pedófilo). Por outro lado, todos nós temos, sem exceção, histórias triste e de profunda indignação em relação ao SUS. Aqui não teria espaço para aporfundar o debate, até por que, não vi nenhum especialista se manifestando, mas é preciso avançar cada vez mais. Quem não se lembra do INPS (Infelizmente Não Pode Ser, como era conhecido)? Quando, por ignorância e maldade combinadas, dizem que o presidente Lula deveria ser tratado pelo SUS, vai uma crítica ao Sistema e uma lembrança de que ele é um mortal igual a qualquer outro brasileiro. Atualmente, imagino que, dentre os 190 países, apenas uns cinco ou seis (se muito!) poderia oferecer um tratamento sem diferença entre o público e o privado. Na realidade, torço para que um dia exista apenas o SUS como opção de tratamento. O mesmo penso em relação ao ensino: que todo ele seja público.
Todo esse ladrar à lua, nesse instante contra Lula, é muito conhecido.
Vem de longe. Na Alemanha, elegeu Adolf. Na Itália, Benito. Na ex-URSS, lambeu o saco e as botas de Stalin. Na China, prestou serviços libidinosos ao Timoneiro. No Brasil, apoiou a ditadura e, muito recentemente, andou na roda gigante do Rock in Rio.
De quem estou a falar? Ora, daquela massa disforme que sempre existe em qualquer período histórico. Não adivinhou? São aqueles seres intermediários; aqueles nunca-isso-nem-aquilo; aquela famosa massa de manobra que sempre está a rir, a comer bosta e a arrotar caviar; aquele bando que adora apontar a desonestidade nos outros mas que, todo ano, burla competentemente o seu imposto de renda.
Adivinhou? Ainda não! Bem, eis a última chance: saia num sábado próximo ao meio-dia, em qualquer grande cidade brasileira e, lentamente, caminhe até sentir no ar o fatídico cheiro típico: churrasco… Pare por alguns instantes do lado externo do condomínio, e escute…
Sim, é de lá quem vem o ladrar à lua, a ferocidade contida entre goles de cerveja, pais-nossos, ave-marias ou entre neo-exorcistas pentecostais. Sim, naquela jaula é onde rosna o mais perigoso animal sub-humano: a classe média subserviente, mantenedora dos efetivos cães no poder.
Não embrulhou o estomago de ninguem, quando o Lula elogiou o SUS. Este SUS que deixa milhares de pessoas morrerem nas filas a espera de diagnósticos.
O cidadão Luiz Inácio Lula da Silva e não apenas a figura do ex-presidente da República,merece todo o respeito,a consideração e sobretudo a solidariedade dos brasileiros pelo momento que está passando.Afinal para qualquer pessoa-até mesmo para aqueles que ocuparam as posições mais importantes do país,é muito difícil e mesmo complexo superar situação tão grave como esta da constatação de um câncer na laringe.Portanto associo-me aos brasileiros cristãos e generosos que estão a pedir a Deus que guarde e proteja o nosso ex-presidente,livrando-o desta doença tão terrível.Precisamos agora mostrar o nosso espírito de solidariedade e de cristianismo esquecendo antigas desavenças e mesmo até injustiças por acaso cometidas.Afinal quem não cometeu equívocos em sua vida ?
Peço sim, duas coisas à DEUS:
1º)que proteja e cure ele eTODOS os doentes de câncer incluindo os desprotegidos pela súde pública;
2º) que eu nunca, em momento algum, perca a minha cabeça e venha a votar neste Lula.
Deixe-me dar meu palpite, já atrasado, enquanto como meu peru (ui!) e tomo meu vinhozinho branco suave.
Tenho uma irmã, aposentada como eu, mas não com os mesmos recursos financeiros, moradora de Aracruz (ES) (cerca de 70.000 habitantes), que simplesmente dispensou minha oferta de financiar um plano de saúde prá ela, que tem arritmia cardíaca. Ela me diz que não precisa, pois está satisfeita com o atendimento do SUS de sua cidade. E, de fato, já pude perceber que ela tem um acompanhamento bem a contento, até recebendo gratuitamente alguns remédios.
Ou seja, em se tratando de SUS, “cada caso é um caso”, cada cidade tem um atendimento mais ou menos eficiente, nesse imenso Brasil.
Penso que o grande gargalo está nas grandes cidades, mormente nas capitais. E esse Governo que está entrando aí parece querer resolver isso, com algumas medidas importantes, como a ressureição do atendimento médico em casa.
Agora, que o norte-americano “morde o beiço”, como se diz lá em Minas, quando sabe que aqui, bem ou mal, há um atendimento médico gratuito, lá isso morde. Alguns ficam até surpresos.
E o pior é que o Lula pegou o bonde andando. Vai sobrar tudo prá ele e, agora, prá Dilma?! E os outros, os que vieram antes e não tiveram atitude prá melhorar nada?! A Presidenta até parece que está querendo melhorar a coisa. E vou torcer, fervorosamente, prá que melhore. Não sei porque, mas confio nessa Mulher. Aliás, sei: ela é IDEALISTA … e, principalmente, APOLÍTICA. Governa sem enxergar partido. Isso é muito bom!