Eu não entendo, por exemplo, quem ouve e conhece a música popular dos anos 80 por apenas para criticá-la, por achá-la ruim. Nem quem se diverte com a breguice dos outros. Muitas vezes, o brega é cômico e serve como diversão passageira, mas minha opinião é a de que, quem está sempre procurando novas ruindades para ridicularizá-las, na verdade gosta mesmo é daquilo. O erro da insistência em achar (ou ver) graça no ruim é a imensa quantidade do que há de bom e interessante. Não há vida que abarque todos os excelentes livros, músicas e filmes que há para serem lidos, ouvidos, vistos e divulgados. Então, fico meio desesperado quando vejo alguém vibrar com a ruindade alheia, conhecendo-a a fundo. Será que encarar o que é bom dá trabalho? Talvez.
Indo numa via paralela, digo que tenho para mim que a pior pessoa é aquela que só vê objeções, sem conseguir construir nada. Em minhas relações, pouco a pouco tendo a me irritar e automaticamente deixo de considerar as opiniões daqueles que apenas têm coisas a criticar e nada a sugerir. E sempre penso que estes são parentes daqueles, os das coisas bregas. A gente não está aqui só para ter contato com merda. Nós merecemos um pouco mais de dignidade para efetivamente poder parar em pé. Quem me conhece um pouquinho mais, sabe que eu, de minha modesta plataforma, tento polinizar alguma coisa por aí.
E mais não devo dizer. A não ser que estou irritado com as exposições de conhecimento brega que andei tendo por aí. Não sou nada perfeito, mas fico feliz por nunca ter ouvido Michel Teló — só conheço aquele estribilho por ouvir pessoas cantando — e de ter descoberto há pouco que Sandy Junior não era uma pessoa só, mas um casal chamado Sandy & Junior. Estou louco para continuar mais um pouco, mas acho que não devo.
Não vou comentar porque vesti a carapuça.
Eu rindo. Meu “saber” sobre Michel Teló é o mesmo que o seu (e olha que o Miguel canta e dança aquilo). E o Guto sempre quis saber quem era aquele guri que andava sempre com a Sandy Junior. Acho que viemos do mesmo planeta (aquele que não transmite Raul Gil, Luciano Huck e nem Faustão). Mas eu sou meio cansada com essas coisas. Tenho cansaço de conhecer e mais ainda de criticar. Quando eu não gosto é raro eu me esforçar para dar ibope. Só que criticar, às vezes, é também o prazer dos outros… Tão humano isso.
O interessante é que o denominado brega, sempre volta em uma roupagem cult ou vintage. Foi com o Fernando Mendes, revisitado por Caetano Veloso. Agora a bola da vez é o Odair José. Mas acho muito difícil regravarem “O Tchan” ou algo do gênero no futuro.
Músicas descartáveis são feitas para ouvidos descartáveis. O que é bom fica. Bach não está resistindo até hoje ?
E te espero amanhã, no show do Roupa Nova, no Bourbon Country. Claro que quando tocarem “Whisky a Go Go”, será a minha deixa para ir ao banheiro.
Eu já sou bem diferente. Sempre fui pynchoniano, o que quer dizer que conheço a fundo a tralha, posso até fazer um estudo sobre ela, me dar bem em um show dos bonequinhos recentes da mídia alienante por saber de cor o refrão da lavagem cerebral,ainda que não me compactue nem um pouco. Ontem mesmo estava passeando na praça e presenteei assim do nada uma interpretação à minha esposa de “Sombras, Nada Mais”, do Agnaldo Timóteo: “sombras nada mais, na tua imagem, queriiiida”. Diante aos velhinho estarrecidos que procuravam dos lados aonde estava a ambulância do sanatório, minha esposa, para disfarçar, pediu que eu passasse para aquele outro clássico do Tião Carreiro que sempre enternece o ambiente bachiano_ledzeppeliano aqui de casa, o que, solícito, me pus a cantar com voz de barítono:
Morena bonita do dente aberto
vai no pagode o barulho é certo
Morena bonita do dente torto
vai no pagode o barulho é “sorto”
E assim seguimos, como um grupo de gnomos festivos indo pela estrada até o arco-íris de cores aberrantes do brega. Ontem à noite, na apreciação do vinho, coloquei para tocar um dos álbuns mais cultuados da década de 80, do Simple Minds, e me vi afundado com igual seriedade a que dedico a minhas rasuras literárias no diagnóstico de como essa banda ficou datada e brega, a diferença das outras grandes bandas do período que souberam soar sofisticadas, tais como U2, Echo and the Bunnymen, Depeche Mode, New Order. Simple Minds sim é o exemplo de quanto uma geração toda pode ser enganada pelo exemplo instituído do gosto refinado, que resulta dentro do distanciamento certo em algo completamente kitsch. E isso acontece também com as músicas mais sacralizadas:no jazz, me dói ver o quanto Weather Report é ruim, com aquele sax soprano do Wayne Shorter que se adaptou bem à trilha sonora de filmes pornôs; o quanto 25% da produção do Miles Davis é…breguíssima (Tutu!!!); o quanto muita coisa de um dos compositores brasileiros que mais gosto, o Milton Nascimento, soa tão datado quanto música de teclado de festa de debutante. (E não vou tocar aqui, desta vez, na polidez nauseabunda de um certo compositor nacional muito admirado pelos frequentadores do blog.)
Não sou da turma do Gabriel Garcia Marquez que vê que TUDO é música e tem qualidade, como o colombiano bem escreveu em uma crônica soberba, mas me vejo, ao longo dos anos, menos preconceituoso em questões musicais. E que tentador é concluir esse comentário com uma mensagem moral edificante de que é fácil nos protegermos da breguice óbvia dos Sandy Junior (juram que vocês nunca ouviram o tema da Maria Chiquinha?), e dos Michel Teló, mas será que fazemos o mesmo quanto ao nosso elegante e definhado gosto interno. (Tchaaan, thaaaaaaannn).
Não tem outra forma de dizer: que comentário genial, você mereceria um beijo!
Mas não é assim, Fernanda?
Outro exemplo, dessa vez do universo da música erudita: o álbum muito elogiado da parceria entre o genial Ennio Morricone e a cantora portuguesa Dulce Pontes é algo inteiramente brega. Para mim é insuportável ouvir temas que adoro, como do filme A Missão e Era uma vez no oeste, cantados e arranjados com aquele exagero dos musicais da Broadway. Eu o ouvi uma vez para nunca mais, pois aquelas dez notas introdutórias belíssimas de “Your Love”, do Era uma vez no oeste, (que eu fantasio ser a Sonata de Vinteuil, de Proust), na execução da dupla era tão estridente quanto jogar uma balde de tinta na Mona Lisa.
Por falar na Broadway, há algo mais brega que brasileiro ir para Nova York e voltar dizendo o quanto é maravilhoso assistir ao Fantasma da Ópera? Há alguém mais brega que Andrew Lloyd Weber?
Nossa, que galeria de horrores. te acalma…
Não conheço grande parte dos citados, mas concordo inteiramente com o trecho Weather Report e com o horroroso Tutu. Quanto à canção entoada com voz de barítono por ti — a da Morena Bonita –, pelo menos ela é engraçada. O pior é a seriedade brega que se acha.
Hum… Eu não tenho nada contra muitos roqueiros — adoro Led Zeppelin, por exemplo — mas detesto algumas coisas citadas por ti. Gosto pessoal, claro.
Charles,um texto desabafo excepcional.Acho apenas que vc esqueceu de citar o rock progressivo (em geral).Tu sabes cantar Hoje do Taiguara?
Tem um puto reacionário aí que escreveu algo como “ler livros ruins faz mal ao caráter”, o que acho, a princípio, correto, mas restrito, porque não se aplica à música, essa arte politicamente suspeita, conforme Settembrini, justo porque o som que pode servir a um tipo emancipação e/ou saber também pode servir ao nazismo – falo do Assim Falou Zaratustra, do Richard Strauss. Música dançante requer outra tipo de inteligência, e letras de canções não precisam ser eruditas, mas ir direto ao ponto pretendido – assim serão mais populares, o que não é demérito, é só ausência de frescuras burguesas. É claro que uma canção com uma boa letra também seduz, ou uma cantora de péssimo repertório, mas belas pernas, merece uma audição, ou um cantor idem que as mulheres considerem “gostosão”, sabe-se lá como e porque. Mas dizer que gosta de coisas ruins porque elas são boas, bem, aí não sei. Porque são “autênticas”, “legítimas”, sei não. tem pouco trigo para separar nesse joio todo, mas dá para retornar a frase do começo e admoestar o ouvinte: “Tudo bem, cara, mas cuidado com a formação do seu caráter!”
Eu não gosto de músicas ruins, mas gosto de filmes ruins.
Quero dizer, não que eu vá assistir um filme já sabendo que ele é ruim. Mas se for o caso, eu me esforço para não odiar o filme. É perca de tempo. Eu tento utilizar as duas horas na frente da tela para listar na mente tudo o que o filme faz de errado – me divertir resolvendo o quebra-cabeça -, para pensar como o público normalmente reage e porquê, coisas do gênero. E no processo acabo gostando de ter assistido o filme. 😛
Com música, eu não consigo, por não saber nada de música mesmo. Livros, como são mais longos, eu os abandono.
Boa música popular dos anos 80… Pixies? Nick Cave? Cocteau Twins? Flaming Lips? The Police? Talking Heads? Eu gosto de rock! 🙂 As duas últimas começaram na década de 70, não sei se conta!
Ah, Martuchelli, assim não vale. Nick Cave, Cocteau Twins, etc. são exceções.
Milton, sabe por que não acredito que você seja imune ao conhecimento dessas tralhas? Porque você gosta de futebol, e como todo aficionado por futebol assiste aos programas de esportes da tv. Pois bem, esses programas são um prolongamento dos programas de auditório, e neles sempre os locutores e apresentadores estão se referindo à eguinha pocotó, a Ai, se te pego, e a todo lixo midiático. Sem contar que a indústria da propaganda age maciçamente nesse ambiente, daí você TER que saber qual a cerveja que o Zeca Pagodinho toma, qual a nova dancinha que o Neymar promove no comercial do guaraná; assim como assiste a quadros apresentados por artistas de todo tipo, desde Sandy a Xandy (o marido da Carla Perez, do É O Tchan).
Então, não me venha com essa não.
(Não leve a mal, estou rindo aqui enquanto escrevo.)
Boa tentativa, mas vejo futebol sem som. Ouço música.
Também não ouço os programas esportivos, apesar de ter até participado de um deles…
Não sei se você leu isso, mas a cantora Adele declarou que só lava o cabelo com shampoo uma vez a cada dois meses, que é pra manter o volume. Não tem nada a ver com o post, mas fiquei com vontade de compartilhar isso com você.
Me fez lembrar a cena final de De Volta ao Futuro, em que Marty McFly pergunta ao dr. Emmett Brown o que ele faria depois que iria destruir o DeLorean com a máquina do tempo, e o doutor responde: “Vou passar a estudar esse maior enigma do universo: as mulheres”.
Sabe que eu não sei qual a frequência que a Dani lava os cabelos? Quando ela sair hoje pela porta aberta e por entre o vapor do banheiro, vou olhá-la com apreensão para ver se os cabelos estarão molhados.
Não se esquece de dar uma cheirada!
Lecionei numa academia de música popular, no final do anos 80. Pra criar um ambiente didático, a escola colocava videos de bandas da época tipo “Guns and Roses” e “ACDC”, entre outros, que berravam ininterruptamente. Depois descobri que muitos destes grupos tinham excelentes músicos, mas que estavam adaptados a estas propostas estéticas. Submetidos pela industria do rock?
É verdade também, que ali conheci Oscar Peterson e Joe Cocker, dos quais me tornei “fã”, palavra brega, junto talvez com “cult”, “chic”…
Em tudo está o comércio. Mas já que o tema é o brega, valos mergulhar fundo. Nunca li Paulo Coelho, mas seus índices de vendas mantém as editoras, que, entendo, ajudam no lançamento de outros autores, quem sabe mais eruditos, mas de aceitação menos imediata. Não sei se existe este tipo de purismo entre as editoras, em só editar o que tem qualidade inegável.
Como disse Schoemberg, “se é para as massas não é arte, se é arte não é para as massas”. Frase extremamente elitista. É possível conciliar vanguarda, profundidade estética com rápida assimilação pelo público.
A massificação da cultura, vendendo produtos como elementos estéticos mínimos, é a regra para o sucesso estético e comercial?
Ou, por outro lado, em tudo há um pouco de exagero, de purismo, e todos somos capazes de apreciar um pouco do “brega”?
Aprecio música erudita, posso ouvir desde as cantatas de Bach até os últimos quartetos de Beethoven, mas não nego me emocionar com um Altemar Dutra, Alcione, de curtir as emoções do “Rei”, e muitos outros, que para mim tem um tipo de significado e profundidade. Quanto a música popular atual, acredito que empobreceu demasiadamente, o que poderia se chamar de o “sub-brega”.
Os jovens, no entanto, principais alvos da industria e dos modismos, assimilam o que lhes é apresentado, e depois passam a defender com “unhas e dentes” o gosto estético adquirido.
Vejo em tudo isto a banalização do ser humano e da vida, através da manipulação política e cultural. No Brasil, por exemplo, a medida que a televisão se massificou, democratizou-se o acesso, os programas passaram a direcionar-se para esta base, muito maior e com características totalmente diferentes do público dos anos 60 e 70.
Por outro lado, é possível afirmar que a medida que a sociedade avança em tecnolgias, perde em humanismo? Porque o avanço, a racionalidade e metodologia científica moderna, que equipa a sociedade com tecnologias sofisticadas, não supre as questões de envolvem política e cultura? O método científico, que é um instrumento poderoso, tem problemas de enfrentamento e soluções para estas áreas?
Valores culurais e políticos parecem ter outro tipo de complexidade, e, no entanto, são os que dão sentido a existência, não?…
Tu ouvindo Altemar Dutra e Roberto Carlos??? Não!
Será que sou tão radical assim? Ouço pouca, desculpa, merda, acho. Tenho lembranças boas de alguns grupos de Rock, etc., mas agora simplesmente não tenho tempo. É claro que ouço jazz e música popular. Gosto de Chico, Paulinho da Viola, Edu Lobo, Beck, Winehouse, Radiohead, mas chegar à Adèle foi demais para meu estômago e o da Claudia. Joguei fora o CD. Sério.
Eu acho você radical. Nem estou falando das músicas. Fico aqui pensando naquele teu post sobre séries.
Eu não vejo graça nas séries americanas. São muito superestimadas pela imprensa, mas todas que vi são de uma rasura extrema (ia escrever rasura profunda, vê se pode!). Li uma matéria ridícula naquela revista do Policarpo Junior comparando Walking Deads com Ensaio sobre a Cegueira (!!!!), o filme e livro. Era uma exaltação da série americana e uma esculhambação do livro e do filme do esquerdista português. E vi a primeira temporada do Walking Dead com a plena convicção que o gosto da humanidade em geral, se for mesmo reflexo do apreço por essas obras, vem definhando a graus preocupantes. Lost mesmo é de uma estupidez sem conta, transverte toda regra de coerência de se contar uma boa história. E vi até sites de doutoras alegando que Lost mudou a vida delas, as “transformou”.
Há séries e séries. Mas mesmo nas mais ruins ainda acho que há mais originalidade do que nos filmes. Mas deixa pra lá, estou brigando no twitter e não consigo responder com calma agora.
Sabe, Charlles, se não se incomoda com uma pequena masturbação intelectual, o que seria uma obra de arte/produto cultural (termo conforme o gosto do freguês) profunda? A pergunta é sincera, não retórica.
Profundidade sugere que a arte contém uma idéia que está por trás do que muitas outras: que as reduzem. Poderíamos dizer, por exemplo, que filosofia é mais profunda do que sociologia – cava mais fundo.
Aí que tá: eu acho que muita coisa pode estar no seu auge quando não está sendo profunda. Eu lembro de uma cena do filme Yi Yi, em que um menino sobe numa cadeira para pegar um biscoito na prateleira de cima, mas sua bermuda cai, revelando um pequeníssimo “bingulim” balançando, como diria minha mãe. O filme contém diversas cenas assim, do cotidiano, pequenos detalhes, com uma direção e fotografia excelentes. E embora o filme tenha um tema mais “importante”, foram estas cenas que ficaram na minha mente.
Então, não sei. Ao invés de generalizar, aprofundar, sintetizar, também não seria válido também tentar diversificar, mostrar?
Pessoalmente, no caso de filmes, acredito que eles estejam no seu melhor quando se focam nos detalhes. Como uma cena de “A Enguia” em que o homem encontra sua mulher o traindo, e quando a olha nos seus olhos na procura de culpa, vê apenas o mistério.
E esse pode ser o caso de seriados. Não conheço muito para comentar, haha. De seriados recentes, só vi alguns episódios de “Community” e achei muito bem escrito, e as piadas com a cultura pop são ótimas.
Mas ai ai, estou viajando…
tenho q perguntar, já viu The big bang theory, charlles? me mato rindo
arbo, não curto muito séries, mas vou atrás dessa aí se houver em download.
Adele é melhor que a Winehouse. Ou ao menos não é diferente em qualidade. Me fez lembrar (pô, de novo!) um antigo filme do Spielberg sobre a febre de juventude provocada pelos Beatles. Interessante ver que os rapazes da época não toleravam o sucesso dos Beatles. Os caras precisaram parar de tocar ao vivo e passar para a fase Revolver em diante para ganhar autoridade além da paixão das fãs. Eu também, depois que descobri o quanto a Adele é popular, eu desgostei da moça. Mas a primeira vez que a ouvi, sem saber quem era, eu fiquei deslumbrado. Mas daqui a uns bons anos, talvez ela vire cult e caia no meu gosto novamente.
Radiohead? Mas você não disse certa vez que abominava os caras?
O Milton tem parceiros no ótimo PQPBach bem mais tolerante e felizes musicalmente que ele. Se não me engano, li um post do Carlinus, no blog pessoal dele, em que ele diz querer passar o fim de semana todo ouvindo Black Sabbath. Outro postou um bom texto falando o quanto a música simplória do povo (optei por escrever assim para ir mais fundo no contexto da mùsica “popular”) foi influente na composição dos eruditos, citando o amado Mahler do Milton.
Desculpa Milton. Já fui mais radical, talvez, mas era só de fachada, principalmente na juventude. Já divergimos com Rachmaninof, que seria um o brega na música erudita. Consigo apreciar até a música de Schoemberg, mas a breguice ás vezes me domina, é mais forte que eu. Claro que não de forma cotidiana.
E o pior de tudo não é nem ter vida para ler, assistir, ouvir isso tudo. É que a leitura, assistência, audição devem ser cuidadosas. Não são digeridas como notícias de jornais.
O charlles é foda, foi no rim, futebol. hauhauhauha
torcida de futebol deve ser a coisa mais brega para o olhar de um não-adepto. consigo imaginar. mas tou na horda.
mas, guardadas as proporções (meu nariz é menor), compartilho da “aflição” do milton. tenho visitado mais frequentemente o facebook (pouco, mas mais do q devia) e é só revival, ode ao velho, nostalgia do duvidoso e etc. Certamente tá faltando um grandíssimo anti-spam pra nossa gente (gente, tou aí).
Martuchelli, existem vários exemplos de obra de arte profunda. Não vamos cair na relativização; isso só serve para dar a impressão de estar-se chegando a algum lugar novo do discurso, um lugar original, mas após o frisson da coisa o que se vê são textos constrangedores como um que comparava o valor da obra de Cortázar com os discos de É o Tchan.
Quanto às séries americanas, elas são boas, divertidas (ainda que eu peleje mas não consiga assistir um episódio de CSI e Dr. House), e só! Não passam disso. O que já está de bom tamanho. Saramago escreveu não apenas um livro melhor que Walking Deads, mas várias. Uma coisa é a linguagem característica de Hollywood, outra a capacidade de absorção da boa palavra escrita. Mas a imprensa, que é burra e má-intencionada, quer passar aos desavisados que um produto de consumo rápido e perecível como as séries é o supra-sumo da estética e da linguagem inteligente. Lembro que eu era adolescente quando foi lançado o Batman com o Jack Nicholson, e a Isabela Boscov escreveu uma longa matéria laudatória afirmando que se tratava de “um grande filme com um roteiro capenga”. O que quer dizer isso? Já viu essa maleabilidade em outros setores da expressão humana? Uma bom teatro, mas com uma peça capenga. Um bom quadro, mas com traços idiotas. Uma grande sinfonia, pena que o compositor não saiba compor. Um grande romance, mas escrito por um analfabeto.
E hoje todo mundo sabe o quanto Batman, o primeiro filme, é fraco e medonho. Ou seja, o cinema ruim, de mercado, e as séries, são as únicas que se prestam a essa distorção conceitual. A cena da masturbação dos meninos dentro de um carro, em homenagem à peituda da mercearia, é grande em Amarcord, mas todo o Amarcord é genial e grande. Há grandes cenas em filmes medíocres, como a abertura de Anticristo, mas tais insights não sobrevivem sozinhos. Acabam que o contexto debilitado as transformam em cenas engraçadinhas.
O elitismo do Milton, apesar de soar esnobe, é algo bastante produtivo. Elitismo de gosto não quer dizer, em absoluto, elitismo financeiro. Talvez esteja até na direção oposta, ainda mais na elite ignorante brasileira.
Vocês assistem séries de comédia e depois as criticam por serem engraçadas (!?). Assiste um Mad Men, Game of Thrones, Breaking Bad, Smash e depois conversamos.
Game of Thrones o Milton iria gostar: a Idade Média sem a igreja…
Breaking Bad é o que há! Até Franzen elogiou esses dias, junto com The Wire. E há outras muito bem realizadas, como Dexter, Sopranos, Twin Peaks, Boardwalk Empire. A Sete Palmos é duma profundeza extrema (para emular o Charlles). Mas tem que saber escolher. Walking Dead e Lost podem até ser divertidos, quem sabe gerar um debate aqui, uma reflexão ali, mas não são exatamente os melhores exemplos de séries.
vá assistir Boss .noTNT ,Vc não vai acreditar
Nah, não queria cair num relativismo cultural. Os meus exemplos mesmo alguns já diriam que são “esnobes” – um filme do Imamura, um filme taiwanês de três horas e meia que não gosta de mostrar seus personagens por respeito a sua intimidade, e uma série que tem um episódio que é uma paródia de Meu Jantar com André?
Minha pergunta era mais por curiosidade sobre a palavra “profundo” em relação às obras de arte, para dizer que “diversidade” cai tão bem quanto “profundidade”. E que talvez, no seu melhor, as séries poderiam entrar na categoria de “diversidade”, não de profundidade. Viagem minha sobre o significado da palavra, peço desculpas se fui inconveniente. Com a sua resposta, entendi melhor o que você quis dizer.
Como você, mesmo quando gosto de alguma série, como “Community”, há algo nelas que me desagradam: o jeito americano de escrever histórias, o que cê chamou de “a lingüagem característica de hollywood”. O ritmo é rápido demais, há uma constante necessidade de ser engraçadinho ou ÉPICO!!, para não deixar o espectador ter tempo para pensar, apenas esquecer a realidade.
É, “um grande filme com um roteiro capenga” não existe. Existe “um grande filme com alguns problemas de roteiro”, que é o que ela talvez quisesse dizer. Embora chamar o primeiro filme do Batman de grande, é, é… deixa pra lá. Acho que seu instinto está certo em dizer que há algo errado nesse mato. Mesmo no último filme do Batman, houve um movimento para torná-lo “inteligente”, um filme acima da mesmice, o que… não é o caso. É, na verdade, o ápice da mesmice, se é que isso pode existir.
No mais, compartilho sua admiração por Amarcord, este filme divertido e sacana e que, acho, pode agradar tanto a gregos e troianos, os “elitistas culturais” ou não. Bem, hoje estamos mimados com o cinema americano, mas é o um filme que imagino tenha tido uma boa bilheteria no seu tempo.
De Salto Alto é brega apelativo. A cena em que a apresentadora do telejornal confessa ter matado o marido e a tradutora de sinais para surdos dela se afasta é das mais hilárias que me vem à memória. A trilha sonora é muito, muito brega. Eu jamais ouviria uma coisa daquelas na minha vitrola. Mas deixo como proposta http://www.youtube.com/watch?v=NzlQQ5vvISA&feature=related
Simples e conciso o post.
Parabéns Milton.
Acredito que algumas músicas de hoje precisam de conteúdo.
Poe exemplo este vídeo musical, http://youtu.be/qi9o23kN1us, onde há um trecho sensacional:
“Liberdade no estilo, eu to aqui pra me expressar
Enterrando o preconceito, revendo nosso conceito
Século XXI só a gente pode mudar
Prevalece o sentimento, elevar o pensamento
Não peço pra conviver, quero pedir pra respeitar”
…
Por mais simples que seja aqui há uma exposição de conhecimento, por menor que seja.
Século XXI só a gente pode mudar.
Que saudades da música popular dos anos 80.
No bom sentido, há muita piada musical!