Na página 550 de Ulysses

Mais uma anotação da terceira tradução e leitura de Ulysses, a MELHOR, sem dúvida.

E então mudamos de capítulo e, como ocorre sempre em Ulysses, muda o escritor. Entra um que parece viver em pleno esplendor kitsch:

O entardecer estival começara a envolver o mundo em seu misterioso abraço. Longe no Oeste o sol se punha e o último reluzir do dia fugaz brilhava ainda encantador sobre mar e areia, o altivo promontório do nosso querido Howth, vigilante como sempre sobre as águas da baía, as pedras cobertas de algas da praia de Sandymount e, com não menos importância, sobre a tranquila igreja de onde brotava por vezes no silêncio do ar em tornoa voz das preces  a ela que em sua pura radiância é um farol para o coração do homem, fustigado pelas tormentas, Maria, estrela do mar.

As três amiguinhas estavam sentadas nas pedras, aproveitando o espetáculo do crepúsculo e…

Joyce é um baita gozador. Logo depois vem a famosa cena de masturbação de Bloom sob o olhar e a provocação de Gerty MacDowell, uma das três amiguinhas. Não, não cabe num tuíte, Paulo Coelho. E este livro é demais e é muito, mas muito divertido.

... o altivo promontório do nosso querido Howth, vigilante como sempre sobre as águas da baía...
Olhando a foto anterior, o Howth parece ser uma ilha. Não é.

11 comments / Add your comment below

  1. HUMANA PROFECIA
    by Ramiro Conceição
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    Em tempos terríveis,
    quando a herança é o medo,
    é bom acender uma fogueira
    para que todos se aqueçam;
    assim, talvez,
    poucos bêbados alumiem-se
    com palavras de entusiasmo – e êxtase!
    Porque a vida
    pra alguma coisa celestina se destina.
    Viemos de estrelas, para lá retornaremos.
    Eis a humana profecia: do pó – à poesia!

  2. Sobre o post abaixo: pronto, logo logo vão estar dizendo que o Coelho é santo. Não processa blogueiros e críticos, que cara legal! É a favor da pirataria, que gente fina!

    Primeiro: não processa porque não é otário. Imagina uma causa revertida contra ele. Não processa pois tem, no fundo, real dimensão sobre sua efemeridade. E críticas são críticas, ninguém está chamando o cara de filho da puta.

    Segundo: o cool Paulo Coelho pode bem ser a favor da pirataria AGORA. Deixa ver lá pelo final dos anos 80, em que suas vendas começaram. Deixa ver neguim deixando de pagar as 30 pilas do Alquimista pra fazer um download, se ele iria ficar tão sangue frio e simpático. Pra ele pouco importa os assuntos espinhosos de direitos autorais para o escritor iniciante, ou o escritor que vende a quantidade da subsistência. Seus livros, antes de serem escritos, já tem cotação na bolsa e pagamento antecipado pelas grandes redes de livrarias do mundo. Aí sim ele pode passar um de democrata da cultura em se posicionar a favor do “compartilhamento” (para usar uma expressão cara ao Idelber).

    O que me intriga é essa santidade plastificada do mundo idelberiano, em que o defunto Wando é grande compositor e É o Tchan e o funk carioca são tão válidos quanto Miles Davis, Milton Nascimento ou Mahler, e que brasileiro sair “em defesa” de Ulisses é coisa de esnobe bancando o erudito. No fundo Idelber demonstra um latente preconceito quanto ao brasileiro em seus textos. Já salientou que o brasileiro não sabe ler com a mesma acurácia do argentino, daí brasileiro errar na canonização de escritores adolescente como Cortázar. (Ele demonstra um esnobismo tão evidente que solicitou que o Cassionei Petry fosse guglar para saber quem é Ricardo Piglie e outros.) Por que o brasileiro não pode ser um leitor autêntico e apaixonado de Ulisses, mas sempre um acadêmico metido a besta? E por que Coelho agora se tornou um intocável boa praça?

    Ah, vão pra tonga da mironga do kabuletê.

    1. Sinceramente, não entendi o Idelber.
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      Se eu fosse Mr. Rabbit, obviamente que ficaria quietinho sobre meus milhões honestos e legais; pois, com empenho, descobri que havia, e há, um nicho de mercado à alienação dos seres humanos. Fui e sou um empreendedor, um vencedor. Pouco importa se contribuí ou contribuo à continuidade da miséria humana: sou um ser thelêmico: exerci e exerço até as últimas consequências a MINHA VONTADE. O resto foi e é problema do mundo…
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      Ora, foquemos só um pouquinho a realidade: atualmente, Mr. Rabbit vive num luxuoso condomínio europeu a treinar arco e flecha; seu habitat é, na realidade, um bunker à prova de eventuais ataques nucleares. Qual é o significado de tais símbolos?
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      Tal resposta, creio, se dá por duas perguntas associadas à história e à natureza. Pela primeira: quais os últimos personagens históricos que se refugiaram e morreram em bunkers? Pela segunda: simbólica e semioticamente, quais são os seres que precisam viver e morrer escondidos em buracos ou em qualquer beco escuro duma cidade?
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      Parece-me que tais respostas são óbvias, ou não?!
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      PS: que fique bem claro, não tenho nada contra o ser humano – Paulo Coelho; seria incapaz de cometer qualquer mínimo ato violento contra ele; porém sou inimigo da ideologia contida em sua obra, sou inimigo daquilo que gera alienação; isso não quer dizer que não admita erros durante a nossa incerta caminhada; mas persistir nos mesmos… Bem, aí me parece ser uma estupidez histórica.

      1. Milton,
        POR FAVOR, lhe peço licença de postar novamente um comentário que fiz anteriormente. Na noite da publicação do dito cujo estava muito cansado e, portanto, não fiz a revisão necessária. Por outro lado, após tal comentário do Idelber, creio que o mesmo deva estar aqui, e não lá, escondido. Desde já lhe agradeço… (Se algum erro permanecer, POR FAVOR, paciência…).
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        ENTRE FRACOS, FRAQUES E FRAUDES
        by Ramiro Conceição
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        Parte I: A SOCIEDADE ALTERNATIVA /1/
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        De acordo com iniciados e entendidos, Raulzito conheceu Mr. Rabbit em 1973. Parece que a “drinving force”, isto é, a força motriz, para tal encontro foi um texto de Rabbit publicado na renomada revista “A Pomba”. Nasceu daí a parceria que, em pouco tempo, se tornaria referência no cenário cultural brasileiro.
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        À época, Mr. Rabbit era conhecedor do famosíssimo “Sistema Thelêmico de Realização Espiritual” cujas bases teóricas foram formuladas pelo inglês Aleister Crowley, que será abordado mais a seguir.
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        À guisa de conhecimento, deve-se esclarecer que “thelêmico” advém de “thelema” que, em grego, quer dizer vontade; ou seja, pode-se afirmar que, sem ter aqui um excesso de rigor, o “sistema thelêmico”, ideologicamente, convoca cada indivíduo social ao exercício do descobrimento e da realização de sua vontade. Pois bem. Em tal contexto, Mr. Rabbit doa, ensina, seu conhecimento a Raulzito.
        Parece que é desse período algumas composições: por exemplo, “A Maçã”, “Tente Outra Vez” e, muito provavelmente, outras, que seriam assinadas por Mr. Rabbit, Rauzito e algumas por Marcelo Motta; é também do mesmo período “Novo Aeon” com contribuição autoral de Cláudio Roberto, que viria a ser um ilustre e renomado compositor da música popular brasileira.
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        Ora, não devemos esquecer o que estava a acorrer no Brasil, quando tais artistas estavam em processo de desenvolvimento de sua arte: a ditadura de 64. Há notícias que Mr. Rabbit, por representar um efetivo perigo ao sistema, foi preso e torturado nos meandros escuros do exército. Não querendo polemizar e admitindo que tal fato tenha acontecido, devemos sempre tirar lições da História: como ensinou o velho Marx. Quer dizer, se tal fato foi verdadeiro, então, essa é a prova cabal que a “ditabranda”, além de bruta, foi burra!; pois o perigo efetivo, que Mr. Rabbit representava à ordem estabelecida, tinha a mesma dimensão e profundidade, por exemplo, do Pato Donald refletindo e discutindo diante das massas “O que Fazer?” de Lenin.
        Creio que, do exposto acima, agora está às claras os alicerces reais sobre os quais a “Sociedade Alternativa” foi proposta; se tudo continua nebuloso foi por que tudo que partiu de tais seres sempre foi muito nebuloso… Portanto, por questão metodológica, devemos passar agora aos fundamentos teóricos do “Sistema Thelêmico de Realização Espiritual”.
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        Parte II: ALEISTER CROWLEY, O MAGO DE MIL FACES /2/
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        Para compreender a complexidade filosófica descrita anteriormente, faz-se necessário responder uma pergunta: quem foi Aleister Crowley? Resumidamente, Edward Alexander Crowley foi um inglês que viveu nas primeiras décadas do século passado. Em seu tempo foi conhecido por diversos epítetos: Allick; Anticristo; Bruxo de Thelema; Conde Vladimir; Diabo; Lord Bolekine; 666; O Mago de Mil Faces e muitos outros.
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        Crowley foi um amador em tudo que fez, principalmente em de três atividades: foi alpinista; jogador de xadrez; e chegado à magia negra. Crowley era um megalomaníaco inveterado; na psicanálise seria considerado um doente sob um paroxismo de onipotência: se julgava ser a reencarnação de Edward Kelly, astrólogo da rainha Isabel I, que viveu no século XVI; tinha alucinações de profeta: cria, por exemplo, que a irmã de um de seus amigos era a Dama Escarlate, que é descrita no Apocalipse; acreditava ser também a última encarnação do conde Alessandro di Cagliostro, fundador em Viena da Ordem Maçonica Egípcia (paro por aqui, pois creio que já basta!; e que já esteja descrita suficientemente a insanidade de tal personagem…).
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        Devo relatar que, não por culto à MINHA VONTADE mas por impulso à NOSSA VERDADE COLETIVA, durante a vida de tal “mago”, aconteceram coisas pitorescas. Por exemplo: por ser chegado ao álcool, às orgias e às drogas (cocaína, heroína e mescalina) teve influência sobre Aldous Huxley que, no período, escreveu “Céu e Inferno” e “As portas da percepção”.
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        Aproximando-se de nossa cultura ibérica, deve ser mencionado que o “mago” conheceu também Fernando Pessoa. Como sabemos, o nosso poeta foi um esotérico, mais precisamente um astrólogo. Pois bem, Pessoa descobriu um erro na carta astrológica de Crowley e, por ser fluente em inglês, enviou uma correspondência ao dito cujo, que era editor e proprietário da “Mandrake Press”. Obviamente, o mandrake inglês se mostrou interessadíssimo e propôs um encontro.
        Nosso mago desembarca em Lisboa em 2/9/1930. Por aproximadamente 20 dias, o mandrake se hospeda em dois hotéis: no “L’Europe” e no “Paris”. Finalmente, o encontro se dá em 7 de setembro (juro!!!). Palavras vão, palavras vem…: Pessoa se sente seduzido pela acompanhante do mago inglês, uma tal de Harini Larissa. Mas acontece algo extraordinário em 25/9/1930: nosso mandrake desaparece de Lisboa, não pagando nenhum dos hóteis utilizados. Confusão!… Surge um boato de suicídio, nunca claramente esclarecido; contudo, muito depois, é desvendado o “mistério” numa carta de Pessoa destinada a Gaspar Simões (em 1/11/1931) que diz: “ Crowley, depois de se suicidar, passou a residir na Alemanha”.
        O nosso mandrake, na verdade, era um foragido dos credores da falida “Mandrake Press”, na Inglaterra!!! Após diversos estelionatos culturais na Alemanha, o mago de mil faces volta ao Reino Unido, onde até o seu fim trágico, já sem nenhum amigo, vive de bicos: feitura de horóscopos; vende pílulas de um elixir da vida, que são fabricadas com seu sêmem. Nosso mandrake morre em Hastings; e dizem que suas últimas palavras foram: “eu estou perplexo”!
        Qualquer verossimilhança com o trágico fim de um certo roqueiro, que no fundo, no fundo, desejou sempre ser um previsível elvispresleybrasileiro, foi intencional!.
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        Será que fui claro, ou ainda é preciso rabiscar volpianas bandeirolas coloridas?
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        PS: Volpi foi um magistral pintor, para que não reste qualquer dúvida.
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        Referências
        /1/ Diversas fontes na rede: é só digitar no Google “ Paulo Coelho e Raul Seixas” e ler paciente e paulatinamente.
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        /2/ José Paulo Cavalcanti Filho. “Fernando Pessoa, uma quase autobiografia”. Editora Record Ltda, pp 519-526. 2011.

        1. OLHAR ATEU
          by Ramiro Conceição
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          Dentre os passos meus, naquela manhã vi deus
          no olhar ateu de um cachorrinho… que passava.
          Aquele deus não era tribal nem um assassino – de gays;
          não tinha escravos, terras ou altares justificados por leis;
          abominava políticos, padres, freiras, pastores e dízimos;
          não era uma lua mística, mas um sublime sol – objetivo!;
          era um olhar enamorado que, agora, tento dar um nome,
          mas aquele deus não tinha nome; era qualquer homem
          ou mulher; era a luz d’estrelas num vagar dum vaga-lume;
          era um perfume a dizer-me: nem ouro que reluz é tudo.

      1. Uma das qualidades que vejo no Milton é sua dedicação aos amigos. Estraga um tanto o afã da discussão, mas é algo bonito.

        Cara, se tem algo que me repugna nesse nosso brasilzinho de merda é esse progressismo tosco que pretende a assepsia e é imensamente hipócrita em seu correção política. Parece um bando de zumbis são franciscanos. É algo frio e sem coração, em seu excesso de compreensões. Agora dão para usar esse chavão corporativista de dizer que o lixo é coisa boa, usando o exemplo comunal do funk carioca e o axé baiano etc. Vejo na Lola Assombromovich ela dizer que o funk carioca não pode ser rebaixado, que conceitualmente não é nada inferior à Chico Buarque. Que hipocrisia! Ela diz que não gosta, mas não tem nada contra. Vai te catar! Que encimismo do muro mais estupidificante. Uma religião da aceitação ampla, onde se reitera a visão adventista dos leões e os cordeiros pastando no mesmo campo. A instituição do inofensivo, do paladinismo do que “é bom é bom, é errado é errado”. Agora o Idelber dizer aquelas coisas de É o Tchan é uma grande banda, é uma música boa. Pinta o cabelo, faz uma aplicação de botox e um enxerto de silicone na bunda, e vai concorrer à nova loira do Tchan, vai. Põe um pendrive de 50 gigas só com axé no carro e atravessa o país com seus filhos numa educação musical intensiva, até eles veem o que é a santidade do gosto que abraça tudo no mais perfeito igualitarismo. Estou para exigir que criem cotas nacionais para pseudointelectuais e legítimos idiotas reacionários como eu, pois eu sou constante vítima de preconceito. Eu faço parte de uma minoria, e percebo a cada dia que passo essa maldição para meus filhos. Os caras de bunda que acham que são alguma coisa. Os que se acham europeus desenraizados, à busca de sua readmissão espiritual. Fui chamado de pseudo isso e pseudo aquilo; até quando vai essa promoção, e quantos palitinhos carimbados de “pseudo” eu devo juntar para trocar por um picolé dez por cento “autêntico”? É a tal do conformismo festivo boçal nacional, todos devem ser simpáticos em demasia, laudatórios em demasia, auto-elogiáveis, ingressos no culto das novelas das nove e dos prazeres instituídos. Se você sai um pouco fora disso: esnobe! Se gosta de Ulisses (Ulisses? Aquela merda que não tem lixão e não tem o pau entrando na buceta da forma plasticamente redentora do pau entrando na buceta que se apresenta nas músicas e na teledramaturgia; que não tem o camaradismo de Paulo Coelho, que afinal não importa se o lêem ou não, importa que o cara tem um mega apartamento na Suiça e aparece na Ana Maria, e desperta a catarse de sonhar como seria uma noite ao lado dele ao pé da lareira, que se foda a escrita e viva a transfusão sinestésica do fetiche pela grana dos famosos extraordinários. (Há um parênteses lá em cima? Deixa eu ver…))

        Afinal Joyce morreu cego caído numa vala ou na beira de um rio histórico, não viveu como viverá o amigo do Dirceu até os 97 anos, com rabicho de prata na cabeça e a pose de buda aurificado, tornado moeda e selo e pequeno amuleto da sorte. Não tem na cola a responsabilidade grandiosa de fazer as meninas ovularem aos 8 anos, de cambiarem a impressão que a Terra é o melhor dos mundos, de que cada um é deus e tudo conspira para nossa felicidade, basta sermos idiotas fosforescentes, risonhos diplomático.

        bla bla bla, que se foda.

        Exijo cotas para vítimas de preconceitos como eu e os futuros jovens que se tornarão os meus filhos. Exijo que eles se tornem serialmente corrigidos pela estupidificação que garante o sucesso e a ascensão social, e que sejam educados nas universidade por Idelbers e Lolas. Que se tornem normais, pelo amor de deus.

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