Meu filho Bernardo está viajando desde o dia 20 de dezembro, mais ou menos. Volta em 1º de fevereiro. Foi de avião para Rio Branco, no Acre. Era o único trecho que faria via aérea. Depois, só ônibus e sola de sapato. Ele e seus dois amigos foram em seguida de ônibus para o Peru, onde fizeram a trilha inca caminhando 90 Km em 5 dias. Pegaram neve no Natal, devem ter visto trenós incas dirigidos por índios com enormes sacos de coca, puxados por lhamas. E ontem ele me ligou do Titicaca.
Voz tranquila e macia, típica de quando está descansado, disse que passou três dias em Copacabana, uma praia do lago que está a quase 4000 m acima do nível do mar e onde o celular pegava mal. Neste ínterim foi para a Isla del Sol, uma ilha do Titicaca. O lado é enorme, comprido, tem 90 Km de comprimento e uns 25 de largura. Ele me diz que, no meio do lago, não se enxerga nenhuma margem. Pergunto sobre a respiração e ele disse que, mesmo na caminhada nos Andes, sentiu-se bem. Ia pegar um ônibus para La Paz, onde já deve ter chegado. Com o Facebook, fica fácil de monitorá-lo. Afinal, lá pela meia-noite, ele escreveu: “La Paz, fetos de lhama nas esquinas. Muito afudê”.
Não sei se vão ter tempo de ir ao Chile ou se descerão pela Argentina. Acho uma pena que o Bernardo não goste de escrever. Deve voltar com um monte de histórias que vai contar aos poucos. Espero que tenha tirado muitas fotos, porque isso ele faz muito bem. Ele estagia como fotógrafo no Sul21. Gostaria de ter visto a cara dele ao pedir 40 dias de férias. Ele sabe ser sedutor quando precisa, o filho da puta. Putz, espero que volte bem. Nem li os detalhes daquele brasileiro que sumiu no Peru. Não quero fantasiar coisas ruins. Prefiro pensar que ele está entre montanhas, lhamas, indiazinhas feias e coloridas e que caminha sem parar, olhando tudo.
Fiz o percurso ao contrário. Me ferrei. Cheguei por La Paz e, no dia seguinte, a besta escrevedora optou por ir a um ponto altíssimo, de 5,8 mil metros (chama-se alguma coisa Potosi o tal pico), no qual os últimos 800 metros a gente faz a pé. Passei mal mesmo, maior dor de cabeça e muita falta de ar. É lugar de neve eterna, por óbvio.
La Paz tem algumas curiosidades, como visitar o Vale da Lua e tomar o Trimate (mistura de anis, coca e camomila). Mascar coca é impossível e o chá de coca puro é ruim pacas. A catedral é bacana (filho de ateu pode frequentar ou é excomungado da família?), o artesanato MUITO barato e colorido. A prata que lá se vende nas ruas não é das melhores. A praça com o Palácio do Governo é puro cocô de pombo.
Em seguida, fui até Copacabana (lá descobri que o significado da palavra é “Mirante Azul”), onde encontrei o ÚNICO bar da Bolívia altiplana que vende cerveja e refri gelados (incluída a dulcíssima inca-cola, que tem cor de urina). Sim, eles tomam cerveja em temperatura ambiente… Também fui até a Ilha do Sol, que é muito, muito íngreme. A peculiaridade dessa ilha é… não ter água. Então TODA a água usada num hotel que fica lááááá em cima é transportada em burros (e não em lhamas), que sobem e descem o dia inteiro aquelas escadarias infinitas.
Mas o passeio é ótimo.
Estive em Copacabana e na Isla del Sol lá pelos idos de 2003. Fiz como o Fábio aí, o caminho contrário, indo de La Paz até Cuzco. Como vcs aí del Sur dizem, é muito afudê mesmo. Que viagem bacana seu filho está fazendo. Vai ser inesquecível pra ele.