Eu amava Dina Sfat (1939-1989). Ela foi, primeiro que tudo, um grande rosto de atriz.
Filha de judeus poloneses, foi também uma bela, lindíssima mulher, porém
sua essência jamais obteve ser captada por câmeras fotográficas,
pois as câmeras mostram cristalizações do fugidio, figuras imóveis,
enquanto Dina só podia ser apreendida no somatório
de gestos, voz, maneiras, expressões, movimentos, charme e por um fato único
(e talvez inexplicável): Dina tinha uma presença assombrosamente sensual e sedutora.
Como se não bastasse, parecia que sensibilidade e inteligência se lhe derramavam
continuamente pelos olhos. Ela era alguém capaz de exprimir sem verbalizar e que sabia
usar a seu favor tal economia e a elegância. E havia profunda humanidade nela.
Durante o golpe militar, usou sua popularidade para denunciar e combater.
Em 1979, foi protagonista da primeira peça que abordava o tema dos exilados políticos,
Murro em ponta de faca, de Augusto Boal. Um general muito tolo a definiu como uma
“líder feminista vinculada à estratégia de poder da extrema esquerda”…
Dina deve ter achado graça. (Ela gostava muito de rir, tenho certeza, conheço, sei).
(E então tivemos aquele milagre ao reverso, uma daquelas coisas que deveriam descanonizar deus se os homens usassem a lógica.)
A injustiça de um câncer a tirou de nós aos 49 anos, deixando a todos estupefatos,
assim como ao marido, o grande Paulo José, pai de suas três filhas, todas atrizes.
Justa homenagem a uma de nossas mais belas e marcantes atrizes!
Dos PHES com roupa, esse é o melhor.
Dina, diva, mito.
Muito bonito isso aí cara! Muito triste também. Ao ler, me recordei nitidamente a voz da Dina e as tantas cenas que minha infância e adolescência viram dela nas novelas. Esse post tem o respeito, a paixão e a dignidade que as mulheres merecem.
Sem dúvida, Dina Sfat é ainda uma daquelas que nos faz sonhar…, pois deve existir alguma maneira mais sadia, mais inteira de amar, uma maneira dura de brigar, mas com a delicadeza dos enamorados que temem se perder porque essencialmente são instrumentos à vida: esse mistério aparentemente injusto que às vezes nos faz chorar por sermos seres inacabados ao findar… Todavia, sem dúvida, a história não pequena de Dina nos ensina a buscar algo que ainda vale a pena…
Mas talvez a relação com a doença possa ser vista no que ela está segurando na primeira foto, não? Inocentemos a omissão do milagre nisso.
Lembro de um filme, se não me engano do Ruy Guerra (uma encucação sobre cacau e seus senhores), em que tentam deixar a Dina feia, maltrapilha, o rosto todo sujo. Aí, quando ela fica na sombra das árvores, as roupas e a sujeira somem e temos a mulher deslumbrante de sempre. Lembro também de um concurso do Pasquim, na escolha da brasileira mais linda. Dina ganhou disparado, batendo inclusive Leila Diniz. Melhor ainda: a foto mostrada pros eleitores era apenas do rosto, quando outras senhoras só faltaram mostrar, bom, deixa pra lá. Credo, como tudo isso faz tempo. Me sinto um vovô contando velhas lendas em roda da fogueira.
Moscão, não tinha visto todas as fotos. A foto da eleição do Pasquim é essa da Dina meio que mostrando a língua.
Milton, obrigado pela lembrança. Felizmente tive o privilégio de acompanhar “de perto” a carreira teatral da Dina. Algumas encenações antológicas.
Dina Sfat sempre foi e sempre será uma grande estrela que brilha sobre nós