O inverno do nosso descontentamento
Shakespeare, Ricardo III
O inverno de meu descontentamento começou uns dias antes de 21 de junho e logo transformou-se em inferno.
Tive nas minhas mãos cada um dos ingredientes para iniciar uma das épocas mais podres de minha vida, com direito a ser testemunha da organização de uma espécie de fracasso público bastante injusto. Fiz bem em me recolher e então comecei a ter um dos maiores delírios de imodéstia de minha vida. Decidi que, desta vez, eu quereria o que efetivamente desejava, que eu tinha o direito de tentar converter em atingível o inatingível, de tornar a aventura ventura. Passei a olhar para o alto. E caminhei ao encontro daquela mulher cheia de modos, que parecia sempre chegar pelo ar; aquela muito linda, de belas expressões e frases cheias de reticências; aquela que me causava espanto ao explicar sempre melhor o que eu dizia, a que me ensinava a não imaginar tanto e considerar que dois e dois podiam resultar em, simplesmente, quatro; aquela que me disse que eu sabia ouvir e fazer-me ouvir e que narrava histórias tristes a seu respeito.
É preciso ter paciência para conhecer qualquer história, senão bastaria contar o início e o fim delas, sempre muito parecidos. Estamos nas preliminares de uma. Hoje, o que tenho a dizer é que a primavera de meu contentamento começou uns dias antes de 22 de setembro.
Promete… promete…
Vai te catar, Milton Ribeiro.
Charlles, tu sabes que as histórias desenrolam-se com lentidão.
“E caminhei ao encontro daquela mulher cheia de modos, que parecia sempre chegar pelo ar; aquela muito linda, de belas expressões e frases cheias de reticências; aquela que me causava espanto ao explicar sempre melhor o que eu dizia, a que me ensinava a não imaginar tanto e considerar que dois e dois podiam resultar em, simplesmente, quatro; aquela que me disse que eu sabia ouvir e fazer-me ouvir e que narrava histórias tristes a seu respeito.”
O texto está ótimo, mas cadê o resto, porra?
Reivindico meu direito a falar “cu” aqui. Não fui pioneiro nisso; certa vez você me mandou tomar nele. Não acatei, claro.
Charlles,
reivindico o meu direito: muito antes de você mandar o gaúcho tomar no respectivo…, eu já houvera, por diversas vezes, manifestado o meu desejo de casamento com o dito-cujo (não estou a mentir: é só consultar os arquivos antiguíssimos desse blog…).
Pois é, acabei de tomar no cu: o correto é “antiquíssimo”…
U-A-U.
POEMA VERMELHO
by Ramiro Conceição
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Degustar
o gomo
vermelho
do beijo.
Amanhece.
Trabalhar
o campo
do coração
da Vida,
e pensar-sentir
as flores
que Tu, Sol,
nos deste.
Anoitece.
Criar
Beijos
(amor)
vermelhos,
e dormir
qual faz
em paz
o pássaro
que tece encânticos.
Amanhece.
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SETEMBRAR
by Ramiro Conceição
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Setembro sonhos do passado agosto
ou outubros sonhos.
Setembro sem nenhuma data póstuma,
Sem qualquer parada pública.
Setembro finados tomando um porre,
pois não há data oficial para quem morre.
Sim… estou farto dos natais
com seus chacais de dezembro.
Setembro no presente indicativo
não no melancólico vocativo,
ah setembro.
Sim, eu setembro, pois celebro as flores
do Sul
em vindouros janeiros florescentes.
Gracias, Milton,
por ter retirado a Bethânia… Arrependi-me logo em seguida, após ter postado. Percebi que esteticamente ficara uma merda, mas já era tarde. Novamente, grato.