(Os nomes das instrumentistas e cantoras estão nas tags, ao final do post).
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Algumas pessoas relacionam a música popular com a sensualidade
e a erudita com a secura e a aridez.
(Sim — fazer o quê? –, é incontornável declarar
que alguns seres são mais limitados que outros).
E como há músicas eruditas plenas de sexo, amor e paixão!
Alguns ouvem música apenas com o sentimento, outros com as pernas,
mas há aqueles que ouvem toda a estrutura, até a estrutura física de quem executa
a obra e nosso coração. (Pura fantasia deste que vos escreve?).
O instrumento é como se fosse a extensão do corpo do músico..
Porém, é evidente que a maioria dos bons músicos não são belos;
pois, assim que como nem todos os belos são lá muito sensuais,
os feios podem ser sensualíssimos.
Com o instrumento de sua voz, até Jessye Norman
— conhecida na certa época como Jessye Enormous —
fez uma Carmen da mais entusiasmante sensualidade.
É que havia, escondido em seu peso de fáceis três dígitos,
um verdadeiro furacão — aquele mesmo que acabou por emagrecê-la.
Já eu, exagerado e algo radical,
penso que seja imprescindível expressar sensualidade para ser-se humano,
e mesmo o religioso compassivo é ativo sob suas austeras vestes.
(Essas fotos são de várias estrelas da música erudita, todas elas de primeira linha,
quase todas elas presentes no glorioso PQP Bach).
“O instrumento é como se fosse a extensão do corpo do músico”.
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Na segunda metade dos anos 70, quando aconteceu seu retorno ao Brasil, após ser internacionalmente reconhecido, Egberto Gismonti passou aproximadamente um mês entre os índios Yawaiapiti do Alto Xingu. Na ocasião, conheceu o chefe Sapaim, exímio flautista. De acordo com o multi-instrumentista, foi a primeira vez que testemunhou algo indescritível: a certa altura da perfomance de Sapaim não era mais possível distinguir o instrumento do instrumentista… Tudo era música!
PÁSCOA DAS CIGARRAS
by Ramiro Conceição
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Acordei em meio a uma melopeia nativa
de uma tribo do Xingu a dançar ao redor
da cama onde eu, sem medo, dormia nu.
Enquanto ocorria, levantei-me à alegria
e com fé fiz um café e – às gargalhadas! –
sambei no seio da casa do velho “eu” que se auto-olhava
não acreditando em mim, ali, a cantarolar qual as cigarras.
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PS: tudo era poesia…