William Shakespeare: 450 anos, hoje

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Com poesia, ele realizou brilhantemente o sonho de todo escritor: colocou nos palcos o poder, o amor, a vingança, a traição, a injustiça, a ambição, o ódio, a beleza. A humanidade seria diferente sem ele, certamente ainda pior. Ele tudo compreendia e há tudo em suas peças e poemas. Não apenas uma enorme diversidade de tipos humanos de qualquer classe social, como os mais variados desafios e sentimentos. O papel central de William Shakespeare no cânone ocidental consolidou-se a partir do século XVIII e de lá não mais saiu.

Você pretende beber em honra ao velho Bill?

(MACBETH, William Shakespeare, ATO II, Cena III)

MACDUFF — Quais são as três coisas que a bebida provoca especialmente?

PORTEIRO — Ora, senhor, nariz vermelho, sono e urinas. A lascívia, senhor, ela provoca e deixa sem efeito; provoca o desejo, mas impede a execução; por isso pode-se dizer que a bebida usa de subterfúgios com a lascívia: ela a cria e a destrói; anima-a e desencoraja-a; fá-la ficar de pé e depois a obriga a descansar. Em resumo: leva-a a dormir com muita lábia e, lançando-lhe o desmentido, abandona-a a si mesma.

Então, modere-se na comemoração.

Shakespeare

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3 comments / Add your comment below

  1. GENIAL.
    Tomarei uma inglesa por ele. Sinto uma relação especial com o bardo. Não só suas peças mas seu sonetos são fulcrais.
    Quando visitei a velha Albion pela primeira vez, programei duas visitas, o resto doi acompanhamento: Stonehenge e Stradtfort.
    Paguei meu tributo – e comprei uma camiseta que nem serviu, coisa de tiete – e pagarei de novo

    1. Minha peça preferida é Julio Cesar. Aquilo ali é fora de série. O ensaio desmistificador de Tolstói contra Shakespeare também é uma dessas coisas impagáveis na literatura: e paradoxal, pois concordo com a maior parte das críticas do russo, sem que isso ofenda o mínimo na minha admiração irrefutável do bardo.

      Hemingway, em “Do outro lado do rio, por entre as árvores”, já disse tudo: Shakespeare é o maior escritor de todos.

  2. Gosto muito do início de Ricardo III (ato I, cena I). O ritmo é alucinante…
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    RICARDO (Duque de Gloucester)
    – O inverno do nosso descontentamento foi convertido agora em glorioso verão por este sol de York, e todas as nuvens que ameaçavam a nossa casa estão enterradas no mais interno fundo do oceano. Agora as nossas frontes estão coroadas de palmas gloriosas. As nossas armas rompidas suspensas como troféus, os nossos feros alarmes mudaram-se em encontros aprazíveis, as nossas hórridas marchas em compassos deleitosos, a guerra de rosto sombrio amaciou a sua fronte enrugada. E agora, em vez de montar cavalos armados para amedrontar as almas dos temíveis adversários, pula como um potro nos aposentos de uma dama ao som lascivo e ameno do alaúde. Mas eu, que não fui moldado para jogas nem brincos amorosos, nem feito para cortejar um espelho enamorado. Eu, que rudemente sou marcado, e que não tenho a majestade do amor para me pavonear diante de uma musa furtiva e viciosa, eu, que privado sou da harmoniosa proporção, erro de formação, obra da natureza enganadora, disforme, inacabado, lançado antes de tempo para este mundo que respira, quando muito meio feito e de tal modo imperfeito e tão fora de estação que os cães me ladram quando passo, coxeando, perto deles. Pois eu, neste ocioso e mole tempo de paz, não tenho outro deleite para passar o tempo afora a espiar a minha sombra ao sol e cantar a minha própria deformidade. E assim, já que não posso ser amante que goze estes dias de práticas suaves, estou decidido a ser ruim vilão e odiar os prazeres vazios destes dias. […]

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