Às vezes,
diante do
espelho,
vejo coisas
terríveis…
*
*
CÉLINE E O AVESSO
by ramiro conceição
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CÉLINE:
“[…] tentei deitá-la em cima da palha… logo após o amanhecer… não queria que eu a deitasse… não quis… queria ficar em outro lugar… no lado mais frio da casa e em cima das pedras… deitou-se calmamente… começaram os roncos… era o fim… haviam me dito, eu não acreditava… mas era verdade, estava deitada no sentido da recordação, de onde viera, do Norte, da Dinamarca, o focinho ao norte, virado para o norte… cadela a seu modo tão fiel, fiel aos bosques de suas escapadas, Korsör, lá no alto… fiel também à vida atroz… os bosques de Meudon não lhe diziam nada… morreu após dois… três pequenos estertores… ah, discretíssimos… sem um só lamento… por assim dizer… numa pose de fato muito bonita, como em pleno ímpeto, em fuga… mas de lado, prostrada, acabada… o focinho para as suas florestas das fugas, lá longe de onde vinha, onde sofrera… só Deus sabe!”
“Ah, vi muitas agonias… aqui… ali… por todo lado… mas nem de longe tão belas, discretas… fiéis… o que estraga a agonia dos homens é a pompa… o homem afinal está sempre no palco… até o mais simples […].”
O AVESSO:
[…] tentei deitá-la em cima dos “trapos imundos”… logo após o amanhecer… não queria que eu a deitasse… não quis… queria ficar em outro lugar… no lado mais frio “do cárcere, em cima do cimento…” deitou-se calmamente… começaram “os angustiosos suspiros”… era o fim… haviam me dito, eu não acreditava… mas era verdade, estava deitada no sentido da recordação, de onde viera, do Norte, “da Holanda”, o “rosto” ao norte, virado para o norte… “menina” a seu modo tão fiel, fiel “às ruas” de suas escapadas, “Amsterdã”, lá no alto… fiel também à vida atroz… “aquelas ruas” não lhe diziam “mais” nada… morreu após dois… três pequenos estertores… ah, discretíssimos… sem um só lamento… por assim dizer… numa pose de fato muito bonita, como em pleno ímpeto, em fuga… mas, “Anne Frank”, de lado, prostrada, acabada… o “rosto” para as suas “estrelas” das fugas, lá longe de onde vinha, onde sofrera… só Deus sabe!
Do sábado? Nem falar,
após sete cervejas!
Não vou narrar os sete
tiros na encruzilhada:
seis mortos e 1 em coma.
A coisa aqui tá branca,
não tá pra brincadeira.
Não contarei dos sete
tombos do demônio, nas
sete esferas celestes
até o inferno terrestre
onde não se escapa com
botas de sete léguas,
fé ou versos de sete pés.
Às vezes,
diante do
espelho,
vejo coisas
terríveis…
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CÉLINE E O AVESSO
by ramiro conceição
*
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CÉLINE:
“[…] tentei deitá-la em cima da palha… logo após o amanhecer… não queria que eu a deitasse… não quis… queria ficar em outro lugar… no lado mais frio da casa e em cima das pedras… deitou-se calmamente… começaram os roncos… era o fim… haviam me dito, eu não acreditava… mas era verdade, estava deitada no sentido da recordação, de onde viera, do Norte, da Dinamarca, o focinho ao norte, virado para o norte… cadela a seu modo tão fiel, fiel aos bosques de suas escapadas, Korsör, lá no alto… fiel também à vida atroz… os bosques de Meudon não lhe diziam nada… morreu após dois… três pequenos estertores… ah, discretíssimos… sem um só lamento… por assim dizer… numa pose de fato muito bonita, como em pleno ímpeto, em fuga… mas de lado, prostrada, acabada… o focinho para as suas florestas das fugas, lá longe de onde vinha, onde sofrera… só Deus sabe!”
“Ah, vi muitas agonias… aqui… ali… por todo lado… mas nem de longe tão belas, discretas… fiéis… o que estraga a agonia dos homens é a pompa… o homem afinal está sempre no palco… até o mais simples […].”
O AVESSO:
[…] tentei deitá-la em cima dos “trapos imundos”… logo após o amanhecer… não queria que eu a deitasse… não quis… queria ficar em outro lugar… no lado mais frio “do cárcere, em cima do cimento…” deitou-se calmamente… começaram “os angustiosos suspiros”… era o fim… haviam me dito, eu não acreditava… mas era verdade, estava deitada no sentido da recordação, de onde viera, do Norte, “da Holanda”, o “rosto” ao norte, virado para o norte… “menina” a seu modo tão fiel, fiel “às ruas” de suas escapadas, “Amsterdã”, lá no alto… fiel também à vida atroz… “aquelas ruas” não lhe diziam “mais” nada… morreu após dois… três pequenos estertores… ah, discretíssimos… sem um só lamento… por assim dizer… numa pose de fato muito bonita, como em pleno ímpeto, em fuga… mas, “Anne Frank”, de lado, prostrada, acabada… o “rosto” para as suas “estrelas” das fugas, lá longe de onde vinha, onde sofrera… só Deus sabe!
“E agora aqui, morta, em Bergen-Belsen…”.
http://www.tvcandelaria.com.br/Videos/crime-brutal-homem-e-raptado-de-casa-surrado-e-depois-de-assassinado-corpo-e-jogado-no-mato/2135
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SÉTIMO
by ramiro conceição
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Não vou cantar às sete
fontes, às sete cores
nem… ao sétimo selo
do profeta louco João,
nem aos sete pecados
cometidos, num só dia,
por Set filho de Adão.
Do sábado? Nem falar,
após sete cervejas!
Não vou narrar os sete
tiros na encruzilhada:
seis mortos e 1 em coma.
A coisa aqui tá branca,
não tá pra brincadeira.
Não contarei dos sete
tombos do demônio, nas
sete esferas celestes
até o inferno terrestre
onde não se escapa com
botas de sete léguas,
fé ou versos de sete pés.