Estava em casa, lendo numa mesa de fórmica branca, daquelas que se faziam anos 60 e 70, quando Shakespeare chegou. Em meu sonho, ele falava um português machadiano. Sentou-se tranquilamente em meu antigo quarto com aquela mesma cara das pinturas, só que um pouco mais corado, e declarou que gostaria que eu começasse uma carreira de poeta. Propôs-se a ser meu ghost writer.
– Aliás – riu-se Shake -, já o sou.
Sorri e disse-lhe que não lia muita poesia e que era incapaz de um verso, mas que concordava com o esquema. (Um belo oportunista ou um homem preocupado em divulgar altíssima cultura? O primeiro, certamente.) Então, ele passou a me ditar os poemas mais sublimes e perfeitos, dos quais não lembro, é claro. Só lembro da profunda emoção que me causaram e da dificuldade que tinha para escrever com o lápis na fórmica, pois as lágrimas me atrapalhavam. Enquanto fungava, ouvia e copiava a maior e mais inédita das obras. Às vezes, perguntava-lhe onde deveria mudar de linha ou onde acabava a estrofe, essas coisas técnicas. Minha caligrafia era belíssima. (Minha letra é horrorosa.)
Depois de muitos sonetos – a mesa de meu sonho era imensa -, meu novo amigo cansou e pediu-me para levá-lo até a porta. Enquanto o acompanhava, ele garantiu que voltaria.
– Voltarei! – falou ele bem alto, para minha alegria.
Não parecia um espectro. Quando voltei, nossa empregada estava de joelhos sobre a mesa, esfregando-a com produtos de limpeza bastante eficientes. (Não vi suas marcas, então não posso indicá-los.) Vi a mesa branca, ainda úmida, e caí em abissal desespero. Acordei apavorado. Não é sempre que se perde um ghost desses.
Seu rosto era exatamente este, só que, como já disse, mais corado.
Milton, nem tudo está perdido. Dizem os eruditos em medicina que o cérebro humano é uma fantástica máquina fotográfica. Em um relance, registra tudo. Porém, logo em seguida, pelo aprendizado complexo da evolução, o cérebro, esse magnífico censor, decide o que é importante e, principalmente, o que não importa à sobrevivência, no instante a seguir. Assim, a maior parte das informações vai para uma região que Freud denominou inconsciente.
Logo minha sugestão é a seguinte: i) descubra aí, em Porto Alegre, um competente pai de santo; ii) leve a sua empregada (ops!, digo, parceira social à manutenção da zona doméstica…) ao terreiro do dito cujo; iii) importantíssimo, elabore um cigarrinho com a melhor erva do Mujica do Uruguai; iv) a) leve um desses smarts; b) invoque o Glauber para “descer” com as mãos trêmulas…; v) ordene aos atabaques o início da festança; e, por fim, vi) filme tudo e coloque na rede…
Milton,
escutei um samba…
Dizem ser do bardo.
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BRANCA DO CABELO MOLE
by William Shakespeare
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Liso, permanente
Teu cabelo enfeita a areia
E a pergunta que sai da mente
Qual’é o pente que DESPENTEIA?…
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Quando tu entra na roda
O teu corpo bamboleia
Minha Branca meu amor
Qual’é o pente que DESPENTEIA?…
Teu cabelo feito flor
Tem um “que” que me tonteia
Minha branca, meu amor
Qual’é o pente que DESPENTEIA?
Será o vento? Será o fogo
que te enfeita de sereia
na praia de Botafogo
Qual’é o pente que DESPENTEIA?…
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Branca do Cabelo Mole
(Oh minha Branca!)
Qual’é o pente que DESPENTEIA?
(Qual’é o pente!)
Qual’é o pente que DESPENTEIA?
(Qual’é o pente!)
Qual’é o pente que DESPENTEIA?
Oh! Branca!…
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PS. Tal samba deve ser gravado brevemente por João Gilberto…
Shake? KKKKKKK
não te aguento!
Quando eu estava terminando minha tese eu sonhei que minha grande e admirada professora, cujo nome não importa aqui (famosérima,mas na minha área), me dava toda uma solução nåo lembro se da tese ou de um capítulo. Era genial. No outro dia, quando acorde,i não lembrava mais nada, então escrevi um email para ela perguntando…mas ela tb não lembrava!!!
Teu caso é mais difícil, vais precisar de ajuda de um médium… e dos bons! Boa sorte!
Boa, muito boa…
Aliás, a sua empregada fez do teu sonho um verdadeiro pesadelo, não?
Um texto excelente, meu caro! Excelente!
Que sonho lindoooooooooo
daqueles para não esquecer jamais
Um presente dos Deuses!!!
Milton, meu caro amigo, passei para matar a saudade. Gostei muito do texto, que me lembrou uma história real. Um dia conto.
Grande abraço
Milton, Milton, MIlton!
As Shkspr said:
“Bless thee, bully… writer”
A-b-s-o-l-u-t-e-l-y!
Bravo!
Meg
raraa,shakespere…
ele é um escritor muito famoso , adoro sua comedia…
as historias mais legais é a de hamlet e o rei lear , muitas outras !!!!!
ele foi um escritos muito adoravel pelas as pessoas!!!
devemos dar os parabens para ele!!!!!