O conceito de desenvolvimento humano foi criado para definir o processo de ampliação das escolhas das pessoas a fim de elas possam se capacitar àquilo que desejam ser. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida resumida do progresso a longo prazo das três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. O IDH foi criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998.
Hoje, a Região Metropolitana de Porto Alegre ostenta o pior IDH das regiões Sul e Sudeste (ver tabela ao final do post) e quem anda por nossas ruas, notando as ações de nossos conterrâneos, concluem facilmente que nosso IDH é o que é em razão de uma das três dimensões básicas aferidas: a educação. Isso se nota até quando ouvimos o som de um conteiner sendo virado num caminhão de lixo. Lá parece só haver garrafas. Lendo detidamente a pesquisa sobre o IDH das regiões, fica claro: Porto Alegre está onde está por culpa de nossa péssima educação.
Anos atrás, eu fazia trabalhos comunitários como professor de qualquer coisa — mas principalmente de matemática — e ficava pasmo com o pouco que sabiam os estudantes da periferia da cidade. Como chegaria a usar suas potencialidades alguém que… Uma pergunta muito séria: como é que eles puderam chegar à sétima ou à oitava série do primeiro grau – e alguns já estavam no segundo grau – sem saber dividir 65.536 por 1000? Pois bem, exatamente este cálculo gerou um enorme debate em aula.
— Para onde vai a vírgula? Para a esquerda ou para a direita? – disse o mais culturalizado.
— Porra, que vírgula? Hahahahaha.
— Professor, isso é muito trabalhoso, vou ficar horas fazendo.
— Bota três zeros lá atrás e pronto!
— Mas tu tá dividindo, meu! O resultado não vai ser maior.
— Não, bota um zero só! Lá atrás.
Foram trinta minutos de exercícios só de multiplicação e divisão por múltiplos de 10. Uma dificuldade.
Esta é nossa educação. E nos colégios públicos da zona central não é muito diferente, tanto que uma vizinha cujos filhos só vestem roupas de grife, me disse que, na aula de seus guris, ninguém ouve a professora pois todos gritam e conversam ao mesmo tempo. (Colégio Anne Frank, Bonfim, Porto Alegre). Claro que é um absurdo pagar impostos e ainda a educação e a Unimed, mas quem considera que educar é um bom investimento morre com mais de R$ 1000 mensais por uma educação que mereça este nome. E nem sempre merece, mas esta é outra história.
Nos longos intervalos de minhas aulas, a pedido dos alunos, dava aula de matemática sobre os temas do colégio de cada um: um pedia auxílio nas equações de primeiro grau, nas de segundo grau, na divisão de polinômios, o diabo… Mas como é que iam dominar tais tópicos se não dominavam conceitos muito mais básicos? Olha, era complicado e, se eu extraía algum prazer em ajudá-los, sentia enorme cansaço e desconsolo quando saía de lá – e eu tinha escolhido um trabalho simples e útil para mudar de ares e descansar… Era um trabalho de Sísifo e se, com alguns de meus alunos buscava minha pedra um pouco mais acima, com outros a coisa parecia piorar de semana para semana.
Saía de lá pensando na inutilidade do que fazia. Alguns riam quando lhes dizia que ele tinham que estudar e praticar em casa. Passei a lhes dar meus conselhos rindo, meio sem acreditar em minhas palavras. Havia bons e esforçados alunos, mas estes eram uma minoria que sentava bem na frente a fim de me ouvir. O resto permanecia em suas conversas e acertos pessoais.
O que quero dizer é que nossa educação é um imenso fracasso. É algo que, para ser alterado, demandará anos. Pois quem está sendo educado hoje nas escolas públicas serão pais de alunos que aprenderão em casa que a escola não é tão importante assim. Mais: lendo os cadernos de meus alunos, podia espreitar a baixa qualidade do professor que ensinava coisas erradas ou pelo método mais difícil e decorado. Sim, fico meio puto ao lembrar de alguns contatos que tive com estes mestres. Eram pessoas desinteressadas que apenas se preocupavam com a disciplina formal de seu aluno e não com a disciplina cabal do aprendizado. Era como se uma coisa não estivesse associada à outra. Ficavam desconcertados ou achavam graça quando eu lhes perguntava como tinham abordado determinado tópico. E o maior problema é que também sabiam pouco. Era de chorar. E, céus, como estes alunos passavam de ano, chegando ao segundo grau sem entender uma Regra de Três? Olha, não sei. E como se faz um país com esses alunos?
Na prática, sei que a educação é o entrave para nosso desenvolvimento. O estudo diz: nas três dimensões que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a educação está estagnada, enquanto avançam os indicadores de renda e saúde, que não deixar de crescer se o primeiro item não melhorar. É uma situação gravíssima no país e a situação da Região Metropolitana de Porto Alegre é especialmente triste, pois, sem educação, vamos continuar como estamos, ladeira abaixo.
Oxe, cadê Floripa na lista?
Se vocês estão pior que Goiás, então é porque a coisa está em patamares de uma desgraça inclassificável!
Essa lista é uma besteira cuja verdade se vê só nas entrelinhas, como todo medidor estatístico empregado no Brasil (principalmente o que nos coloca como a oitava ou nona economia mundial: nós, um povo atolado em financiamentos e dívidas kardecistas*, cuja maioria sobrevive de subempregos que beira a escravidão). A educação pública no Brasil é um crime na mais literal acepção do termo.
*Kardecista pois só se pode pagar de geração para geração, ou de encarnação para reencarnação. Vide “Minha Casa, Minha Vida”, onde imóveis de péssima qualidade são postos à venda com 100% de faturamento do preço inicial, e que a Caixa Econômica aumenta ainda em cerca de 150% deste preço o montante final que o indivíduo paga no fim da vida, sem contar os atravessadores de praxe, engenheiros e funcionários do banco, que exigem uma propina justa para tornar o próprio crime do financiamento possível.
Infelizmente esse país não tem solução. Tudo aqui é constrangedoramente de ponta cabeça. Em qual país do mundo as melhores escolas públicas são justo as escolas militares?
Há uma nada sutil diferença entre os dados de “Porto Alegre” (como está no título), e a RMPA (a que se referem os dados mencionados no texto) O MUNICÍPIO de Porto Alegre tem IDH 0,805 (“Muito alto”), ou 28o entre todos os municípios brasileiros (O melhor do Brasil chega a 0,862). Melhorou 8,2% na última década. Mas de fato, entre os três componentes do IDH, é o de educação (0,702) que puxa a média da capital para baixo. http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/porto-alegre_rs
Como já é sabido por aqui, sou professor do Ifes, Instituto Federal do ES, responsável pela cadeira de redução de minérios de ferro e ministro cursos em nível técnico, em nível de engenharia e também de pós-graduação. Inicio todos os cursos, as primeiras três aulas (não importando se na turma há ex-alunos), com o conceito de mol. O impressionante é que sempre parece que estou a falar grego.
Ao abordar o conceito de mol, aproveito para revisar a regra de três, a equação de primeiro grau e etc. Vou deduzindo tudo… Reforço sempre que não é necessário decorar nada… Os alunos ficam assustados…
Aviso, de antemão, que sou um professor bonzinho, que sempre deixo claro o que vai cair na prova, porém sempre com perguntas do “capeta”, isto é, aquelas que exigem discussão, dedução e, principalmente, redação consistente. Para mim, não adianta um aluno apresentar, e/ou deduzir, uma equação, se não é capaz de expressar claramente o seu significado.
Já aconteceram coisas paradoxais, um exemplo: certa vez, reprovei uma aluna que elaborou uma prova quase perfeita. O problema foi que a prova era perfeita demais: funções termodinâmicas complexas, que eram para ser deduzidas e, consequentemente, com imprecisões de cálculo, foram apresentadas com coeficientes tabelados, na literatura especializada, até a terceira casa decimal!
Qual foi a nota? ZERO! A espertalhona, na revisão programada, fantasiada de indignada, adentrou à minha sala para tirar satisfação… Antes que começasse a dizer qualquer coisa, ordenei que desligasse o seu Smart… Em menos de um minuto, como por milagre, a indignada ficou mansa… E se retirou a falar qualquer coisa…, que não entendi.
Poxa, fiquei tão preocupado!…
Querido Milton, então:
– É de assustar mesmo o que escreves em relação à educação e, pior,
não tem muito horizonte verde pela frente: nosso Ilmo. Sr. Governador acaba de fechar as portas para novos Concursos; a situação de nossa DÍVIDA do estado está cótica, e assim segue o baile – em todas as áreas tem um problema SÉRIO a ser resolvido. Tá de chorar. . ! Quase entro em PÂNICO quando penso em nossas futuras gerações, afinal, é do trabalho dessa gente que virá NOSSA aposentadoria – Já pensou nisso. . ? Enfim, por enquanto, vamos trabalhando e tentando fazer NOSSO MELHOR. É isso.
Forte abraço.