Publicado em 16 de junho de 2014 no Sul21
Por solicitação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (SINDJORS), a Brigada Militar mostrou como deve ser o comportamento dos profissionais de imprensa durante quaisquer manifestações, durante ou fora da Copa do Mundo. Além do presidente do Sindicato, Milton Simas Junior, estava presente um grupo de jornalistas convidados. O evento teve a duração de dois turnos, manhã e tarde, envolvendo uma parte teórica pela manhã, almoço e prática à tarde. O local escolhido foi o canil da Brigada, já que todos os outros espaços estavam ocupados por militares que vieram do interior.
A instrução foi ministrada por três capitães — Araújo, Euclides e Bukowski. Bukowski fez uma apresentação do ponto de vista legal, revisando as atribuições e a lei que regula a atividade policial dentro do contexto das manifestações. Sua apresentação teve o auxílio de um PowerPoint que mostrava cenas de manifestações. Ele abriu a apresentação com uma imagem do filme Tropa de Elite que mostrava a frase “Agora o inimigo é você” e outras imagens de protestos retiradas das redes sociais.
Depois disso vieram os dois outros capitães, os quais fizeram uma abordagem do ponto de vista estratégico. Definiram, por exemplo, a sigla CDC (Controle de Distúrbios Civis) e explicaram como os jornalistas devem se portar diante de uma manifestação a fim de se proteger fisicamente. A teoria estendeu-se até a hora do almoço.
Após o almoço, houve a apresentação das armas utilizadas para conter conflitos. Foram apresentados os armamentos da Condor, empresa do Rio de Janeiro, tais como lançadores de granada e diversos tipos de munições não letais.
Depois, os jornalistas foram levados num micro-ônibus até uma pedreira próxima ao Quilombo dos Alpes. Ali, foram demonstradas cada uma das munições. Calibre 12 de curta, média e longa distância, quatro tipos de granada de efeito moral, gás lacrimogênio, etc. Depois de fazer demonstrações em três alvos — silhuetas humanas de papelão –, os jornalistas foram convidados a participar.
Nem todos entraram na fila com a finalidade de experimentar as armas. Os que participaram deram tiros com vários tipos de munição. Alguns puderam jogar granadas também. Havia granadas para serem jogadas com a mão e outras para serem atiradas com um lançador. Depois disso, foi feita uma demonstração de como atua a formação clássica de um pelotão do choque. Então, surgiu um pelotão do BOE vestido exatamente como os que vão para as ruas, equipado, armado e em formação. A intenção era reproduzir a abordagem de aproximação contra manifestantes. No teatro montado, os manifestantes eram policiais à paisana que gritavam “Revolução! Não vai ter Copa!”. Ninguém atacou ninguém.
Então, foi proposto que os jornalistas se fizessem de pelotão de choque. “Agora, os policiais vão tirar seu equipamento e os senhores poderão usá-los para sentir o mesmo que a gente sente”. Com exceção de três jornalistas, o restante do grupo animou-se a fazê-lo. E passaram a vestir-se como policiais. Houve brincadeiras com aqueles que não aceitaram participar da simulação. “Vocês não vão receber o certificado de participação no curso…”.
O presidente do Sindicato ficou entre aqueles que colocaram os capacetes, escudos e o cassetetes. Eles fizeram a formação da polícia e foram atrás dos “manifestantes”. Quando chegaram a uma certa distância, os “manifestantes” começaram a atacá-los com frutas. Em meio à simulação — conforme fora combinado previamente com o comando do BOE — , o instrutor da PM aproximou-se por trás e soltou uma bomba real de gás lacrimogêneo, provavelmente do tipo “bailarina”. Esta não explode, somente esguicha o gás. Formou-se então uma nuvem branca no meio da tropa de jornalistas, que ficaram desnorteados. E o capitão gritou:” Mantenham a unidade! Não se dispersem!”. Como eles não tinham o treinamento adequado, dispersaram-se de qualquer maneira, começando a tossir. A assessora do Sindicato caiu, passando mal, e foi atendida por dois oficiais médicos que estavam lá.
Todos ficaram constrangidos durante o atendimento. O comando explicou que aquilo não estava dentro do previsto, mas que os médicos resolveriam o problema rapidamente. Após a assessora erguer-se e não sem antes tirar uma foto com fumaça colorida para guardar como lembrança do curso, todos dirigiram-se para o micro-ônibus de volta para o batalhão, onde foi servido um lanche de pão com salsichão. Foram entregues os certificados e houve mais falas, inclusive a do comandante geral do Batalhão. O presidente do sindicato sugeriu uma aproximação entre os jornalistas e policiais militares: “Espero que não aconteçam protestos como os do ano passado, mas, se houver, desejamos que os jornalistas possam trabalhar em conjunto com a Brigada”.
Depois disso, o representante do Sindicato entregou a cada um o guia da Copa da Volkswagen para jornalistas.
Segundo o cartunista e repórter fotográfico Carlos Latuff, presente no evento, a ideia era a de capacitar os profissionais da imprensa que cobrem manifestações para atuar com segurança. Mas o que se verificou, principalmente nesse momento da prática, foi uma aproximação dos jornalistas com a tropa de choque, com a polícia, através de jogos lúdicos. “Repare que o pessoal brincava com escopeta calibre 12, atirando bala de borracha. Aquela arma, aquela munição, é utilizada para atingir pessoas. Pessoas, inclusive, já perderam os olhos por conta dessas balas. O comando disse que havia diferença de precisão entre a munição fabricada no Brasil e a munição padrão americano. Disseram que o policial é treinado para atingir o manifestante do joelho para baixo, mas que estes muitas vezes os atingem mais acima em função da munição nacional não ser de boa qualidade. Nos Estados Unidos , palavras deles, “se você atira abaixo do joelho é abaixo do joelho que a munição vai”. No Brasil não. É curioso que o Brasil, através da Condor, exporta essa munição. O gás lacrimogêneo utilizado no Bahrein é feito pela Condor. O gás lacrimogêneo que é utilizado na Turquia é também produzido pela Condor. Não acredito que esses países comprariam produtos de má qualidade do Brasil”.
Segundo o jornal Versão dos Jornalistas, do SINDJORS, o presidente Milton Simas e o comando do BOE acenam com novas ações integradas entre as duas entidades. “Todos saímos do treinamento melhor instrumentalizados para cobrir protestos. A Brigada Militar deixa abertos seus portões aos jornalistas e isto pode significar uma nova edição do curso. Recebemos orientações importantes de como se portar e de como comparecer a estas manifestações. Por exemplo, poucos sabem que lentes de contato não combinam com gás lacrimogêneo e que há que ser cuidado até com a maquiagem”. O primeiro secretário do SINDJORS, Ludwig Larré, um dos idealizadores do treinamento, observa que a entidade assumiu uma responsabilidade que deveria ser das empresas, no sentido de promover a segurança dos trabalhadores jornalistas. “Não podíamos protelar essa capacitação. O Sindicato tem que zelar pela integridade física da categoria. Se isso ocorrer por meio de ações conjuntas com as empresas, tanto melhor. Caso contrário, estaremos sempre buscando os meios para que esse serviço não deixe de ser prestado”, pondera Larré.
CACAREJARÃO
(“OLIMPÍADAS? NÃO!”).
BUCANEIROS
by Ramiro Conceição
Eram de Road Town: sim, bucaneiros das Ilhas Virgens Britânicas… Naquele tempo, falaram muito em liberdade de expressão, mas pouquíssimas vezes se viu tão poucos enlamearem tanto a liberdade de imprensa; pouquíssimas vezes, tanto ódio brotou às escondidas para manter o status quo à manipulação política; pouquíssimas vezes se viu tão poucos dublês de jornalistas, no Brasil, a esconder tantos privilégios; sim, pouquíssimas vezes, tão poucos pistoleiros e pistoleiras tentaram tanto manter tantos em condições subanimalescas.
PÁ DE CAL
by Ramiro Conceição
A rua, a casa, o casal,
tudo acorda,
até o Sol acorda depois
do entregador de jornal.
Mas
o que de motocicleta
o entregador entrega?
Notícias?
Certamente, não
(tudo já foi mastigado).
Análises?
Claramente, não
(tudo já foi deturpado).
Educação?
Obviamente, não!
Afinal
o que de motocicleta
o entregador carrega?
Não é um hábito, mas um vício!
Então é preciso voltar ao início
e, com alívio,
jogar uma pá de cal.
A rua, a casa, o casal,
tudo acorda,
até o Sol acorda sem
o entregador de jornal.
Milton, me desculpe… É que não dá pra calar…
REFLEXÕES EM UMA SEXTA-FEIRA SANTA
Em recente post, Ienald Pigii escreveu essa pérola:
“A ética como a ensinam as marilenas e os janines faz mal aos homens e às borboletas e só serve à construção de um partido que se pretende dono do destino de borboletas e homens.”
Realidade:
o tal partido “que se pretende dono do destino de borboletas e homens” PERDEU três e ganhou QUATRO eleições democráticas à Presidência da República e está a viver, por seus acertos e também por seus erros, “um inferno astral” justamente por respeitar o Estado de Direito vigente no Brasil; além do mais: tal governo trabalhista, capiteneado pelo partido que NÃO é dono do destino de borboletas e homens, em 2018, disputará uma nova eleição democrática, na qual poderá ganhar ou perder.
Perguntas que não querem calar:
1) Quem na realidade – com um ódio cotidiano que chega a assustar -, se pretende dono do destino de borboletas e homens?
2) Quem apoiou o crime eleitoral de Veja – com sua capa – , nas últimas eleições?
3) Quem vive do dinheiro pago por uma organização capitalista que, NÃO considerando seu INÍCIO BRILHANTE, a partir de certo ponto de sua trajetória empresarial, escolheu, como alternativa aos seus negócios, não CORRER MAIS RISCOS; e, assim, desde uma parte do corpo da ditatura até o presente se aproveitou, e se aproveita, das mamatas do estado brasileiro (e, portanto, mamando descaradamente o erário.)? (… e aqui, senhoras e senhores, de fato, vale a teoria do domínio do fato! Ainda mais: esse foi um dos erros fundamentais dos governos trabalhistas, pois aqueceram o ovo da serpente durante anos e, agora, sofrem politicamente as consequências…).
Depoimento histórico:
“Victor Civita me disse no palácio que o papel da imprensa não é agradar o governo. Mas será que tinha moral pra dizer isso? Vá ver se a Abril não foi selecionada para fornecer livros fornecidos (sic) pelo Ministério da Educação… Prefiro Mino Carta, de quem o general Geisel não gostava. O Mino é um chato, um criador de casos, com aquele vício de questionar tudo. Algum dia, ele vai querer fazer a revisão do Evangelho. Mas não ficou com o RABO PRESO.”/1/
O depoimento acima não foi feito por Lula, Dilma, José Dirceu, José Genoino ou está contido em algum documento secreto do partido que NÃO É DONO DO DESTINO DE BORBOLETAS E HOMENS, mas por João Baptista Figueiredo, o penúltimo general, pois estão a tentar a ressurreição dos mortos…
Diz uma certa lenda que tal milagre só é possível em nome de Jesus… (Vai saber!).
/1/ Mino Carta, Castelo de Âmbar, Editora Record, 2000, p.197.
P.S: Desculpem-me qualquer erro… Estou na quarta cerveja… Devo ser um dos bilhões de ladrões ao lado Dele, nesta tarde… (Calma, Ienald!… Calma, Ienald… Não sou santo não! Mas vivo de meu salário, limpo…).
ILHA DAS METÁFORAS
by Ramiro Conceição
Cantam cantos antigos
que o mal é ardiloso
e que, sedutor, ilude a plateia
que, por ter os caninos escuros
com sangue de assassinatos cometidos,
não percebe – por medo – a insensatez.
Cantam sonhos longínquos
que o mal é a raiz da culpa
que impede esta monada,
desde a tenra idade,
à iluminação, à humanidade,
ao cuidado desta Terra única.
Cantam que tudo em nós é fruto
duma moral hipócrita e repressora
e que tudo sempre termina
num medíocre e terrível engano
colossal de templos e religiões:
uma manada de anões primatas,
bambos, prontos pra assassinar
quem ouse à alegria de duvidar.
Cantam cantos modernos
que a nossa civilização
judaico-cristã-muçulmana,
por ser estupidamente desumana,
possui a face dum quadro de Picasso:
o lado esquerdo em cisalhamento ao direito
tal qual o desespero em gritos dos ciprestes
destorcidos das telas de Van Gogh.
Cabe aqui uma pergunta.
Fomos, somos e seremos somente
caretas, caricaturas e canalhas
dum bando de micos amestrados?
Cabe aqui uma resposta.
Por herança da evolução,
somos um milagre repleto
de coragem.
Mas coragem pra quê?
Para cantar e permitir
a continuidade da vida
nesta casa bendita.
Portanto canto e declaro
claramente que somos parte
das consciências do futuro,
do passado e do presente
em processos de passagem;
canto e declaro
claramente que a diferença
entre um bem-te-vi e Einstein
é simplesmente a maneira
diferente do bater de asas.
O amor é o senhor da Terra
pois continuamente gera…
E há muita semelhança
entre a mulher, que nos braços
seus filhos queridos abraça,
e o Sol, que com nove braços
seus filhos queridos entrelaça
(Plutão não é um bastardo).
Dizem que sou de aquário
pois ao sonhar às vezes rio,
a crer que do nosso aguadeiro
florescerá a sinfonia do amor
que será cantada e amada
em estelares línguas claras.
Porém, confesso: sou um contumaz
devorador de astrólogos à milanesa
regados – é claro – à muita cerveja.
Contudo, lúcido, continuo a declarar
que o amor não necessita de templos
e que nunca será de pouquíssimos,
pois Beethoven canta – no Uirapuru.
Sob o céu das palavras,
dança com graça
a Ilha das Metáforas.
Lá, elas procriam.
De lá, elas vigiam.
De lá, vêm o início
e o fim.
Sim… Eu vim de lá para mediar
qualquer forma de amar que está ali
na estelar sala de estar e, aí
dentro do teu amor, caro leitor.