Em Israel, entre as oliveiras

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Quando visto à noite, é ainda mais bonito
Quando visto à noite, é ainda mais bonito

No início do ano 2000, minha Elena foi visitar seus familiares em Israel. Entre um passeio e outro, foi aos grandes mosteiros russos erguidos no Monte das Oliveiras. Os prédios são belíssimos. Um deles, o da foto acima, foi construído em 1886 pelos Romanov, a mandado do czar do antigo Império Russo Alexandre II, em homenagem a sua mãe, a imperatriz Maria Alexandrovna. Sim, os prédios foram pagos pelos russos de então.

Não se enganem, esta torre é enorme.
Não se enganem, esta torre é enorme.

O outro mosteiro ortodoxo, o da foto ao lado, é de 1870, é imenso e tem até uma fábrica de azeite de oliva em seus 5,4 hectares. O Monte das Oliveiras tem três picos dispostos no sentido de norte-sul. É um local sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos.

Após visitar detalhadamente os mosteiros, por interesse histórico e por ser cristã ortodoxa, a querida Elena, namorada deste ateu que vos escreve, caminhou para a região católica do Monte, entre suas árvores milenares. Foi quando deu-se conta de que estava no Jardim de Getsêmani, ao lado das famosas oliveiras sob as quais Judas deu o beijo fatal em Jesus. Para quem não sabe, um beijo foi a forma escolhida por Judas Iscariotes para identificar Jesus aos soldados que vieram prendê-lo. A combinação era de que Judas beijaria o homem que deveria ser preso. Tal traição a Jesus ocorreu exatamente no Getsêmani, debaixo das oliveiras, após a Última Ceia. E o ósculo levou Jesus à prisão pela força policial do Sinédrio (assembleia de 70 juízes que a lei judaica ordenava existir em cada cidade). Tal fato criou a expressão “Beijo de Judas”.

A azeitona hoje
A azeitona de Judas após 15 anos, sobre um livro de Dostoiévski | Foto: Elena Romanov

Elena viu uma azeitona seca no chão e levou-a como um troféu de peregrinação (ao lado, a coitada da azeitona). Neste mês, num espaço de sete dias — mais bíblico ainda –, aconteceram dois casamentos diferentes de pessoas conhecidas. Por mera coincidência, havia pessoas de igual sobrenome. Minha Elena é cheia de superstições e me veio com esta história de azeitonas, achando que era um bom sinal e “que devemos abençoar, de coração puro, estas uniões”. Estamos livres para o que der e vier.

Ela gosta de azeitonas, eu detesto.

(Há um pacto. Quando formos a Israel, ela vai sozinha a estes lugares santos — apesar de que aquela coisa toda é chamada de Terra Santa… Tô ralado).

As oliveiras do Jardim de Gersêmani
As oliveiras do Jardim de Getsêmani

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7 comments / Add your comment below

  1. “Para quem não sabe, um beijo foi a forma escolhida por Judas Iscariotes para identificar Jesus aos soldados que vieram prendê-lo. A combinação era de que Judas beijaria o homem que deveria ser preso. Tal traição a Jesus ocorreu exatamente no Getsêmani, debaixo das oliveiras, após a Última Ceia. E o ósculo levou Jesus à prisão pela força policial do Sinédrio (assembleia de 70 juízes que a lei judaica ordenava existir em cada cidade). Tal fato criou a expressão “Beijo de Judas”.”

    Cara cristã ortodoxa, Elena, não liga não: o narigudo é assim mesmo – sempre a tirar uma lasquinha da pele dos cristãos: é um comportamento atávico.

    P.S.: sr. Milton Ribeiro, mui grato por sua profunda exegese bíblica… Posso dar-lhe uma sugestão: por que o sr. não vai comer azeitonas, hein?

  2. Sr. Milton Ribeiro, de fato, o seu “detesto” traz em si algo sadio, pois azeitonas industrializadas contém sódio (na forma de cloreto, NaCl) que, conforme especialistas em nutrição, parece ocasionar um mal ao metabolismo, principalmente, associado à pressão.

    Mas – SEMPRE EXISTE UM “MAS” QUE VIRA TUDO! – poder-se-ia processar as tais com uma mistura de cloreto de sódio e cloreto de magnésio (MgCl) que, também, de acordo com outros especialistas, é benigno ao metabolismo.

    Bem, sr. Milton Ribeiro, como se deduz, tal questão foge ao objetivo do post… Contudo, gostaria de fazer uma abordagem semiótica sobre o seu “detesto”.

    Como se sabe, ao se comer uma azeitona um caroço é gerado entre a língua e o céu da boca. Daí surge uma questão civilizatória: se cospe o caroço ou, delicadamente, se retira o mesmo com o auxílio dos dedos (ou com o garfo que está a servir de instrumento à degustação alimentar).

    Essa questão é fundamental, pois ao cuspi-lo o dito-cujo poderá voar a esmo, inclusive com a probabilidade de atingir o(a) seu(a) parceiro(a) de mesa; por outro lado, sob a delicadeza, ele poderá ser colocado inerte, ao lado, no prato.

    Daí, surge uma questão ambiental: o caroço é simplesmente lixo ou tem alguma outra utilidade? Daí vem uma questão prática de fé: se o caroço é uma semente, então ele poderá ser plantado em algum lugar onde gere de maneira produtiva uma oliveira.

    Agora sim, sr. Milton Ribeiro, vem aqui, e agora, a questão teológica fundamental: ao se plantar – ou se guardar – o caroço de uma simples azeitona, que potencialmente gerará uma oliveira, se está a obedecer, AMOROSAMENTE, o que nos ensinou a INOCÊNCIA que foi levada à morte – por um beijo!… Pois o que importa É O QUE SAI DA BOCA DO HOMEM (com violência ou delicadeza…).

    P.S.: sr. Milton Ribeiro, a sua Amada – A GUARDADORA DE OLIVEIRAS – com certeza, lhe ensinará muito ALÉM DA MÚSICA… Dessa maneira, lhe desejo um futuro azeite, INOCENTE, que azeite as engrenagens EFÊMERAS entre o coração e a razão. Ou em uma única palavra: FELICIDADES!

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