Dedicado à memória de Carl Nielsen,
no dia dos 150 anos de seu nascimento.
Era uma vez uma pequena família de micróbios que vivia no lado dois de um disco de vinil. Eram três irmãos que moravam com seus pais na Sinfonia Nº 2 de Nielsen, Os Quatro Temperamentos, regida por Leonard Bernstein. Mas chega de números, não quero cansar vocês logo no primeiro parágrafo. Na música gravada, que a família jamais tinha ouvido por não possuir nada que se assemelhasse a uma orelha, cada movimento é curiosamente dedicado a um temperamento — colérico, melancólico, fleugmático e sanguíneo. Os irmãos habitavam um sulco do movimento fleugmático e o disco do qual tratamos está fotografado abaixo, nas mãos do autor desta história verdadeira.
O disco estava sem tocar há anos e os micróbios alimentavam-se e se reproduziam no local. É que como o vinil estava dentro de uma capa sem plástico, os pais iam facilmente ao papelão interno para retirar dele sua comida. Eram muito felizes.
Mas, ontem à noite, ninguém tinha informado à família que era a véspera dos 150 anos do autor daquela música. E o mundo todo começou a girar e vibrar justo quando mãe e pai estavam fora de casa, pois tinham ido até o papelão buscar o jantar.
Cada um dos irmãos tinha uma característica: um era ansioso, passional e gordo, outro era inteligente, fleugmático e bem pequeno e o terceiro era muito burro e oscilava entre o nervosismo do primeiro e a astúcia do segundo.
Mas, contava eu, o disco foi posto finalmente para rodar e eles estavam ficando tontos. Quando o dono virou o lado, eles puderam observar aquela enorme agulha cada vez mais próxima. O micróbio inteligente logo concluiu que aquela coisa brilhante estava percorrendo todo o sulco onde eles brincavam. Na verdade, ele achavam que eram muitos sulcos lado a lado, não apenas um só. Então, ele raciocinou com sua mente poderosa que, quando a coisa passasse quase encostando, rente às suas cabeças, eles deveriam pegar suas dezoito perninhas e pularem para o sulco que fora recém percorrido, porque o próximo seria o da casa deles.
E combinou com seus irmãos o que fazer. Incrivelmente, todos entenderam. Porém, quando a agulha estava a três sulcos de distância, o passional pulou para aquele lado a fim de se garantir mais cedo. A passionalidade é muitas vezes tola e fatal, sabemos. Quando o diamante se chocou contra seu corpo, destroçando-o, o dono do disco ouviu um pequeno chiado e pensou na ação do tempo sobre todas as coisas, inclusive sobre si mesmo. Os dois irmãos sobreviventes notaram que tinham perdido seu irmão, mas logo se consolaram. Sabiam que sua mãe poderia fazer mais.
Quando a agulha passou rente à cabeça dos dois remanescentes, o astuto pulou para o sulco ao lado, mas o dubitativo estava com medo e ficou refletindo se deveria seguir ou não o irmão. E perdeu sua pequena vida. Quando de sua morte, o chiado foi bem alto pois não apenas o vacilante fora decapitado, mas a agulha entrara e saíra rapidamente do buraco-moradia da família. Meus amigos, eu não prometi uma história alegre. Desta forma, só o astutinho permaneceu com vida.
A mãe apenas obteve retornar para casa após o disco ser guardado. Ela estava perdida no papelão sem entender nada. Cadê minha casa? Quando retornou, encontrou apenas o filho esperto. Mas não se surpreendeu. Na verdade, não lembrava quantos tinha. E logo ficou com vontade de fazer mais daqueles bichinhos tão lindos.
Muito bom!
“A mãe apenas obteve retornar para casa após o disco ser guardado. Ela estava perdida no papelão sem entender nada. Cadê minha casa? Quando retornou, encontrou apenas o filho esperto. Mas não se surpreendeu. Na verdade, não lembrava quantos tinha. E logo ficou com vontade de fazer mais daqueles bichinhos tão lindos.”
É, Sr. Milton Ribeiro, após a sua excelente experiência musical, cheguei à conclusão de que a nossa única saída global é “botar” o disco pra tocar até arrebentar…
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STATUS QUO
by Ramiro Conceição
Pra manter o status quo,
o dito PRIMEIRO mundo
quer que o resto vá para
o QUINTO…dos infernos.
P.S.:
http://www.conversaafiada.com.br/economia/2015/06/11/bioceanica-quem-nao-quer-e-por-que/#comment-1986425