Eu e Elena costumamos caminhar sem rumo pela cidade. Ela diz que este hábito, realizado sem objetivos ou horários, dá-lhe uma tranquilizadora sensação de férias. Eu aderi. E, assim, é normal irmos para qualquer lado ou lugar, entrando nas exposições, livrarias, restaurantes e cinemas que quisermos, de forma desprogramada, só pela curiosidade. É uma bela interrupção, uma fuga da correria.
Uns dez dias antes, em nossas andanças, já tínhamos visto aquilo, mas achamos que era temporário e não valia o registro. Não era. Então, ao meio-dia do sábado passado, após visitarmos um restaurante tailandês da Rua Miguel Tostes, em Porto Alegre, vimos novamente a coisa. (A propósito, o tailandês é muito bom, mas fica melhor ainda com o desconto do Mobo. A foto de nossa refeição — abacaxi recheado de camarões — está abaixo. Aquelas flores também são comestíveis e a pimenta, apesar de docinha, transforma qualquer um num dragão.)
Mas voltemos a nosso tema.
Depois seguimos na direção da Av. Protásio Alves e do mundo para ver que aquilo não era temporário, mas uma instalação elétrico-artística urbana, uma coisa da arte, com significado e beleza obscuros. Na altura do nº 934 da Miguel Tostes há um emaranhado de fios ao lado de um poste (foto abaixo). Trata-se certamente de uma metáfora de nossas vidas, pois permanecemos em pé, apesar da inextricável floresta de estímulos e problemas. Só alguém tão alto quanto o prefeito Fortunati (1,98m, quase um poste) poderia ter tido esta ideia maravilhosa. A coisa começa lá em cima, perto do céu, e desce até nós, pedestres, através de um aparelho especial, que nos faz concluir que a confusão que nos atinge vem de esferas mais altas.
A coisa certamente não é perigosa, então podemos brincar com as partes da geringonça que vão até quase o chão. Não tive coragem de tocar na instalação — afinal, se os museus fechados não apreciam que metamos a mão nas obras de arte, cumpre seguir a regra –, mas o instrumento tem um simpático ar de Lego decaído.
Porém, se sou um adulto treinado em museus, a maioria das crianças não é. Certamente meus sete leitores permitiriam que seus filhos brincassem com a peça, puxando-a para baixo junto com os fios que a sustêm. Em nossa cidade, ninguém seria irresponsável a ponto de colocar nossas vidas em perigo. Temos segurança.
Abaixo, mas dois aspectos da coisa. Não é lindo?
Então, para caminhar em Porto Alegre, há que olhar para baixo a fim de que se desvie dos milhares de cocôs de cachorro onipresentes em nossas calçadas, para cima a fim de se ver arte urbana e para a frente a fim de que possamos evitar choques com outros pedestres assim como atropelamentos. Desta forma, olhando o mundo como fazem os peixes — as maravilhas podem estar ao lado, em cima ou abaixo — sugiro uma caminhada lenta para que se possa fruir adequadamente Porto Alegre, a cidade que é demais. Isso, é claro, se houver iluminação.
Caro Milton,
Os cabos aos quais te refere não tem nada a ver com a CEEE. Trata-se de Cabos Telefônicos rompidos aos quais as companhias telefônicas, em especial a Oi, não fazem mais a manutenção, portanto o título do artigo deveria ser:
A arte urbana da Porto Alegre da Oi/GVT e do prefeito José Fortunati (não sei bem o que ele tem a ver com o assunto. Talvez devesse baixar um decreto multando as companhias em milhões caso não retirem os cabos em dois dias, por exemplo….)
Amigo Irineu.
Talvez a CEEE não tenha nada a ver com o assunto, mas creio que Fortunati tenha sim. Afinal, de quem são os postes? E por que não se cria uma lei que obrigue a enterrar os fios?
Prezados, que eu saiba, os fios/cabos até podem não ser da CEEE, mas os postes que os sustentam são sim de propriedade da ilustre companhia gaúcha e, se não me falha a memória, ela ALUGA-OS para que outras instituições os utilizem. Ou seja, a CEEE é sim responsável pela locação dos ditos cujos, e, portanto, coautora das belíssimas instalações distribuídas pela querida capital gaúcha! [p.s.: assumam as responsabilidades que lhes cabem, por favor!]
A CEEE indiretamente tem uma parcela de “culpa”, pois trocou o poste deixando tudo solto com está. Bem onde agora é o emaranhado estava o poste antigo dando suporte à “instalação”. Moro quase ao lado e vislumbro diariamente a instalação a céu aberto. Isso sempre torna meu dia mais alegre diante de tanta estética!! (ironia)
Este é apenas UM das instalações de “arte”. Também tenho o costume de caminhar pelas ruas e a quantidade de fios pendentes de postes é enorme! Aliás, vamos resumir: Porto Alegre está jogada às traças.
A primeira coisa que me chamou atenção quando fui à Europa pela primeira vez foi a ausência de fios (elétricos, telefônicos, tvs cabo, etc). nos postes. Tal qual na maioria das cidades americanas. Se não me engano a Alemanha é o país com maior percentual de fiação subterrânea em todo o mundo.
Talvez seja uma das intervenções urbanísticas mais necessárias em nossas grandes cidades, par e passo com o aumento dos transportes de massa.
De fato, esses cabos “artísticos” são de uma irresponsabilidade quase que criminosa.
Já quanto aos milhares de cocôs de cachorro nas calçadas, eu diria que é sobretudo uma questão de consciência individual e de cidadania. Afinal, quem gosta de passear com seu cão em lugares públicos, que limpe a sua bosta.
No meu bairro é bem pior que isso. Reclamei e a prefeitura notificou as telefônicas mas durou pouco. Falta fiscalização que não é da Ceee. Que tal ilustrarmos esta postagem com fotos dos nossos bairros.
“…a confusão que nos atinge vem de esferas mais altas…”
Em 30/06/2015, o capixaba Ferraço – o capacho do Serra – levou um entucho público, do comunista Haroldo Lima, que entrou nos anais da República.
Milton estás desinformado: este ano temos a BIENAL MERCOSUL em Porto Alegre. Trata-se de uma (literalmente) INSTALAÇÃO COM INTERFERÊNCIA URBANA, que convida o expectador a interagir com a obra denomindada “A caótica comunicação de MASSA”
Disse um crítico de arte:
“A caótica comunicação de MASSA” é aquela coisa da sustentabilidade que se sustenta no sustentável, aquele significante a ditar significações insignificantes, mas fundamentalmente com uma estética adepta do dogma que quanticamente está associado a uma gambiarra fugidia.
Isso não é exceção, nem um caso isolado, isso é procedimento padrão da CCEE. No bairro que trabalho trocaram todos postes e deixaram todos assim. Se tivesse como compartilhar as fotos da linda galeria a céu aberto com várias dessas instalações e intervenções urbana eu compartilhava .