A arte urbana da Porto Alegre da CEEE e do prefeito José Fortunati

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Eu e Elena costumamos caminhar sem rumo pela cidade. Ela diz que este hábito, realizado sem objetivos ou horários, dá-lhe uma tranquilizadora sensação de férias. Eu aderi. E, assim, é normal irmos para qualquer lado ou lugar, entrando nas exposições, livrarias, restaurantes e cinemas que quisermos, de forma desprogramada, só pela curiosidade. É uma bela interrupção, uma fuga da correria.

Uns dez dias antes, em nossas andanças, já tínhamos visto aquilo, mas achamos que era temporário e não valia o registro. Não era. Então, ao meio-dia do sábado passado, após visitarmos um restaurante tailandês da Rua Miguel Tostes, em Porto Alegre, vimos novamente a coisa. (A propósito, o tailandês é muito bom, mas fica melhor ainda com o desconto do Mobo. A foto de nossa refeição — abacaxi recheado de camarões — está abaixo. Aquelas flores também são comestíveis e a pimenta, apesar de docinha, transforma qualquer um num dragão.)

Mas voltemos a nosso tema.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Depois seguimos na direção da Av. Protásio Alves e do mundo para ver que aquilo não era temporário, mas uma instalação elétrico-artística urbana, uma coisa da arte, com significado e beleza obscuros. Na altura do nº 934 da Miguel Tostes há um emaranhado de fios ao lado de um poste (foto abaixo). Trata-se certamente de uma metáfora de nossas vidas, pois permanecemos em pé, apesar da inextricável floresta de estímulos e problemas. Só alguém tão alto quanto o prefeito Fortunati (1,98m, quase um poste) poderia ter tido esta ideia maravilhosa. A coisa começa lá em cima, perto do céu, e desce até nós, pedestres, através de um aparelho especial, que nos faz concluir que a confusão que nos atinge vem de esferas mais altas.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

A coisa certamente não é perigosa, então podemos brincar com as partes da geringonça que vão até quase o chão. Não tive coragem de tocar na instalação — afinal, se os museus fechados não apreciam que metamos a mão nas obras de arte, cumpre seguir a regra –, mas o instrumento tem um simpático ar de Lego decaído.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Porém, se sou um adulto treinado em museus, a maioria das crianças não é. Certamente meus sete leitores permitiriam que seus filhos brincassem com a peça, puxando-a para baixo junto com os fios que a sustêm. Em nossa cidade, ninguém seria irresponsável a ponto de colocar nossas vidas em perigo. Temos segurança.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Abaixo, mas dois aspectos da coisa. Não é lindo?

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

Então, para caminhar em Porto Alegre, há que olhar para baixo a fim de que se desvie dos milhares de cocôs de cachorro onipresentes em nossas calçadas, para cima a fim de se ver arte urbana e para a frente a fim de que possamos evitar choques com outros pedestres assim como atropelamentos. Desta forma, olhando o mundo como fazem os peixes — as maravilhas podem estar ao lado, em cima ou abaixo — sugiro uma caminhada lenta para que se possa fruir adequadamente Porto Alegre, a cidade que é demais. Isso, é claro, se houver iluminação.

Foto: Elena Romanov
Foto: Elena Romanov

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12 comments / Add your comment below

  1. Caro Milton,

    Os cabos aos quais te refere não tem nada a ver com a CEEE. Trata-se de Cabos Telefônicos rompidos aos quais as companhias telefônicas, em especial a Oi, não fazem mais a manutenção, portanto o título do artigo deveria ser:

    A arte urbana da Porto Alegre da Oi/GVT e do prefeito José Fortunati (não sei bem o que ele tem a ver com o assunto. Talvez devesse baixar um decreto multando as companhias em milhões caso não retirem os cabos em dois dias, por exemplo….)

    1. Amigo Irineu.

      Talvez a CEEE não tenha nada a ver com o assunto, mas creio que Fortunati tenha sim. Afinal, de quem são os postes? E por que não se cria uma lei que obrigue a enterrar os fios?

      1. Prezados, que eu saiba, os fios/cabos até podem não ser da CEEE, mas os postes que os sustentam são sim de propriedade da ilustre companhia gaúcha e, se não me falha a memória, ela ALUGA-OS para que outras instituições os utilizem. Ou seja, a CEEE é sim responsável pela locação dos ditos cujos, e, portanto, coautora das belíssimas instalações distribuídas pela querida capital gaúcha! [p.s.: assumam as responsabilidades que lhes cabem, por favor!]

      2. A CEEE indiretamente tem uma parcela de “culpa”, pois trocou o poste deixando tudo solto com está. Bem onde agora é o emaranhado estava o poste antigo dando suporte à “instalação”. Moro quase ao lado e vislumbro diariamente a instalação a céu aberto. Isso sempre torna meu dia mais alegre diante de tanta estética!! (ironia)

  2. Este é apenas UM das instalações de “arte”. Também tenho o costume de caminhar pelas ruas e a quantidade de fios pendentes de postes é enorme! Aliás, vamos resumir: Porto Alegre está jogada às traças.

  3. A primeira coisa que me chamou atenção quando fui à Europa pela primeira vez foi a ausência de fios (elétricos, telefônicos, tvs cabo, etc). nos postes. Tal qual na maioria das cidades americanas. Se não me engano a Alemanha é o país com maior percentual de fiação subterrânea em todo o mundo.
    Talvez seja uma das intervenções urbanísticas mais necessárias em nossas grandes cidades, par e passo com o aumento dos transportes de massa.

  4. De fato, esses cabos “artísticos” são de uma irresponsabilidade quase que criminosa.

    Já quanto aos milhares de cocôs de cachorro nas calçadas, eu diria que é sobretudo uma questão de consciência individual e de cidadania. Afinal, quem gosta de passear com seu cão em lugares públicos, que limpe a sua bosta.

  5. No meu bairro é bem pior que isso. Reclamei e a prefeitura notificou as telefônicas mas durou pouco. Falta fiscalização que não é da Ceee. Que tal ilustrarmos esta postagem com fotos dos nossos bairros.

  6. “…a confusão que nos atinge vem de esferas mais altas…”

    Em 30/06/2015, o capixaba Ferraço – o capacho do Serra – levou um entucho público, do comunista Haroldo Lima, que entrou nos anais da República.

  7. Milton estás desinformado: este ano temos a BIENAL MERCOSUL em Porto Alegre. Trata-se de uma (literalmente) INSTALAÇÃO COM INTERFERÊNCIA URBANA, que convida o expectador a interagir com a obra denomindada “A caótica comunicação de MASSA”

    1. Disse um crítico de arte:
      “A caótica comunicação de MASSA” é aquela coisa da sustentabilidade que se sustenta no sustentável, aquele significante a ditar significações insignificantes, mas fundamentalmente com uma estética adepta do dogma que quanticamente está associado a uma gambiarra fugidia.

  8. Isso não é exceção, nem um caso isolado, isso é procedimento padrão da CCEE. No bairro que trabalho trocaram todos postes e deixaram todos assim. Se tivesse como compartilhar as fotos da linda galeria a céu aberto com várias dessas instalações e intervenções urbana eu compartilhava .

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