Peguei apenas em parte — ainda bem — a Reforma do Ensino de 1971 que unificou o antigo primário com o ginásio, criando um curso de 1º grau de oito anos, hoje chamado de Ensino Fundamental, que “instituiu a profissionalização universal e compulsória no ensino de 2º grau, visando atender à formação de mão de obra qualificada para o mercado de trabalho”. O texto do artigo tem um ar de coisa temporária, mas várias de suas características perduram até hoje.
É um tema que me fascina — desculpem, sou fascinado por todo gênero de decadência. Penso que foi ali que começou o apavorante declínio cultural de nosso país. Minha mulher nasceu na Belarus e ficou estarrecida com o nível das escolas onde matriculou seus filhos quando emigrou para o Brasil. O mesmo acontece com os amigos uruguaios que conheço. Eu era aluno de um colégio público de excelente nível, o Júlio de Castilhos, e vi bem de perto o começo do desmonte do ensino público no país. Hoje, minha escola é exemplo negativo.
Lembro que uma das justificativas utilizadas para a profissionalização à fórceps era a de que Jesus Cristo fora carpinteiro… Sim, os milicos disseram isto, lembro bem. O resultado desta troca da educação generalista pela técnica é a tragédia que vemos.
Pois a incultura está por todo o lado, disseminada. As escolas particulares são igualmente muito deficientes, são uma falsa salvação para os filhos da classe média. Domingo passado, dei uma olhada de leve nos manifestantes e a desinformação estava plasmada nas faixas e na postura geral. Nossa ignorância perdeu de vez o pudor. Fico pensando nos meus amigos esclarecidos de direita. Devem estar envergonhados com certas coisas que foram ditas e mostradas. Mas não creio que seja muito inteligente ridicularizar os manifestantes por sua idiotia e equívoco. Essa gente faz barulho e é numerosa. Portanto, têm considerável poder. E votos. Este é o principal motivo pelo qual sou contra o voto obrigatório. Somos governados pelas pessoas eleitas por uma maioria que sabe pouco sobre a política do país. Daí, nosso Congresso… Bem, mas eu dizia que não é muito inteligente ridicularizá-los, é necessário entendê-los. Só não sei como. Cadê a lógica? As leis de formação de seus pensamentos?
Neste fim de semana, soube que um presidente de uma Associação de classe tinha pedido demissão. Acompanhava seu caso de longe. Iniciou defendendo os interesses do grupo que representava. OK. Logo, enrolado pelos chefes e confuso, perdeu alguns apoios ao dar suas primeiras pelegadas. Evangélico, invocou a família e a Bíblia para justificar-se. Também foi assessorado por uma pessoa que se candidatou nas últimas eleições — esta também sem nenhuma formação e informação política. Recentemente, às portas de uma greve, nosso personagem deu outra pelegada por puro medo, desobedecendo a base e, finalmente, teve que se demitir do cargo. O pior é que está por aí, dando discursos cheios de razão, com a cabeça erguida de ignaro orgulho, a Bíblia na mão e a família como bengala. Vou lhes contar.
Há muita gente boa, gente que é autodidata, acadêmica ou simplesmente inteligente. Mas nota-se sinais de decadência cultural em todo o lugar. Na música que se ouve, na lista de livros mais vendidos, nos aplausos fora de hora, no não entendimento de noções um tantinho mais complexas, nas caixas de comentários, na utilização indiscriminada dos conceitos do politicamente correto.
O desmonte da educação foi feito em poucos anos. Em menos de dez anos a coisa estava feita. Mas penso que, para voltarmos aos níveis dos anos 60, precisaremos de uns 50 anos, porque até os professores são péssimos atualmente. Tudo deveria começar por melhores professores. Enquanto isso, estaremos no Reino da Asneira.
Na realidade o voto não é exatamente obrigatório. O comparecimento às urnas é que é obrigatório. No momento em que disponibiliza-se opção de voto em branco ou nulo qualquer eleitor tem o direito de excluir-se do processo de escolha. Somente os votos válidos contam.
Seria ótimo se se excluíssem…
Milton
A situacão da educacão fundamental é muito séria. Para os pouco otimistas, pode parecer mesmo uma situacão irrevogável pelas três ou quatro próximas geracões.
Comecar por bons professores, nao sei se adianta. Meu irmão, formado em Matemática pela Unicamp, desistiu de dar aulas na rede estadual depois de alguns meses de tentativa. Ele me disse que alunos do sétimo ano não tinham conhecimento que era possível fazer 3 – 4, achavam que tal operacão não fosse impossível. Como poderia existir um número menor que 0? Um professor, por melhor que seja, nao consegue salvar uma turma em tal situacão. Não vou nem mencionar os episódios de enfrentamento e violência dos alunos em relacão aos professores, estes são muitos e de níveis tão baixos que uma pessoa “normal” nem poderia imaginar.
Na minha opinião só uma política de Estado em favor da educacão daria conta de resolver a situacão, ainda assim, depois de uns 150 anos (50 anos me parece extremamente otimista).
Minha mãe também foi professora, tenho dois tios que são professores, te digo, eles foram e são bons profissionais. Um exército de bons professores ainda não consegue salvar a situacão, a conjuntura é simplesmente a pior possível, em todos os aspectos, do papel higiênico à folha salarial. Desculpe o pessimismo mas meu desalento com relacão a esse assunto é total.
Sal, dei aula de matemática na periferia de Porto Alegre. Foi um trabalho voluntário. Eu apenas ajudava e mesmo assim fui ameaçado. Sei como é. Passei um mês ensinado a divisão… A situação é duríssima. Não sei como os professores aguentam. Tinha gente que berrava a esmo na sala de aula. Parecia um hospício. Nem sei o que dizer.
Como diria Renato Goda… “nasci para chorar … é hora de chorar…”.
Duas “cositas”
a) Soube via e-mail do “face” que você fez aniversário. Então bons vinhos…
b) sobre educação: o Ifes (Instituto Federal do ES) foi considerado a melhor escola pública brasileira, em 2014.Tal honraria foi devida a duas personagens: Lula e Dilma. Todavia, os coxinhas continuam a perambular pelas terras capixabas…A lavagem cerebral foi profunda…
Esqueci-me de alguns detalhes: i) levando em consideração as escolas privadas, o Ifes está entre as vinte melhores do Brasil; ii) foi a primeira vez, na história capixaba, que uma instituição de ensino atingiu projeção nacional…