Nos dias de aniversário, sempre saio da cama quando minha irmã me liga. É uma tradição: ela faz de tudo para me dar o primeiro Feliz Aniversário do dia e faço o mesmo com ela. Hoje, ela me ligou às 7h30. Para seus padrões, foi uma ligação tardia. Disse que estava finalmente frio e gostoso de ficar na cama. (Acho que ela, como eu, deixa o telefone um pouco longe a fim de que ele nos obrigue a levantar para desligar o despertador. Então, fica impossível ligar ou receber ligações na cama). Reclamou que a Elena tinha me dado os parabéns ainda ontem que isso era ilegal. Disse mais, disse que ficava assustada quando tinha que dizer sua idade, pois sua sensação interna é de juventude.
A minha também. Muitas vezes fico olhando aquela cara no espelho e o que vejo não bate com o que sinto. Melhor olhar pouco. Ainda mais agora que a Elena parece ter me dado uma injeção de juventude. Mas, enfim, são 58 anos, e eu sinto como se tivesse muito menos. Ontem ainda resolvi que ia conhecer um novo escritor, o japonês Yasunari Kawabata. Comprei dois livros dele no Mauro e ontem mesmo li as primeiras páginas de As Belas Adormecidas. O livro é de enorme sensibilidade e prestem atenção ao tema — que vai aqui sem talento e sem spoilers. Kawabata narra a história do velho Eguchi, de 67 anos, que descobre uma espécie de prostíbulo onde se paga para observar meninas virgens dormindo. Cada uma dessas meninas faz com que despertem diferentes memórias no velho, memórias de tempos mais felizes e viris. E elas nunca acordam para ele. Eu lia aquilo e pensava em como aquela história estaria longe de mim. Longe uma ova, como diria a Luciana Genro. Mas não cheguei lá. Nem perto, I hope.
Mas eu falava em juventude… Então informo que sigo o mesmo bobo alegre, há algum tempo na versão senhor, apesar da Elena me chamar de menino. Espero continuar trabalhando, lendo, ouvindo e enchendo o saco. E amando, porque assim tudo fica mais colorido. E mando um abraço à oposição. Sei que um Diabo como eu só se justifica se houver deuses.
No
Novamente, bons vinhos…
Deixo-te um exemplar…:
é um verde vinho capixaba…
ALDEIA MARÍTIMA
by Ramiro Conceição
Construíram uma aldeia… no mar.
Construíram uma esperança no mar.
Construíram uma civilização no mar.
Mas muito cuidado… com os piratas
que vilipendiam qualquer educação,
qualquer esperança, qualquer aldeia
marítima.
Parabéns…e aqui vai um pequeno poema do Maestro Benedetti
Cuando éramos niños
los viejos tenían como treinta
un charco era un océano
la muerte lisa y llana
no existía.
luego cuando muchachos
los viejos eran gente de cuarenta
un estanque era un océano
la muerte solamente
una palabra
ya cuando nos casamos
los ancianos estaban en los cincuenta
un lago era un océano
la muerte era la muerte
de los otros.
ahora veteranos
ya le dimos alcance a la verdad
el océano es por fin el océano
pero la muerte empieza a ser
la nuestra.
Lindo e verdadeiro.
“Sei que um Diabo como eu só se justifica se houver deuses.”
É uma ótima frase. Acho que vou usar para situações de minha própria vida.
Que tipo de diabo tu serias? O Demônio da Luxúria? Da gula? Da preguiça?
O “pobre-diabo”? Ou aquele que sabe mais por velho do que por diabo?
Abraço e saudade de conversar contigo.