Características do conservadorismo que vem chegando: cotista agredido e professora ameaçada

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NerleiNão gosto da utilização moderna do termo fascismo, mas, às vezes… Afinal, nos últimos dias, pessoas foram atacadas por andarem de vermelho, por estarem num bar e serem supostamente petistas, por usar barba, e por serem indígenas e cotistas. Porém, gostaria de escolher outro termo porque uma característica essencial do fascismo é a repressão a manifestações populares que divirjam ou questionem o Estado. No fascismo a política é militarizada. Ele também é ufanista, há o culto da ordem, da grandeza do país e da força do líder. Protestar contra o governo nas ruas, mesmo quebrando tudo, não é fascismo. Já a polícia brasileira, matando como mata, está mais próxima da definição original.

O conservadorismo que cavalga em nossa direção não tem um líder claro, apenas mostra uma face de estúpida e intolerante. No último sábado, houve uma agressão muito violenta a um cotista indígena. Trata-se do estudante de veterinária Nerlei Fidelis, indígena Caingangue e cotista da UFRGS. Ele foi agredido por um grupo de rapazes que, segundo testemunhas, seriam estudantes de engenharia daquela universidade e mais um estudante da PUCRS. A agressão ocorreu na frente da Casa do Estudante da UFRGS, no centro de Porto Alegre. Segundo Nerlei, tudo aconteceu quando o grupo de rapazes começou a provocá-lo dizendo “o que estes índios estão fazendo aí?”, o que gerou uma discussão e em seguida as agressões. Imagens da câmera de segurança da moradia mostram Nerlei, acompanhado de seu sobrinho, Catãi, sendo brutalmente espancado a socos e chutes, mesmo caído.

Se você quiser ver o absurdo, basta clicar no link abaixo. O vídeo não está no Youtube, apenas no Facebook, infelizmente.

Em outra linha de tiro, uma professora de História que não quis se identificar viu-se obrigada a demitir-se de um colégio por ensinar “Comunismo” em seu perfil pessoal do Facebook. O que ela escreveu? Apenas isto que segue:

Hoje vi crianças numa escola, vestindo preto e pedindo golpe. Desprezando a democracia e exalando ódio. Parece que não conseguimos escapar do que Marx profetizou quando disse que a História se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa…

Pode-se discordar dela, mas é uma manifestação privada. A reação de alguns pais, responsáveis e alunos foi imediata e violenta, também via redes sociais. Assustada, a professora deletou seu perfil do Face e sumiu das redes. Para minha surpresa, o colégio saiu em defesa dela e afirmou que não aceitou o pedido de demissão. “O colégio é solidário à professora e repudia a incitação ao ódio”, disse, em nota, a assessoria de imprensa da instituição. Parabéns.

O que vem por aí? Onde erramos? Certamente, uma das principais falhas foi a educacional. Como escreveu a historiadora Nikelen Witter, “talvez tenhamos errado quando aceitamos que reduzissem a carga horária da nossa disciplina porque, afinal, matemática, português e todas as outras são mais importantes que o que temos a ensinar… Engraçado é que o aumento das cargas horárias dessas disciplinas não nos deu crianças mais hábeis na língua portuguesa ou nas exatas. Porém, a menos aulas de História estão dando nisso que se está vendo”.

Eu assino embaixo e por todos os lados. Nossa ignorância é crescente e avulta na sociedade de forma cada vez mais preocupante. Além da violência contra as “pessoas diferentes” e divergentes, haverá outras contra os direitos trabalhistas. As empresas, que financiam um Congresso que apenas as representa, vêm com tudo, aproveitando-se do momento de fraqueza do governo e do foco absoluto no impeachment. Preparem-se. Acho que os sindicatos e trabalhadores devem ligar as luzes de alerta em vermelho piscante.

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9 comments / Add your comment below

  1. Milton, uma característica fundamental do fascismo é justamente à existência um bode expiatório que deve ser punido até a aniquilação.
    E tal bode pode pertencer a várias categorias que o fascista cria em sua concepção de mundo doentia…Pode ser um partido político, uma opção religiosa, a falta de religião, uma opção sexual, uma etnia, uma nação et caterva.

  2. Não por acaso me deparei com um colega de curso de veterinária pelo Facebook. Fazia 28 anos que não o via nem tinha notícias dele. Além daquele pastiche todo de louvação a Moro e os lemas de guerra automáticos contra Dilma e Lula, vi no seu Face um link para uma espécie bastante histriônica de seita de ultra-direita. Não me lembro o nome e nem me disporia a dizê-lo aqui, mas era algo como a Nova Acrópole ou coisa que o valha, com o nome do guro em letras gregas no cabeçalho. O texto era sobre o quanto os intelectuais fazem mal para a sociedade, e vinha a foto do José Saramago. O texto é uma pérola, orienta para não se levar os intelectuais a sério, pois todos são uns recalcados que querem que todo mundo seja pobre, etc, etc. Era de dar ganas de rir. O assombroso é que a caixa de comentários estava lotada, beirando os 300 comentários, e todos adorando as palavras do mestre.

    É de assustar, mas eu tenho sempre em mente as palavras do Umberto Eco sobre o quanto o estúpido se agracia por poder vociferar livremente suas crenças pela web, o que antes ele apenas fazia em conversas de bar. Isso sempre existiu. Me vem também a reflexão do Sr. Sammler de que o mundo se tornara um inferno com miasmas de distorção e ideias assassinas, e que o homem esclarecido deveria ser treinado em suportar.

  3. Olha, a situacao está muito crítica mesmo. Ouvi comentários que esse caso da professora é mimimi da imprensa. As pessoas invocam a palavra “comunista” como uma forma de insulto sem nem saber o significado dela.
    Acho que a crise política está a revelar as piores faces da sociedade brasileira, intolerancia, preconceito, hipocrisia, tudo bem plantado e crecendo vigorosamente na ignorancia reinante. Pior hein, essa ignorancia a que me refiro nao tem qualquer tipo de preconceito, conheco gente considerada bem formada e com cada opiniao de dar medo.

  4. Os ânimos andam muito exaltados mesmo. Mas não há santos nem demônios nessa história. A estupidez não tem ideologia.

    Dia desses eu escrevi nos comentários de um vídeo publicado no perfil (não oficial) do Atlético Mineiro que os insultos dirigidos ao Dep. Rogério Correa (PT/MG) exibidos no vídeo (ele estava no meio da torcida) eram muito desrespeitos e poderiam provocar agressões físicas desnecessárias. Ali era um cidadão comum apenas e não merecia passar por isso, pois há sempre um idiota que acaba passando dos limites. Até acho direito do povo insultar políticos numa manifestação (embora eu não participe de nenhuma), tal como fizeram com Dilma, Aécio e demais, por exemplo. Fora da “polis”, digamos assim, acho indevido.

    E nem venha me dizer que isso não ocorre no outro lado. Basta lembrar de como Marx era sutil nos artigos e editoriais os quais ele assinava! Faria Bolsonaro parecer ponderado.

  5. Ramiro Conceição 23/03/2016 às 17:29
    O Teori enquadrando o Moro… O colegiado do STF a enquadrar o Gilmar… Dilma a dizer que não renuncia… E o Lula, agora, fora da lista da Odebrecht…. Sem triplex… Sem sítio… Só com dois pedalinhos…

    Assim não dá… Assim não dá…

    Vai ter coxinha a enforcar-se pra todo lado… Vai ter coxinha querendo fazer picadinho do Reinaldo Rola-Rola… da Veja… Vai ter coxinha a fazer sopinha com a Leitoa da Globo… Vão fazer sashimi do Bonner… Feijoada ao lombo do Alexandre Garcia…buchada ao Sardenberg… Mortadela com gordurinhas do Waack… Linguiça com o reto do Jabor…

    Vai ser um horror…
    U M H O R R O R…

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