“Ignoro tudo o que venha daquele canalha”, escreveu Tchaikovsky em seu diário em 1886. “É um idiota sem talento!”.
Mas não era verdade, Tchaikovsky não ignorava nada que viesse de Brahms. Conhecia muito bem a obra daquele que considerava seu oponente e parecia ter muito a dizer sobre ele.
Johannes Brahms, mesmo sem ser tão direto quanto o russo, também não parecia gostar muito da música de Tchaikovsky. Ele assistiu um ensaio da Quinta Sinfonia de Tchai e adormeceu.
Embora compartilhassem a data de aniversário — 7 de maio, sendo Brahms, nascido em 1833, sete anos mais velho — eles ilustram pólos opostos do espectro de composição. Brahms foi o grande classicista, o construtor de uma densa e particular música de câmara e sinfônica, ao lado de quem Tchaikovsky parecia um emotivo.
“Irrita-me que esta mediocridade vaidosa seja considerada genial”, segue Tchaikovsky em seu diário.
As citações poderiam encher um livro. Por vezes, a aversão parece ser inveja. Também as coincidências no lançamento de concertos e sinfonias — lançadas quase sempre na mesma época e na mesma tonalidade — irritava a ambos os compositores.
“Brahms é uma celebridade; eu sou um ninguém. E, no entanto, sem falsa modéstia, eu lhe digo que me considero superior a Brahms. Eu, que honesto e verdadeiro, diria a ele: “Herr Brahms! Eu considero você seja uma pessoa muito sem talento, cheia de pretensões, totalmente desprovida de inspiração criativa. Para ver sua música eu simplesmente tenho que olhar para baixo”.
Talvez Tchai apenas detestasse a música germânica. Sobre Wagner, escreveu: “Após as últimas notas de Gotterdammerung, eu senti como se tivesse sido libertado da prisão.”
A ideia que Tchaikovsky tinha da música era simplesmente diferente: ele criava coloridas melodias, cheias de graça. Era leve e direto, enquanto Brahms estava interessado na arquitetura, em olhar a parte de trás da tapeçaria.
“Brahms, como personalidade musical, é simplesmente antipático para mim. Eu não posso suportá-lo. Não importa o quanto ele tente, eu sempre permaneço frio e hostil. É uma reação instintiva”, escreveu Tchaikovsky em outra carta. Ele não encontrou muitas companhias para dividir suas opiniões, talvez apenas Benjamin Britten tenha vindo em seu auxílio, décadas depois: “Não me refiro ao mau Brahms, é o bom Brahms que eu não suporto.”
Pois hoje, tais opiniões então longe de ser maioria. Brahms e sua música são quase universalmente amados por aqueles que ouvem música erudita.
Um crítico a época contra-alfinetou: “A música de Tchaikovsky soa melhor do que é; a música de Brahms é melhor do que parece”.
O Concerto para Violino de Brahms (1878) era um alvo particular de Tchaikovsky, talvez porque o seu fora escrito anos antes, em 1865, e mal recebido, ao contrário do de Brahms. (Hoje, o de Tchai é também aceito como uma obra-prima). “O Concerto para Violino de Brahms me atraiu tão pouco como tudo o mais que ele compôs”, escreveu Tchaikovsky em 1880 para seu patrono, Nadezhda von Meck. “É muita preparação para alguma coisa, muitas pistas de que algo vai aparecer em breve para nos encantar, mas nada acontece, só o tédio”.
Mais tarde, na mesma carta, vem a mais famosa citação sobre Brahms.
“É como um pedestal esplêndido para uma coluna, mas a coluna está faltando. Em vez disso, o que vem é simplesmente um novo pedestal.”
O surpreendente é que, quando os dois compositores se conheceram, gostaram um do outro.
Eles se encontraram no dia de Ano Novo de 1888, quando o violinista Adolph Brodsky estava ensaiando um trio de Brahms. Brodsky tinha recém estreado o Concerto para Violino de Tchaikovsky e ambos foram convidados para jantar após o ensaio.
Tchaikovsky entrou na sala enquanto a música ainda estava tocando, e depois do jantar, eles beberam juntos.
Tchai logo viu que Brahms estava fazendo o seu melhor para ser amigável e gostou disso. Eram muito diferentes, Tchaikovsky era elegante e fumava cigarros finos; Brahms vestia-se mal, tinha cheiro de charuto e restos de cinza na barba. Conversaram animadamente.
Brahms era conhecido por sua língua afiada. Uma vez, quando participou de um ensaio de um dos seus quartetos de cordas, disse ao violista, “Eu gostei dos tempos, especialmente do seu.”
Mas Brahms estava apaziguado naquela noite na casa de Brodsky, e eles beberam muito. Encontraram-se mais uma vez e beberam novamente.
“Brahms é uma pessoa excelente, educado e inteligente”, escreveu Tchaikovsky de volta à Rússia. No entanto, o fato nunca alterou sua opinião sobre a música de Brahms.
Na saída, após o jantar com os Brodskys, Anna Brodsky perguntou se ele gostara do que tinha ouvido durante o ensaio. “Não fique zangado comigo, meu querido amigo”, ele respondeu, “mas eu não gostei nem um pouco daquilo”.
(via, com muitas alterações)
Adorei a postagem. Altas baixarias entre os grandes mestres… Eu defenderia o Brahms, a quem o meu temperamento é muito mais afeito, contra o Tchai, mas o russo também mereceu o reconhecimento que tem. 🙂
Eu li esse texto do google translate.
Eu pelo menos nunca soube de outra pessoa que soubesse desse assunto. Mais na frente ele escreve que lamenta não poder ter sido amigo de Brahms. Olha nesse encontro também estava Grieg e a esposa que apareceram mais tarde. Segundo Tchai, na hora distribuir os lugares colocaram a senhora Grieg para sentar entre ele e Brahms, e o que ela disse que não teria a coragem de sentar entre dois grandes sujeitos, pelo que Grieg disse “mas eu tenho!”
o/