Ruína y leveza, de Julia Dantas

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ruina-350Gosto de resenhas curtas, mas acho que esta será pouca coisa maior do que o habitual.

Muitos de meus amigos elogiavam Ruína y leveza e faziam cara de espanto quando eu dizia que ainda não tinha lido. De certa forma, eles me enganaram. Não quanto à qualidade do livro, que é efetivamente excelente, mas quanto ao tema. Esperava uma espécie de “romance de viagem” pela América Latina, com descrições das minas de Potosí, de Nazca, do Salar de Uyuni, de Machu Picchu, misturadas com a vida sentimental da narradora, algo assim. Eles me falavam do livro e eu imaginava algo de inspiração goethiana ou hessiana, solitária e paisagística, sempre com a viagem como centro, abrindo espaço para uma viagem interior de auto-conhecimento. E pensava que talvez não fosse o livro mais adequado a este leitor… Só que Dantas me ganhou facilmente.

Porque é o inverso. A crise pessoal da personagem — fim de um caso amoroso, súbita demissão de seu trabalho como publicitária — é que a leva a viajar e as tais transformações e recomeço ocorrem como resultado dos contatos de Sara com figuras como a do argentino Lucho e a da peruana Carmem e não através de lições ou grandes frases forçadas. Ou seja, tudo parte da simples interação. Ponto para Dantas. Ou seja, não é um livro de um narrador solitário, apesar de Sara buscar ficar sozinha. Sim, escrevo uma resenha mais dizendo o que Ruína y leveza não é, mas a culpa é de quem me fez ler o livro…

E o que é o livro? É um livro sobre um processo de retomada da vida, de um recomeço. Da crise à retomada. Ele gravita em torno das experiências passadas e da viagem de Sara, uma narradora de voz muito sedutora e envolvente. Em segundo lugar, é um texto bem escrito, fluente, inteligente e realista. Os capítulos alternam entre as experiências da viagem e os motivos a levaram até ali. Então, boa parte do livro é urbana e porto-alegrense. Sara está deprimida, mas sempre permanece interessante e até divertida — o livro contém boas piadas e histórias. Não se trata de uma pessoa perdida e desesperada “que se encontrou”, pelamor.

A frase que parece dar título ao livro é do duro Lucho, que afirma: “Turistas voltam para casa com malas mais pesadas. Viajantes voltam com mais leveza”. Gosto especialmente da palavra leveza e a uso com cuidado. Na acepção que prefiro, ela não é confundida com simplicidade ou falta de profundidade, mas com delicadeza e viço. Mozart, para mim, seria uma mistura de leveza e ousadia. Julia Dantas a utiliza bem.

Recomendo a leitura.

Livro comprado na Bamboletras.

Julia Dantas em foto sem crédito encontrada na rede
Julia Dantas em bonita foto sem crédito encontrada na rede

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