Raul Ellwanger, em seu perfil do Facebook, raciocinou com lógica. Colocando-se no lugar do senador Lasier Martins, descreveu com clareza o que faria uma pessoa digna. Se Lasier garante e berra que sua mulher mente sobre as agressões que teria sofrido, deveria pedir licença do Senado, liberando-se do foro privilegiado. Ato contínuo, solicitaria investigação como cidadão comum pela Lei Maria da Penha. Seria exemplar, altivo, bonito, e talvez satisfizesse seus 2.145.479 eleitores, se estes estão realmente ligados em outra coisa que não no Jornal do Almoço.
Mas não. Ele se defende na tribuna, coisa que sua esposa não pode fazer, para gritar que o caso é “um conflito conjugal”, assunto da vida privada, e jurar que jamais agrediu uma mulher. Também acho que em problema de marido e mulher, não se deve meter a colher, mas houve uma denúncia então o caso virou um vaudeville, senador. É natural que a coisa esteja e seja pública, senador.
Hoje, soube que o escritor Luiz Paulo Faccioli criou um abaixo-assinado pedindo a renúncia de Lasier. Coloco o texto de Faccioli ao final deste post. Ele também clama por alguma grandeza por parte do senador. Não ocorrendo tal fato, tendo a pesar que Janice Santos não tem nada de louca — como acusou Lasier –, e que tem minuciosa razão em tudo o que disse. E desta vez nem vou nem reclamar que o Sr. assina coisas sem ler, tá?
Acabo de saber que, na contramão do combate à violência contra a mulher travado diariamente no país, a senadora Ana Amélia Lemos (PP) saiu em defesa do conterrâneo e ex-colega de RBS, senador Lasier Martins (PSD). “É muito difícil, num caso estritamente pessoal e particular, íntimo, porque é a sua palavra e a palavra da pessoa que o denunciou”, ela disse. Discordo, senadora, há corpo de delito e testemunhos. Não é briga de bugios.
Abaixo, o texto de Faccioli em seu abaixo-assinado:
Não fui eleitor do jornalista Lasier Martins na eleição para o Senado Federal, mas ele está sentado na cadeira de Senador da República para representar o estado do Rio Grande do Sul, portanto ele me representa, mesmo contra a minha vontade. Penso que, como cidadão gaúcho, estou no meu mais absoluto direito de exigir sua renúncia a partir de fatos recentes noticiados pela imprensa. Lasier Martins tem dado provas sobejas de que não honra o cargo que ocupa. Admite que assinou sem ler um documento de extrema importância, contrariando a razão de ser de sua atividade parlamentar e me deixando em dúvida sobre o que é pior, se verdadeiro o que ele afirmou ou se apenas uma mentira rasa para justificar a falta de caráter. Nesta semana foi obrigado a sair de casa, o apartamento funcional que o Estado paga para ele em Brasília, por decisão do STF, por causa de uma separação litigiosa e uma denúncia de agressão física por parte da esposa. Lasier Martins é uma vergonha e sua presença no Senado, uma afronta ao povo gaúcho! Haverá sempre alguém a argumentar que existem exemplos ainda mais vergonhosos protagonizados por Senadores vindos de outros estados da Federação. Mas eles não estão sob nossa jurisdição e não representam o RS nessa instância legislativa. Portanto, clamo aqui pela renúncia do Senador Lasier Martins, que será interpretada como um ato de grandeza e tentativa de salvar uma parte de sua questionável biografia.
Quando aconteceu todo aquele imbróglio com a Monga Letal, o Lasier fez um editorial no Jornal do Almoço, me chamando de quadrilheira e dizendo que todo o caso de acusações do meu envolvimento em fraudes da LIC não passava, além, claro, de desonestidade da minha parte, de uma briga pública de um casamento desfeito….O Universo se encarrega, ah se encarrega!!!
ESTARRECIDO!!!
É assim que me senti ao ler a coluna da jornalista Rosane de Oliveira sobre a suposta agressão praticada por um senador da República à sua esposa.
Passado o choque inicial, fui tomado de um estupor que me fez redemunhar, atônito.
Redemunhei, mas redemunhei tanto que preciso abrir alguns parênteses antes de seguir adiante.
Não existe em nenhum dicionário de português a palavra ‘Redemunhei’ que resolvi utilizar para descrever minha situação com o tema que vou abordar. Redemunhar (com ‘U’) é uma maneira de falar ‘redemoinhar’ que por sua vez é uma flexão de redemoinho.
Redemoinho é uma corruptela de ¨remoinho¨ que significa ‘remoinho’ ou um movimento de rotação em espiral.
Alguns desdobramentos recentes me fizeram alcançar o solo e tocar, mesmo que de leve, o pé no chão.
Um deles foi a decisão do Ministro Fachin de que o acusado deva sair de seu apartamento funcional enquanto rolam as investigações do caso.
Há um dito popular que define que em briga de marido e mulher não se deve meter a colher. Esta é uma visão antiquada e machista que deveria ser abandonada por razões óbvias.
A lei Maria da Penha é a afirmação legal que confirma uma tese. Uma mulher que sofre uma agressão, física ou verbal, deve ser socorrida e protegida de seu agressor.
Se há dúvidas quanto à agressão, a lógica que se impõe e deveria servir de base para quaisquer tomadas de decisões, inclusive a divulgação e posicionamento acerca do fato em si seria a de conhecer o fato evitando tomadas de posição que sugiram um ou outro lado estar com a razão.
Pois a matéria publicada já começa torta em seu título: “Estrago na imagem de Lasier”
Antes de se averiguar a veracidade das acusações feitas, a jornalista vaticina que a ‘imagem’ de um acusado de agressão estaria afetada. A possível vítima é descartada de pronto. Aconteça o que acontecer, comprovadas as agressões ou não, só há um envolvido prestes a ter sua existência comprometida. Descaracterizada a agressão, a imagem do acusado ficaria maculada. Comprovada, pouco nos importa como estaria a vítima.
Esta ideia está textualmente descrita ao final do segundo parágrafo: “mas o estrago na sua imagem está feito.” Às favas a possibilidade de ser real a acusação. A imagem do senador está comprometida.
A sequência do texto chega a ser mais surreal: “O foro privilegiado tanto beneficia quanto prejudica o senador. Se, de um lado, ganha tempo, de outro perde a oportunidade de provar de imediato que a acusação é falsa.”
Ao abordar o caráter particular da investigação que garante ao acusado o direito ao foro privilegiado, a jornalista deixa transparecer a ideia de que ao final do processo investigatório (se vier a ocorrer, já que depende de autorização do STF) só poderá comprovar a falsidade da acusação.
“Em política, a dúvida é corrosiva para a credibilidade.“ Decreta a colunista. E novamente, às favas a situação da acusadora. O problema é a credibilidade do senador sair arranhada.
O final é apoteótico. Em uma comparação sem comparação, ela sugere que a jornalista Janice Santos, assim como a modelo Luisa Brunet, que acusou seu marido de tê-la agredido com base na Lei Maria da Penha poderia estar, segundo a ótica dos acusados, buscando ‘arrancar dinheiro’ em um processo de separação.
Por fim, o que há de particular a este fato que o torna emblemático. Nada. Absolutamente nada.
Os envolvidos são jornalistas, trabalhavam na mesma empresa, detentores de um nível cultural e econômico privilegiado. Porém nada disto foi capaz de possibilitar a balança posicionar-se em equilíbrio. Não conseguindo resolver seus problemas dentro dos limites de boa convivência e ao trazer a público suas desavenças nos brindaram com outro fato terrível. O preconceito e machismo que nos empurra para conclusões de que, a priori, a mulher sempre estará em uma posição inferior ao homem.