Museu gaúcho retira preventivamente obra polêmica, veja fotos

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A fotógrafa Cibele Vieira, gaúcha radicada em Nova Iorque, escreveu em seu perfil do Facebook: It is a re-reading of Pietà. I painted it black. The photograph it is part of a series of photographs made from religious icons statues. Traduzo: é uma releitura da Pietà. Eu a pintei de preto. A fotografia é parte de uma série de fotos feitas de estátuas de ícones religiosos. 

Bem, a gente chega na mostra Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, atualmente em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), na Casa de Cultura Mario Quintana, e logo vê o sinal mais civilizado de nossos tempos de retrocesso.

24/10/2017 - PORTO ALEGRE, RS - Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21
24/10/2017 – PORTO ALEGRE, RS – Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21

Logo na entrada, vê-se uma série de corpos nus, coisa que pode ser vista na arte sacra de qualquer igreja. Aliás, o nu está presente em todos os museus do mundo ocidental.

24/10/2017 - PORTO ALEGRE, RS - Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21
24/10/2017 – PORTO ALEGRE, RS – Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21

A moça abaixo não estava escandalizada com as fotografias. Pelo contrário, parecia plácida. O público das exposições costuma ser quieto e educado. Ama ou desgosta sossegadamente. Não dá discursos, não berra suas opiniões, não impõe, não ameaça, não grita e não se escabela se vê algo que vai contra aquilo que acredita. Costuma ser assim.

24/10/2017 - PORTO ALEGRE, RS - Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21
24/10/2017 – PORTO ALEGRE, RS – Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21

Uma das qualidades da arte é o poder de desestabilizar, fazendo com que repensemos coisas, dando-nos um empurrão da zona de conforto. Por isso, a criatividade e a imaginação as eternas são inimigas de moralistas, conservadores e burocratas. Porque afronta valores.

24/10/2017 - PORTO ALEGRE, RS - Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21
24/10/2017 – PORTO ALEGRE, RS – Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21

O MBL se aproveita da falta de vivência do grande público com a arte, a qual é adubada pela ignorância endêmica promovida por um sistema falido de educação. Tais pessoas não conseguem dar-se conta de que pedofilia, zoofilia, etc. pressupõem desejo sexual e uma vítima, infelizmente. O pior é que tais acusações jamais poderiam ser mantidas após a observação atenta das obras de, por exemplo, Adriana Varejão, expostas no Queermuseu. As acusações simplesmente não conferem com as obras.

24/10/2017 - PORTO ALEGRE, RS - Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21
24/10/2017 – PORTO ALEGRE, RS – Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21

A situação é tão grave que, de forma preventiva, o curador Fábio Rheinheimer resolveu retirar uma foto de Cibele Vieira antes de que a citada exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea fosse aberta. A foto estaria no espaço em branco abaixo. Segundo Rheinheimer, a clara ausência da obra foi um protesto silencioso contra a violência dos conservadores.

24/10/2017 - PORTO ALEGRE, RS - Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21
24/10/2017 – PORTO ALEGRE, RS – Exposição Projeto de Pesquisa em Fotografia Contemporânea, em exibição no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Foto: Maia Rubim/Sul21

Tenho minhas dúvidas se acertaste, meu caro Rheinheimer. Creio que foi mais um recuo. Dar espaço (e respeitar e demonstrar medo) para este gênero de manifestação é um erro, é dar espaço à barbárie.. A foto em questão é a Pietá abaixo, pintada de preto pela artista gaúcha Cibele Vieira. Ela estaria, quase preta, entre diversas fotos de pênis e vaginas. O últimos ficaram, a Pietà sumiu. Estranho.

Pietá, de Cibele Vieira / Divulgação
Pietá, de Cibele Vieira / Divulgação

Eu acharia provocativa a montagem. E creio que ela poderia significar várias coisas além da leitura rasa da “agressão a símbolos religiosos”. Só que nós temos pouco amor à liberdade de expressão e ainda menos à cultura e à curiosidade. O artista? Ora, o artista quer que o público procure entender de alguma forma o que ele quis dizer através das formas livres e pouco comuns que usou. A atitude de retirar a foto foi, em minha opinião, autocensura, ou seja, censura. E nela está implícita o fato de haver uma enorme diferença entre pensar que uma obra é equivocada, errada, sublime ou maravilhosa ou de simplesmente não mostrá-la.

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