Por Samuel Sganzerla
Eu sei, fazia tempo que eu não aparecia por aqui, né?! Ocorre, Renato, que atletas de fim de semana também se lesionam às vezes. No meu caso, uma pelada com uns amigos há umas duas semanas me causou um edema ósseo no cotovelo direito (aquela TRINCADA básica). Como sou destro e fiquei bom o braço engessado por duas semanas, nem conseguia escrever e digitar. Felizmente, nada mais grave e já estamos de volta.
E que forma de voltar a conversar contigo por aqui, né?! Com uma goleada em casa que seguiu outra. O torcedor que foi à Arena nos dois jogos desta última semana comemorou dez gols (no meu caso, metade deles na arquibancada, ontem, graças à minha lesão). Um número impressionante, tal qual o futebol que o Grêmio vem jogando. 2018, que já começou muito bem, vem prometendo ser mais um ano memorável na história Tricolor.
Se na terça-feira a superioridade sobre o Cerro Porteño, adversário da Libertadores, foi muito evidente, no jogo de ontem não foi diferente. O que surpreende até mais no caso do Santos é que é um forte e tradicional rival nas competições nacionais e internacionais. Neste ano, o time paulista buscou um excelente e promissor técnico para comandar um elenco de qualidade e faz boa campanha na Libertadores. E não tomamos conhecimento de nada disso neste domingo.
Renato, uma goleada de 5 a 1 do Grêmio sobre o Peixe seria histórica em quaisquer circunstâncias. Mas, além de tudo aquilo que eu já disse, a forma com que ocorreu nos empolga inevitavelmente. Foi um baile durante os 90 minutos. Um Tricolor que colocou o adversário na roda, mantendo a posse de bola por dois terços da partida, quase sem errar passes, sempre no campo de ataque, criando oportunidades naturalmente e praticamente sem dar chances de ataque ao time santista. O famoso ARRODIÃO, na definição do dicionário ludopédico gaudério.
Com um pouco de paciência e muito trabalho, o Grêmio furou o bloqueio da defesa do Santos e abriu o placar com um chutaço do Maicon. Golaço do nosso Capita, que vem jogando o FINO da bola. Enquanto ainda comemorávamos, a equipe santista se aproveitou daquele momento de euforia e descuido para empatar o jogo logo em seguida. Um acidente de percurso, que em nada nos abalou.
E foi possível sentir isso forte nas arquibancadas, Renato. Aquele gol contra poderia ser um balde de água fria na torcida, mas a gente seguiu cantando, alentando e comemorando, como se não tivesse sido nada. Porque é isso que esse time fantástico do Grêmio causa na gente! O momento atual nos faz sentir essa vibração intensa, essa coisa que nos faz confiar incondicionalmente no time, acreditar que a vitória logo mais se desenhará.
Foi o que aconteceu, quando Everton nos colocou novamente em vantagem, no apagar das luzes do primeiro tempo. Veio o intervalo, e todos tínhamos expectativas boas para a segunda etapa. Naquele momento, o otimismo pelo futebol jogado trazia nas arquibancadas a certeza da vitória – e de que ali não é a melhor hora nem o lugar para abordar assuntos mais delicados, mas divago, que isso é história para outro dia…
O fato é que o Grêmio voltou com a mesma intensidade e, logo aos 10 minutos do segundo tempo, o Capita mostrou mais um recurso e fez outro golaço, agora de falta. E o ritmo de baile seguiu, em homenagem ao menino dançarino de valsa, que ontem o assistiu em lugar privilegiado – sim, Renato, o Luan tem razão sobre ele. Aliás, nosso Rei da América, em mais uma boa atuação, daria assistência para o gol de André logo mais. E o outro Rei, o magistral Arthur, fecharia a conta, para encher a mão do torcedor. Fim de jogo, goleada convincente e torcida para lá de feliz. Rumo à minha casa, fui travando uma longa reflexão comigo mesmo.
Sabe, Renato, havia um tempo em que eu acreditava que tudo daria certo para o Grêmio, assim como na vida (que são praticamente a mesma coisa, eu sei). Aquele guri que tinha recém saído da casa dos pais e descido a Serra rumo à Capital quebraria muito a cara no decorrer dos anos e também cometeria muitos erros. Felizmente, aprenderia alguma coisa com eles, talvez. Mas algo do qual jamais se arrependeu foi de carregar com orgulho esse sentimento pelo Imortal Tricolor.
Lá em 2016, quando saímos da seca e ganhamos a Copa do Brasil pela quinta vez, muito se falava nos tais “15 anos”. Eu só conseguia pensar na década. Nos 10 anos em que tinha vindo morar em Porto Alegre, justamente num ano que simbolizaria a virada da gangorra Grenal para o lado deles (não que isso me incomode… muito). Ontem, doze anos depois, gangorra de volta para o nosso lado, muito lembrei daquele maio de 2006. Do alto dos meus 18 anos, tinha certeza de que, mesmo perdendo, sendo eliminado e até rebaixado, no final, as coisas dariam certo para o Grêmio (e errado para o coirmão, porque era parte da aura do gremista criado nos anos 90).
Acreditava nisso, Renato, da mesma forma em que acreditava que as escolha de um recém saído da adolescência seriam todas acertadas. Ingenuidade típica do furor da juventude, regada a festas, dramas brevemente intermináveis e pouca responsabilidade. O que se preservou intacto, dentre as coisas daquele tempo, foi aquela palpitação no peito em cada ida às arquibancadas, do Velho Olímpico à nossa nova e atual morada.
Eu já não acho que todas as minhas escolhas serão acertadas, Renato. O que é muito bom, claro, assim como saber reconhecer as próprias falhas. Também já não sou um poço de romantismo e otimismo com a vida e com o mundo que, noutra época, eu queria mudar do meu quarto. Mas, de alguma forma, Renato, hoje, em maio de 2018, boa parte de mim, que vem aqui escrever sempre contra o sentimento de euforia, contraditoriamente voltou a acreditar que, no final, tudo vai dar certo para o Tricolor. Muito obrigado por isso, de coração! É nessas horas que eu relembro o real significado do Grêmio ser chamado de Imortal.
Saudações Tricolores!
E segue o baile…