Hoje é um dia especial para quem gosta de música sinfônica. Bernard Haitink — ainda em atividade — completa 90 anos. Acompanho sua carreira e gravações desde a adolescência e sempre o considerei um dos maiores. Por anos ele foi o regente titular da Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam (RCO). Vi-o em ação há dois anos e, coisa de fã, me preocupei com a escadaria que a sala da RCO tem para entrar e sair do palco. Bem, no ano passado ele caiu ali, mas se recuperou logo. Os aficionados tarados por música sabem dos perigos… Naquela noite, eu e Elena sentamos atrás da orquestra a fim de ver seus gestos. Posso lhes garantir que é impossível não entrar corretamente vendo seus avisos e seu gestual altamente musical. Aliás, isso é uma coisa que é indescritível — o rosto de quem sabe fazer música, como ele vai se transformando. Aos 90, Haitink está cheio de compromissos. Regerá muitos Mahler, Mozart, Beethoven e Bruckner neste inverno e primavera europeias, mas já avisou que vai tirar uma folga no verão e no outono. Somos vorazes de beleza e, após 65 anos de atividades, ainda queremos mais, Bernard! Afinal, fineza, elegância, sensibilidade e atenção aos detalhes e ao estilo não são coisas que se encontram facilmente, mas parecem ter vindo pré-instaladas na cabeça do maestro.
Feliz aniversário!
A medicina tinha que descobrir uma forma desse pessoal viver 150 anos. Um medicamento seletivo que, de acordo com a qualidade dos neurônios, desse mais ou menos décadas de vida ao paciente. Verissimo, Haitink, Boaventura, Chailly, Barenboim, Chomsky e outros viveriam bem mais, ao passo que você-sabe-quem comemoraria a próxima Páscoa no inferno.
Pois é. No meio do ano, ele vai tirar férias. Preocupação.