A Avoada e o Distraído, de Vanessa Silla e Cláudio Levitan

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Este é um livro decididamente desprogramado. Escrito a quatro mãos, cada autor escrevia um capítulo e passava ao outro, que não podia mexer no que não era seu, apenas deveria dar seguimento à história. É claro que, em algo escrito desta forma, há viradas súbitas, momentos em que notamos pequenas sacanagens feitas um para o outro, mas também vemos as deixas. Ah, os autores também não deveriam conversar um com o outro a respeito do texto. E assim foi feito durante os 80 capítulos do livro.

Vanessa Silla parece gostar de tecnologia, então vamos lá. Como se fosse um caso de inteligência artificial, um autor vai aprendendo com o outro o que cada um deseja contar e as narrativas vão se aproximando até chegarem a um belíssimo final. Realmente, aqui temos um final bonito e raro. Que não será contado por mim, é claro.

Porém, durante a narrativa, acontecem coisas verdadeiramente inacreditáveis, malucas mesmo. Tudo começa na Casapueblo. O que é o local? Ora, a Casapueblo é uma espécie de casa-escultura que fica em numa bela encosta de Punta Ballena, a 15 minutos de carro de Punta Del Este, no alto de um morro. Obra do pintor e escultor uruguaio Carlos Páez Villaró, foi construída em pedra e é imensa e meio doida. Lá há um Club Hotel e é possível visitar o ateliê do artista, assim como salas que expõem e vendem obras de arte, etc. No final de tarde acontece a Cerimônia do Sol, quando são recitados poemas de Villaró. Sua arquitetura parece privilegiar o acaso ou o imprevisível, certamente.

Que coincidência, não?

Bem, como disse antes, tudo começa na Casapueblo. Depois, a coisa decola em vários sentidos. Vai para Roma, Tel-Aviv, Cisjordânia e acaba — sem spoilers de nossa parte — novamente na Casapueblo. A atividade profissional de Bartolomeu é altamente duvidosa. Já a de Sirena é quase o mesmo. E os autores dão vazão a várias e divertidas livres-associações. O estilo avoado de Silla me pareceu uma verdadeira tempestade emocional (um abraço, Bion!), já o do distraído Levitan é mais formal. Silla arrisca-se mais em seu fluxo de ideias, Levitan puxa mais o freio. Silla é a futurista, Levitan, o passadista. Mas eles se entendem e o resultado é que li o livro (Class, 169 páginas, R$ 40) em um dia, sinal de que grudou e agradou.

Eles estarão na Bamboletras na quinta-feira (01/08), às 19h,  para um bate-papo sobre a experiência de escrever a quatro mãos, o livro, etc.

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