Vários dos músicos alemães mais importantes de hoje assinaram uma carta dirigida ao Ministro Federal da Cultura, na qual solicitam maior segurança para artistas menos conhecidos.
Abaixo, alguns trechos da carta:
“Nós, artistas conhecidos e não tão conhecidos, lembramos da frequência com que nos últimos anos fomos solicitados a aceitar cachês mais baixos (por exemplo, após a crise financeira) e a contribuir para a diversidade da paisagem cultural.
Na maioria dos casos, temos aceitado. Em troca, é imperativo fornecer, para todos os músicos fora da cultura subsidiada, as condições adequadas para que possam seguir dando suas valiosas contribuições à cultura”.
A carta é assinada, entre outros, pelas violinistas Anne-Sophie Mutter e Lisa Batiashvili, pelos cantores Matthias Goerne e René Pape e pelos maestros Christian Thielemann e Thomas Hengelbrock.
Enquanto isso, cadê a Regina sem Arte?
Acho que a situação toda é bem mais complicada que simplesmente “exigir” subsídio. Desde os anos 70 criou-se nos países germânicos um esquema piramidal em que a base é cada vez mais larga e a ponta cada vez menor e mais alta. Não cabe aqui discutir as razões, mas alguns dos supra-citados trabalham numa esfera de cachê com que nem Heifetz poderia sonhar; seus empresários administram suas carreiras como se fossem ídolos do esporte e beneficiam-se de um subsídio estatal descomunal para fins puramente particulares. Isso quebra o orçamento de orquestras e festivais e coloca artistas supostamente menores numa situação de extrema fragilidade. Se, por um lado, acho louvável que se preocupem com seus colegas menos favorecidos, acho bem interessante fazer isso com dinheiro público. Por que Anne-Sophie não usa de seu prestígio para organizar um um One World beneficente para os músicos?
Seria interessante as plataformas como Facebook, YouTube, Instagram, monetizar os artistas menos conhecidos. O processo de monetização é lento e gradativo, mais demorado do que o efeito da pandemia. ..seria um ato de bom senso! (Esperar pelo governo é esperár eternamente)
Marcelo Santos, discuti isso com colegas à exaustão no último mês. O fato é que existe conteúdo grátis de qualidade na internet suficiente para que o público possa passar anos sem ter de pagar para ver nada novo – inclusive porque, nesse caso, o novo seria também gravado, como a “live” nem um pouco ao vivo da Lady Gaga bem mostrou. Criamos um cenário meio suicida em que se espera que vídeos grátis tenham um número irreal de visitas para podermos monetizar nosso trabalho. Se não se negociar um outro esquema de repasse com as plataformas de streaming, teremos de pensar em outras formas de sobreviver. Inclusive porque tem uma concorrência brutal por atenção e um eventual público pagante provavelmente vai investir num recital online de Anne Sophie Mutter ao invés do excelente jovem violinista de quem ninguém ouviu falar