Deus e o Diabo em Terra Brasilis

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Eu chego em casa e tomamos café. Aqueles pães da Elena tornam a gente falante. O café incentiva ainda mais e, se não fazemos revolução na mesa do bar — até porque o bar é impossível –, começamos a pensar alto, inspirados por Dostô e sem álcool.

Dmitri Karamázov, personagem de ‘Os Irmãos Karamázov’, de Dostoiévski, diz: “Aí lutam Deus e o Diabo. E o campo de batalha é o coração dos homens”. Assim, Dostoiévski colocava em xeque os valores do humanismo em suas várias vertentes — cristã, idealista, materialista. No espaço psíquico é onde Deus e o demônio se revelavam. Era uma luta travada em silêncio, em espaço obscuro e inconsciente.

Na nossa crise atual, há outra luta, barulhenta e furiosa. Irritante, na verdade. Podemos chamá-la de uma luta entre a razão e a paixão ou crença. De um lado, há os cientistas nos alertando sobre o que fazer — isolamento, máscaras, cuidados –, de outro há os crentes — em Bolsonaro, na onipotência de que não pegará a doença, no espaço sagrado da igreja que impede a entrada do vírus.

Por mais que a luta dostoievskiana possa resultar numa vingança ou crime individual, o debate externo é pior, pois é tão social que pode arrastar a mortes. Hoje chegamos a 10.000, não?

Foi isso. Leu até aqui? Sua vida não mudou. Nem a nossa. Tô de boa com a ciência. Me cuidando para não ter nem aquela gripezinha de todo inverno, apesar de meu histórico de atleta… Aquela gripezinha… A minha, não a do Diabo.

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